A política pública mais regressiva

Tenho dois casais amigos que estão migrando para o Canadá. Pessoas com ensino superior e altamente produtivos.

Nos dois casos, frequentaram universidades públicas, gratuitas. Ou seja, o Estado investiu o dinheiro dos desdentados para que esses profissionais agregassem valor ao PIB canadense.

Este mesmo dinheiro poderia estar sendo usado para reforçar o ensino básico e, assim, melhorar um pouco as condições iniciais de milhões de crianças. Se isso estivesse sendo feito, talvez não tivéssemos chegado nessa situação de exportadores de mão-de-obra qualificada.

Mesmo com as cotas, nada garante que os formados nessas universidades não pegarão o seu chapéu e não irão embora.

Não consigo pensar em política pública mais regressiva do que a universidade pública gratuita.

Bom senso

O ano é 2015. Dilma Roussef acabava de ser reeleita e a batalha agora era pela presidência da Câmara.

Dilma, aconselhada pela sua prepotência, resolve bancar uma candidatura do PT, o deputado Arlindo Chinaglia. As vozes mais ponderadas da Câmara e do partido aconselhavam a presidente a entrar em um acordo com o Centrão. Em vão.

O deputado Eduardo Cunha foi eleito em primeiro turno. Chinaglia teve 136 votos, aproximadamente o mesmo número de votos que Dilma teve no processo do impeachment. O resto é história.

Bolsonaro tem quase 30 anos de Congresso. Neste erro primário parece que ele não vai cair.

Como funciona a máquina do WhatsApp

Post da página de Eden Wiedemann, alguém que aparentemente entende do riscado, não um chutador como eu.


Turminha, deixa o tio explicar umas coisas. Eu já trabalhei pro PT, algumas vezes, e contra o PT, algumas vezes. Sei como eles agem, pró e contra. Eu não voto no Bozo, mas jamais votaria no PT. Então vamos falar dessa tal denúncia de Caixa 2.

1. Se houver algum contrato de disparo de lado B assinado devem ir preso quem contratou e quem disparou, mas por burrice extrema. Quem faz esse tipo de serviço sabe que trata-se de crime eleitoral e faria de tudo pra não deixar registros.

2. O lado A de uma campanha digital a presidência custaria, bem pago, uns 8 milhões. Pra vocês terem uma ideia do que são 12 milhões nesse universo. 12 milhões de Reais daria pra gastar 2 milhões com produção de conteúdo (5x o valor necessário) e ainda disparar 1 bilhão de mensagens, ou seja, 5 para cada brasileiro. Não sei quanto a vocês, mas alguém recebeu 10, alguém ficou com as minhas.

3. Geralmente esse tipo de coisa é feita de números internacionais, mais difíceis de rastrear e mais fáceis de validar.

4. “Ah, mas eu recebi aqui de um número desconhecido, ele me manda há meses”. Meses? Semanas? Você está sendo vítima de seeding, gente que fica enviando mensagens no WhatsApp. Um número de disparo em massa é rapidamente bloqueado. Seeding não é crime, só é chato. Crime é quando alguém recebe pra fazer seeding e não aparece na declaração de contas do partido.

5. É bem complicado alegar que A ou B tem responsabilidade pelo que C ou D, sem vínculos oficiais com a campanha e sem ordens comprováveis, fizeram. Basta ver o caso do Piauí Gate onde “influencers” recebiam, dinheiro não declarado em campanha, para falar bem de candidatos ligados ao PT. Bastou esses candidatos dizerem que não sabiam de nada e não tinham autorizado pro assunto cair no esquecimento – mas está sendo investigado. Nesse ponto, mesmo que tenha acontecido – e não estou dizendo que não – é bem complicado provar e punir.

6. A matéria não apresentou uma única prova e fez suposições completamente erradas, como o custo do disparo. Nesse volume não custariam mais que 1 centavo, como já disse, e não 10 centavos, como disseram.

7. Tem que investigar mesmo se houve ou não e, se não, criticar severamente o jornalismo irresponsável. Houve? Dêem o Pulitzer a jornalista.

8. Não dá pra aplaudir Haddad dizendo que aconteceu Caixa 2 porque ele “leu em um jornal sério que aconteceu” quando ele mesmo, e o partido, são acusados de Caixa 2. Nem levar a sério alguém que diz que não existem provas contra Lula mas vê prova em matéria de jornal. Sejamos menos incoerentes e relativistas.

9. Ainda não consegui encontrar um único registro desses disparos para escrever um artigo. Apenas 5 pessoas disseram ter recebido (de minha rede), quatro delas são eleitores de Haddad, todos disseram ter apagado e não ter registro. Uma, que não vota em Haddad e nem em Bolsonaro, me mandou um print, mas completou com “faz semanas que recebo conteúdo desse número que não conheço”. Seeding? “Ah, mas eles disparavam pra grupos”, não, isso não é possível, não há base de dados de grupos e é impossível fazer spam pra eles sem fazer parte deles.

10. Eis que me refrescam a memória de que os disparos só iram acontecer semana que vem, oras, se não aconteceram de onde vem todo esse fake news que o PT alega estar o prejudicando? E se não aconteceu o crime como houve Caixa 2? E porque estão acusando empresários de um crime que não cometeram ainda? Não faz muito sentido, faz? Faz, não precisam do crime ou do fato em si, só do factoide para explorarem.

11. E, pra fechar, quem defende a democracia não pode defender tapetão. Vocês são melhores que “o fim justifica os meios”, né? Querendo ou não Bolsonaro está no segundo turno porque a população quer, se não houver de fato provas de que essa acusação é real não tem a menor coerência tentar impedir ou atrapalhar a eleição. Vamos acompanhar, se a coisa for seria a Folha deve publicar provas. Tenho todo interesse no caso.

A campanha pelo WhatsApp

Tirei (eu, pessoalmente, não recebi de ninguém) esta foto hoje pela manhã.

É a tela do celular de um colega de trabalho, que foi adicionado à revelia em um grupo de apoio ao Haddad.

Ele, assim como vários outros que foram adicionados da mesma forma a este grupo, saíram. Vários, como ele me mostrou, saíram xingando, batendo a porta.

Três conclusões:

1) De fato, existem ações no WhatsApp para distribuir material de campanha. Esta é uma delas, agregar pessoas a grupos de interesse. Se colar, colou. Outra, que consigo imaginar mas nunca vi nem conheço pessoas que viram, é receber diretamente materiais de campanha de um número estranho, não cadastrado. Uma terceira, é receber coisas de amigos e repassar. Esta terceira, sinceramente, considero legítimo. Não vou desenvolver meu raciocínio aqui, pois vou elaborar mais em um post dedicado a este assunto.

2) A pessoa pode simplesmente sair do grupo. Questiono muito a efetividade desse tipo de ação. Se a pessoa não aderiu voluntariamente a um grupo, a chance de repassar materiais parece-me muito reduzida.

3) Last but not least, o spam veio da campanha do PT. Mas aqui o dinheiro pra financiar deve ter sido limpinho…

Conto do WhatsApp

Era uma vez um país onde todo mundo achava o PT um partido bacana. Era um tempo em que todos eram felizes.

Daí, uma onda gigante de notícias falsas veiculadas pelo Whatsapp enfeitiçou as pessoas durante a campanha eleitoral e criou um grande sentimento anti-PT.

Por isso, o PT perdeu a eleição, e todos viveram tristes para sempre.

Fim.

A indigência do jornalismo brasileiro

Este é o fim da reportagem do Valor sobre o uso do Whatsapp para a disseminação de fake news.

A reportagem descreve as regras restritivas adotadas pela empresa (limitação de encaminhamento de mensagens e de tamanho dos grupos), e diz que essas regras são globais. Ou seja, aparentemente, aquela ideia de que “números estrangeiros” estariam sendo usados para burlar as limitações locais são lenda urbana.

O repórter, no entanto, não ficou satisfeito. Em um trabalho “investigativo”, deu Google em “disparador de Whatsapp” e “bancos de dados número de celular” e encontrou milhares de resultados. A conclusão do indigitado foi a de que “a divulgação em massa não é uma tarefa muito complexa”.

Bem, eu também fiz minha investigação. Digitei “ganhar dinheiro sem esforço” no Google e obtive milhares de páginas, inclusive com tutoriais. De onde concluí que ganhar dinheiro sem esforço “não é uma tarefa muito complexa”.

PS.: este post NAO É uma negação da existência de fake news no WhatsApp distribuídos de maneira massiva. É apenas um lamento sobre a indigência do jornalismo brasileiro.

Apoio adequado

Antonio Cláudio Mariz é um criminalista dos bons. É contratado a peso de ouro por acusados de corrupção, pois conhece todos os meandros do labirinto jurídico brasileiro. Mariz é firmemente contra a prisão após condenação em 2a instância. Ele defende o direito de corruptos de prolongar seus julgamentos ad eternum em liberdade.

Muito adequado seu apoio a Haddad.

Histeria

Eliane Catanhêde resume bem a histeria que tomou conta dessa eleição. Não a conservadora, mas a dos jornalistas e intelectuais.

O artigo é todo ele uma ode ao autoritarismo. E o pior, a jornalista nem se dá conta disso!

Pelo raciocínio da jornalista, no qual é seguido por grande parte da elite bem-pensante brasileira, os evangélicos formariam uma espécie de gado no pasto, pronto a seguirem a orientação de seus pastores. Não teriam discernimento próprio, seriam massa de manobra.

Por que esse raciocínio tem viés autoritário? Porque parte do pressuposto de que é necessária uma autoridade que tome decisões em nome dos subordinados. Os votos na urna são mera formalidade, na medida em que Edir Macedo e os outros pastores já tomaram a sua decisão.

Eu sou firmemente democrata. Acredito no discernimento do povo. Tanto quando elegeu Dilma, quanto agora, quando, tudo indica, irá eleger Bolsonaro. Os pastores não lideram, estão a reboque do sentimento de seus comandados. Não fosse isso, Edir Macedo não teria apoiado Lula em seus dois mandatos.

No fundo, Eliane Catanhêde e seus colegas não admitem outro voto que não naqueles que representam “a luz”, “a verdade”, “o bem”. Luz, verdade e bem sob o critério deles, que fique bem entendido.

Essa histeria (para usar a mesma palavra) do WhatsApp vai na mesma linha. Mas isso fica para o próximo post.