Racismo

Fernando Holliday foi chamado de “macaco de auditório” por um colega vereador.

Um outro colega vereador, Paulo Reis, do PT, negro como Holliday, afirma que o preconceito está na cabeça do ofendido.

Danilo Gentilli costuma dizer que a agenda da esquerda não trata do que se fala, mas de quem fala. Parafraseando, não se trata da ofensa, mas de quem é ofendido.

Amigo do amigo

O ex-deputado Alberto Fraga, amigo pessoal de Bolsonaro, foi o padrinho de Augusto Aras na PGR.

Lembro aqui a ordem de prioridades que descrevi outro dia, e que comandam as decisões de Bolsonaro:

1) Parentes/amigos
2) Agenda de costumes
3) Agenda econômica
4) Agenda anti-corrupção

A indicação de Aras segue exatamente esta ordem.

A voz do povo

Sempre que lia alguma análise dizendo que o Moro poderia ser candidato a presidente, eu descartava como coisa de analista que não tem o que fazer. Afinal, o Moro, com uma vaga garantida no STF, a troco do que vai arrumar essa sarna pra se coçar.

Isso foi até hoje, quando ouvi um diálogo na copa do escritório onde trabalho, entre a copeira e o office boy. Na TV, a noticia de que Moro tem o dobro da aprovação de Bolsonaro.

– Se ele se candidatar, meu voto é do Moro, diz o boy.

– Tenho pena de quem vai concorrer com ele, não vai ter nem 1% dos votos, completou a copeira.

Por essa voz do povo eu não esperava.

Arquitetura da escolha

Richard Thaler ganhou o Nobel de economia por seus estudos sobre o comportamento humano na tomada de decisões. Entre outras coisas, ele estudou o que se convencionou chamar de “arquitetura da escolha”.

Segundo essa teoria, o ser humano é livre, mas até certo ponto. As suas escolhas são condicionadas pela forma como os problemas lhe são apresentados. Um exemplo simples, muito utilizado pelas empresas de consumo, é a posição dos produtos nas prateleiras dos supermercados. A prateleira na altura dos olhos é disputada a tapa pelas diversas marcas. Todos sabem que o consumidor tende a escolher os produtos mais acessíveis.

O mesmo vale para a ingrata tarefa de largar vícios. A pessoa que procura largar o cigarro e a bebida sabe que não pode se aproximar de pessoas que fumam ou bebem, pelo menos no início de sua luta. Ele sabe que sua escolha é livre, mas só até certo ponto.

A arquitetura da escolha também pode nos levar a gastar mais ou menos. Mudar-se para um bairro mais rico nos fará gastar mais com serviços inexoravelmente. Forçar uma economia aqui funciona até certo ponto, mas acaba cansando. A escolha pelo bairro mais rico acaba condicionando as escolhas subsequentes.

O que estamos presenciando no momento, no debate sobre o teto de gastos, é o choque entre duas arquiteturas da escolha. A primeira é muito antiga, e se chama “direitos adquiridos”. São intocáveis, abrigados que estão sob o manto do “Estado Democrático de Direito”, sucedâneo republicano das “Ordenações do Reino”. Os gastos do Estado estão condicionados por essa escolha ancestral.

A segunda arquitetura da escolha é o Teto de Gastos. É muito mais recente, um bicho estranho no modus operandi do Estado brasileiro. Foi uma ideia simples e genial, que chamei aqui de Plano Real dos gastos públicos.

Ocorre que, a exemplo de outras ideias igualmente simples e geniais, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, entra em choque com a única arquitetura da escolha que realmente funciona no Brasil. Adivinha qual irá prevalecer.

É uma questão matemática

O teto de gastos para 2020 será de aproximadamente R$ 1,46 trilhão. Os gastos discricionários propostos são de R$ 105 bilhões, ou 7,2%. O resto, 92,8%, ou R$ 1,35 trilhão, são gastos incompressíveis, incomprimíveis, imexíveis, intocáveis, sagrados.

Em 2018, esses gastos discricionários foram de R$ 144 bilhões, este ano deverão ser de aproximadamente R$ 125 bilhões e no ano que vem, como dissemos acima, a proposta é que sejam de R$ 105 bilhões. Uma redução de R$ 40 bilhões em dois anos.

É sobre isso que estamos falando. R$ 40 bilhões, em um orçamento federal de R$ 1,46 trilhão. E já estamos precisando cortar todas as bolsas da CAPES e apagar as luzes de todos os quartéis. As próximas vítimas serão a confecção de passaportes, aguarde.

Se já estamos à beira de um ataque de nervos ao cortar R$ 40 bilhões de despesas dispensáveis como o investimento em pesquisa, luz nas repartições públicas e, eventualmente, passaportes, imagine como será quando mexermos em coisas realmente importantes e indispensáveis, como os salários do funcionalismo público e as aposentadorias integrais e especiais aos 50 anos. Aí o país entrará em estado apopléctico.

Por isso, vamos mexer no teto de gastos. É uma questão matemática.

É uma questão política

Não Bolsonaro, o teto de gastos não é uma questão matemática. A distribuição dos gastos públicos é uma questão POLÍTICA.

A coisa mais fácil do mundo, como qualquer pai de família sabe, é aumentar gastos. O duro é fazer o que tem que ser feito.

A situação fiscal do Brasil é delicadíssima. Estamos produzindo déficit fiscal há 6 anos e a relação dívida/PIB não para de crescer. A reforma da Previdência é apenas o início de um longo ajuste necessário.

Bolsonaro está brincando com fogo. Ele deveria olhar o que está acontecendo com o seu colega Macri.