Democracia em vertigem

Mais uma denúncia de propina para o PT. Até aí, nenhuma novidade. O que chama a atenção é a nota do partido, invocando a indicação do “Democracia em Vertigem” para o Oscar na categoria “documentário de ficção”.

Segundo a narrativa, o “golpe” teria sido dado por um conjunto de forças da elite, contrariadas em seus interesses. A classe média, que não estaria aguentando mais pobre viajando de avião e entrando na faculdade, saiu às ruas vestindo uniformes da CBF para pedir a cabeça da presidenta que estava dando continuidade a um projeto popular e progressista. Os políticos, sentindo o cheiro de sangue, não demoraram a se organizar para tomar o poder à força. O povo, este não foi consultado.

Bem, essa narrativa foi colocada à prova em 2018. Através de um salto duplo mortal carpado constitucional, a dupla Lewandovsky/Calheiros não retirou os direitos políticos de Dilma. O PT teve, portanto, a oportunidade de indicar Dilma como sua candidata à presidência. Não o fez. Por que? Se o povo estava ao lado da presidenta, nada mais natural do que indicá-la para disputar o cargo do qual foi injustamente deposta. Não, o PT preferiu indicá-la para o Senado por MG. Chegou em 4o lugar, no mesmo Estado em que havia derrotado Aécio Neves 4 anos antes. O povo falou pelas urnas.

Ainda não acabou. O PT disputou as eleições de 2018. Apesar de não poder votar em sua bem-amada presidenta, o povo ainda assim podia votar no partido que sofreu o “golpe” e, assim, retomar o projeto “popular e progressista”. No entanto, o PT perdeu para um obscuro e tosco deputado do baixo clero, que fez uma campanha caseira, sem nenhum apoio político relevante, e depois de dois anos de um governo anti-popular, que tirou os “direitos” do povo.“

Ah, mas se fosse Lula o candidato, a história teria sido diferente. A prisão do Lula faz parte do golpe”

Eu particularmente acho que Bolsonaro venceria Lula também, mas isso é só um achismo. O que importa aqui é que a narrativa do golpe não para em pé. Quer dizer então que Dilma foi apeada do poder contra a vontade do povo, mas o tal projeto “popular e progressista” só é reconhecido pelo povo quando é Lula o candidato? Que raio de projeto é esse, ao qual o povo supostamente beneficiado dá as costas? O raciocínio não fecha.

O que Petra Costa não acaba de entender é que, em uma democracia representativa, o povo é representado pelos deputados e senadores, que têm o poder de depor o presidente através de um processo chamado impeachment. Que é um processo político, não jurídico. Petra, assim como seus colegas do PT, convive mal com essa ideia. Democracia, para eles, é a comunicação direta do Partido popular com o povo, como se dá em Cuba e, agora, na Venezuela. Não à toa, Lula e o PT resolveram comprar o Congresso ao invés de negociar.

Se tem algum culpado pela eleição de Bolsonaro é essa elite representada por Petra Costa, que fechou e continua fechando os olhos ao atentado à democracia que representou o PT no poder. Ninguém mais do que o PT trabalhou para desmoralizar a classe política, que é coluna vertebral de qualquer democracia. Bolsonaro foi apenas a resposta óbvia a esse estado de coisas. Democracia em vertigem foi uma construção do PT.

Mentiras sinceras não me interessam

Michael Bloomberg começou a sua campanha eleitoral. Ele promete criar os empregos de qualidade que Trump não criou (veja o seu artigo aqui). Suas credenciais? Ele já faz isso em sua empresa, onde 20 mil funcionários têm direito a licença parental (pai e mãe) remunerada de 6 meses, além de licença médica e o direito de se sindicalizar.

O que Bloomberg não conta é que sua empresa só consegue conceder esses benefícios porque vive de alugar terminais de US$1.500/mês para um setor, o financeiro, que pode pagar por isso. Sua mão de obra é altamente especializada, o que permite ter uma produtividade e valor agregado quase inigualáveis.

Se Bloomberg tentar replicar este mesmo modelo para o restante da economia, as empresas quebram. Ou começam a contratar trabalhadores informais. Conheço um país onde essa coisa de “modernizar” o contrato entre patrões e empregados, como ele diz, deu muito certo mesmo. Esse país tem um desemprego quase 4 vezes maior que o americano e os empregos não são exatamente “de qualidade”.

Bloomberg sabe como funciona a economia. Ele está mentindo, assim como ele acusa Trump de o ter feito. Mas Trump é um populista doido, enquanto Bloomberg é muito antenado com as últimas tendências do debate correto sobre as mazelas da economia. Sinceramente, prefiro Sanders ou Elizabeth Warren. Pelo menos, esses não mentem, eles realmente acreditam nas sandices que dizem.

Análise econômica achada na rua

Todo mundo sabe que a TV paga está perdendo assinantes para o streaming.

Daí você lê a “análise” do luminar petista Marcio Pochmann. Fiquei em sincera dúvida se ele não sabe do que está falando, ou se ele sabe e está simplesmente sendo desonesto. Nenhuma das hipóteses é boa para ele.

A Caixa é o nosso banco

Já expliquei isso aqui, mas vai de novo: quando os juros são baixados além do nível que compensa a inadimplência, o banco, qualquer banco, quebra. Como os bancos privados normalmente preferem não quebrar, não vão acompanhar a Caixa nessa festa. Resultado: haverá uma “seleção adversa” de clientes. Aqueles com mais dificuldade de crédito migrarão para a Caixa, potencializando as perdas do banco.

Isso já aconteceu no governo Dilma: BB e Caixa baixaram os juros “por decreto” e os bancos privados não acompanharam, perdendo participação de mercado. Depois de alguns anos, os bancos públicos tiveram que arrumar a casa, e os bancos privados voltaram a ganhar participação de mercado.

Quando bancos privados fazem barbeiragem, seus acionistas é que pagam o pato. Daqui a alguns anos, quando Pedro Guimarães estiver trabalhando novamente na iniciativa privada e Bolsonaro estiver cuidando dos netinhos, estaremos todos nós pagando por estas bondades.

O poder paralelo das agências reguladoras

É bem conhecida a passagem da Odisseia em que Ulisses se fez amarrar ao mastro do seu navio para não sucumbir ao canto das sereias. Trata-se de uma alegoria para ilustrar a luta dos homens contra o poder das tentações.

Lembrei dessa passagem quando vi mais um presidente revoltado contra o “poder paralelo” das agências reguladoras. Bolsonaro pergunta se as agências reguladoras têm mais poder que o presidente ou o Congresso.

Não foi original. Lula já tinha atacado o “poder paralelo” das agências, assim como Dilma. Ambos ajudaram a enfraquecer as agências reguladoras, caminho aparentemente seguido por Bolsonaro. Nenhum dos três parece ter entendido o papel das agências.

As agências reguladoras de Energia Elétrica, Telecomunicações e outras foram criadas por FHC para estabelecerem critérios técnicos de concorrência e preços em seus respectivos setores. Não há absolutamente nenhuma concorrência com o papel reservado ao Presidente ou ao Congresso, que têm o poder de determinar onde o Orçamento Público será gasto, o que não é pouco.

O exemplo mais claro de agência independente é o Banco Central. Estamos discutindo a independência do BC, para que as decisões dessa agência não estejam ligadas aos interesses populistas do governante de plantão. O mesmo ocorre com as outras agências: devem ser independentes para tomarem as decisões mais adequadas do ponto de vista técnico dentro dos seus respectivos campos. Não se trata de “ditadura das agências”, mas de amarrar o governante ao mastro do navio para evitar de cair na tentação de adotar políticas populistas que podem até funcionar no curto prazo, mas são deletérias para a economia em prazos mais longos. Estamos cheios de exemplos nessa pobre América Latina.

Vejamos como isso se aplica ao caso específico dos subsídios aos painéis solares (“taxa do sol” é nome fantasia usado para confundir os incautos). A Aneel fez estudos técnicos e concluiu que os subsídios começam a não fazer sentido e estão onerando demasiadamente os consumidores. Então, propôs um cronograma de transição para a redução desses subsídios. Até aqui, estamos falando dos preços da energia elétrica, que são fruto de políticas determinadas pela agência reguladora, com base em leis aprovadas no Congresso.

Agora, se Bolsonaro ou o Congresso quiserem manter o subsídio, podem aprovar recursos no orçamento para tal. Deixariam, assim, explícito o custo da bondade, que precisaria sair diretamente dos cofres públicos, e não cobrados às escondidas dos consumidores de eletricidade. Mas, sabe como é, populismo que é bom é aquele que não mostra os seus custos.

Greve assim, até eu!

Bolsonaro apoiou aumento para os policiais civis do DF. Nota: este aumento será pago por um remanejamento de recursos dentro de um Fundo específico, que serve para pagar as despesas do DF. Se este Fundo deveria existir ou não, já é outra discussão. Mas é de Lei, e é bancado por todos os contribuintes brasileiros. Fato é que este aumento específico será pago sem onerar o Orçamento Federal.

Bem, parece que este aumento serviu de estopim para um movimento reivindicatório de outras categorias do funcionalismo público federal. Como se precisassem de motivos ou desculpas para reivindicar aumentos salariais. Se não fosse isso, seria outra coisa qualquer.

Ameaçam com greve. Como se tivesse cabimento greve em serviço público. Quando funcionários da iniciativa privada fazem greve, estão lutando para abocanhar uma fatia maior do lucro do patrão. Para tanto, se sujeitam a ter corte de salários e até serem demitidos. Funcionários públicos, por outro lado, estão brigando para arrancar um naco maior dos impostos, que não são usados para engordar lucros, mas para manter serviços para a população que paga os impostos. Além disso, não correm riscos: não deixam de receber seus salários e muito menos podem ser demitidos. Greve assim, até eu.

Até compreendo que os servidores públicos possam estar passando dificuldades com o miserê que recebem. A alternativa a tomar como refém a sociedade em greves imorais é sair do seu atual emprego e procurar algo melhor na iniciativa privada. Boa sorte!

Congelamento high tech

Os congelamentos de preços no final da década de 80 não deram certo porque os consumidores não podiam contar com modernas tecnologias.

Agora não mais! O governo da Argentina está disponibilizando um app para que os fiscais do Fernandez possam efetivamente acompanhar o cumprimento do congelamento. Agora sim, não tem como dar errado!

Se Guga Chacra falou, tá falado

“Donald Trump sai fortalecido da crise com Irã ao menos no curto e médio prazo”.

“Se a retaliação iraniana fosse amena e convencional, sairia como vitorioso. Foi o que ocorreu”.

“Tenho enormes críticas ao presidente. Neste caso, ele acertou”.

Se Guga Chacra falou, quem sou eu para discordar.