Já escrevi aqui sobre o uso da conjunção adversativa “mas”. Trata-se de uma palavrinha que quer passar a ideia de que ambas as ideias ligadas são igualmente importantes, ainda que opostas. No entanto, quem tem algum treino de leitura, sabe que a segunda ideia domina a primeira, ainda mais se estão opostas uma ideia geral e conceitual e outra mais, digamos, prática, da vida.
Assim, por exemplo, na frase “sou a favor da fidelidade conjugal, mas sabe como é, a carne é fraca”, a fidelidade conjugal faz o papel de um objetivo desejável mas impossível de ser alcançado diante da fraqueza da carne. Claro está que a primeira ideia é somente uma declaração de intenções, enquanto é a segunda que determina a real intenção do orador.
O ministro da economia continua querendo nos convencer de que é um defensor da austeridade e do teto de gastos. Mas aí vem a palavrinha “mas”, com a ideia que realmente é importante: não dá para deixar 17 milhões de pessoas passando fome. Esta é a parte prática, a que realmente importa. Assim como o marido que trai a mulher (ou vice-versa, para não me chamarem de misógino), a tal fidelidade é somente uma declaração de intenções.
Infelizmente para o ministro da Economia, o mercado não é corno manso. Pelo contrário, costuma ser muito vingativo.