Talkey

Para a S&P, é melhor ter um presidente insider que vai tentar fazer a coisa errada do que um presidente outsider que vai tentar fazer a coisa certa.

Talkey, S&P.

Crescimento de Bolsonaro

O Ibope mostra um crescimento de Bolsonaro que nenhum outro instituto mostrou até o momento.

A outra novidade foi o crescimento da rejeição a Haddad, que ficou a apenas 6 pp da rejeição de Bolsonaro (44 x 38). Chama a atenção o fato da rejeição ter aumentado sem aumento da intenção de voto, o que não acontecia desde a impugnação da candidatura Lula. No Datafolha de 28/09, a rejeição era de 32%, comparada com 27% do Ibope de 26/09. Ou seja, já podia ser detectado um aumento da rejeição, que mostrou continuidade nesta pesquisa do Ibope. E tudo isso sem uma campanha contra como a que está sendo feita contra Bolsonaro.

A pesquisa foi a campo nos dias 29 e 30/09, dias, respectivamente, das manifestações elenão e a favor de Bolsonaro. Aparentemente, as manifestações, se algum efeito tiveram, foram a favor do candidato do PSL.

Haddad não cresce desde o dia 24/09, ou seja, há uma semana. Se de fato atingiu o seu pico neste 1o turno, isso significa uma taxa de transferência de pouco mais de 50% das intenções de voto de Lula, que havia atingido a marca de 39% antes de ter a candidatura impugnada.

O índice de votos válidos de Bolsonaro é de 37%, ainda distante de uma vitória no 1o turno. Vamos ver as próximas pesquisas. Se este número atingir algo como 45%, poderá estimular o voto útil.

O contra-factual

Este post é dedicado àqueles que sentem aversão pelos dois candidatos que ora lideram as pesquisas, e estão se aproximando do momento em que serão obrigados a fazer uma escolha.

Uma das grandes dificuldades que os economistas encontram para provar as suas teses é o que chamamos de “contra-factual”.

O contra-factual é o que teria acontecido se outra decisão tivesse sido tomada. Assim, por exemplo, podemos criticar o crescimento econômico brasileiro durante o governo Dilma e elogiar durante o governo Lula, mas é difícil provar cientificamente que teria sido diferente se outras decisões tivessem sido tomadas na mesma época.

As “narrativas políticas” mais atrapalham do que nos ajudam aqui. Estamos falando de ciência, não de fábulas. É necessário montar “experimentos” que possam nos dar evidências em uma ou outra direção. No exemplo citado, um experimento comum é comparar o crescimento do país com um grupo de controle, controlando por variáveis que normalmente explicam o crescimento dos países.

Outro exemplo é julgar um governador pelo que não fez durante o seu governo, sem considerar as condições objetivas que encontrou. Assim, um experimento comum é fazer uma comparação entre Estados, controlando pelas variáveis que estão fora do controle dos governantes, como renda e tamanho do orçamento.

Por que o contra-factual é tão difícil de se obter? Porque a história é linear. Não é possível repetir um determinado período histórico com outros personagens, só para ver se o resultado seria melhor ou pior. Assim, em grande parte do tempo somos reféns de “narrativas”, sem o necessário escrutínio científico.

Muito bem, onde quero chegar?

Existem dois projetos antagônicos disputando o nosso voto nesse momento. Os convictos de cada lado tentam nos convencer de que o outro lado significa o fim do Universo tal como o conhecemos. No meio encontra-se uma multidão que não gosta nem de um, nem do outro.

Muitos nessa situação estão tentados a anular o voto, para depois não serem acusados da situação em que o país ficará se um ou outro for eleito.

Por exemplo, durante um tempo, principalmente depois do impeachment, era muito difícil encontrar um eleitor do Collor. No entanto, ele obteve mais de 50% dos votos válidos na época. Portanto, muita gente votou nelle, e não deveria ser difícil encontrar um eleitor delle. A resposta óbvia a alguém que “acusava” o eleitor de Collor pela situação do país era: “se você acha que foi ruim, imagina se o Lula tivesse sido eleito”. Esse é o contra-factual.

Voltando à situação de hoje, não vejo porque temer votar em um ou outro candidato. Cada um tem o direito de achar que o país ficará ruim com os dois, mas ficará pior com um deles. No final do dia, ninguém realmente terá o contra-factual para dizer que você está errado.

Vamos a um exemplo concreto. Macri foi eleito na Argentina após quase 13 anos de kirsherianismo. Suas credenciais permitiam prever que as principais variáveis macroeconômicas estariam em melhor estado ao final do seu mandato do que estavam quando assumiu.

Pois bem. O câmbio era de 13 pesos por dólar quando Macri assumiu, em dezembro de 2015. Hoje está em mais de 40 pesos. A inflação de 2016 foi de 41% (os índices de inflação em anos anteriores não são confiáveis). Em agosto deste ano, a inflação acumulada em 12 meses foi de 34%. Uma melhora muito tímida. A taxa de juros era de 20% e hoje está em 60%. Além disso, o país foi parar no FMI.

Portanto, um desastre. Deveriam os eleitores de Macri ser acusados pela situação do país? O contra-factual vem em socorro aqui: o que teria sido do país se Cristina Kirshner continuasse no poder? Não é difícil imaginar.

Outro exemplo, dessa vez não econômico. Alguns, que estão se tornando muitos, vêm sugerindo que o impeachment foi uma benção para o PT, pois este se livrou da Dilma e do desastre econômico causado por ela. Sem o impeachment, dizem, o PT não teria a mínima chance nesta eleição.

O contra-factual, neste caso, existe: Lula não foi impichado em 2005 e ganhou a eleição no ano seguinte. Claro, esse contra-factual não está isento de críticas: o problema, na época, não era econômico. Além disso, Lula é Lula e Dilma é Dilma. Mas, do mesmo modo, não podemos antecipar do que o PT seria capaz com a caneta na mão. Já vimos que eles são os reis das narrativas. A essa altura, Lula seria o candidato, e estaria jogando a crise nas costas da oposição sabotadora. É um bom contra-factual?

Portanto, não deveríamos ter medo de votar em alguém ruim para evitar o pior, em nosso melhor julgamento. Sabemos que estamos elegendo um governo ruim, mas ninguém terá o contra-factual para provar que nosso voto foi “errado”. Ou melhor, nós sempre teremos o contra-factual do nosso melhor julgamento.

Alvo de ruídos

“Alvo de ruídos”

Como se o programa econômico do petista fosse bom, mas não estivesse sendo bem entendido.

O que ocorre é o inverso.

O mercado entendeu muito bem do que se trata: o programa econômico do PT, se implementado 100%, é um voo para a Venezuela com escala na Argentina.

E não, este programa não foi enfiado goela abaixo do candidato. Haddad foi o seu coordenador.

Claro, o mercado sempre conta com algum nível de estelionato eleitoral. Mas não sem antes ajustar os preços. Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça.

Votos brancos e nulos

Para alguns, PT e PSDB são a mesma coisa: ambos são “comunistas”, ou ambos são igualmente beneficiários de esquemas de corrupção. Para estes, é Bolsonaro ou nada.

Para outros, PT e Bolsonaro são a mesma coisa: ambos são igualmente anti-democráticos, e nos levarão inexoravelmente a uma ditadura. Para estes, é Alckmin/Amoêdo/Marina ou nada.

Para outros ainda, PSDB e Bolsonaro são a mesma coisa: ambos são o instrumento das elites imperialistas que derrubaram um governo popular legítimo. Para estes, é PT ou nada.

Tenho a impressão que o número de votos brancos e nulos será o maior da história republicana.

Cada um vê o que quer ver

Em artigo de hoje, Rolf Kuntz, respeitado jornalista econômico do Estadão, analisa os programas dos candidatos sob a ótica do momentoso problema do equilíbrio fiscal do governo.

O programa de Bolsonaro inclui a zeragem do déficit primário depois de dois anos e privatizações.

O programa de Alckmin inclui a zeragem do déficit primário depois de dois anos e privatizações.

Segundo Kuntz, o programa de Bolsonaro é inexequível, enquanto o de Alckmin é organizado e mostra um caminho.

Vai entender.