Talkey, Veja

A Veja publicou reportagem de capa bombástica contra Bolsonaro.

A mesma Veja que publicou reportagem bombástica contra Lula e Dilma às vésperas da eleição vitoriosa do PT em 2014.

A mesma Veja da editora Abril, que pediu concordata e não pagou o FGTS dos empregados.

Talkey.

PS: a campanha de Bolsonaro, ao pedir o recolhimento das revistas, só piora a sua imagem de anti-democrático. Seria muito mais efetivo simplesmente desmerecer a revista. #ficadica

Amadorismo

Ah, mas distorceram isso… ah, mas essa foto no Instagram não fui eu… ah, mas estão com má vontade…

A campanha de Bolsonaro ainda não entendeu o que é uma campanha eleitoral.

Vou tomar como exemplo a tal foto da tortura no Instagram. Se a mesma foto fosse compartilhada pela campanha do PT, seria uma denúncia, não um apoio. Como foi a campanha do PSL, foi repercutida como um apoio. Nada mais natural: afinal, Bolsonaro se coloca ao lado dos torturadores, enquanto o PT, ao lado dos torturados. A associação e a interpretação são automáticas.

Outro exemplo são essas declarações do vice. Mourão age como se estivesse em um sarau cultural, ou em um debate acadêmico, sobre assuntos candentes da atualidade brasileira. Não se tocou ainda de que está em uma guerra, onde qualquer palavra sua será colocada fora do contexto. Alguém por exemplo conhece a agenda pública de Manuela D’Avila? Pois é, sumiu da campanha, porque sabem que suas opiniões sobre o Universo, o Mundo e Tudo Mais são pra lá de polêmicas.

A campanha de Bolsonaro é de um amadorismo exasperante. Será um milagre que consiga vencer os mestres das campanhas eleitorais no 2o turno.

Pergunta de matemática

Pergunta de matemática: qual o tamanho do conjunto intersecção entre os participantes dos protestos pelo impeachment em 2015/2016 e os participantes do protesto #elenão programados para o próximo dia 29?

Outra pergunta: qual deveria ser o tamanho dessa intersecção para considerarmos este protesto um legítimo movimento da cidadania brasileira e não apenas um ato eleitoral pró-PT, dado que o poste de Lula é claramente o seu beneficiário?

Impressões sobre o debate no SBT

No #debateSBT vi alguns movimentos interessantes, que indicam a tática para esta reta final no 1o turno, e podem dizer um pouco sobre apoios no 2o turno:

– Álvaro Dias foi o mais vocal contra o PT, chamando o partido de “organização criminosa”. Nem citou Bolsonaro. Surfando na onda anti-petista no sul, pode declarar apoio ao candidato do PSL.

– Ciro também foi agressivo com o PT. Pelo visto, ainda não desistiu de ser visto como uma 3a via, uma alternativa da esquerda para bater Bolsonaro. As pesquisas de 2o turno lhe dão razão.

– Alckmin bate no PT e em Bolsonaro, mas quase en passant. Gasta o grosso do seu tempo com platitudes, do tipo “precisamos investir em infra-estrutura”. Soltou um “resolutividade” no meio de uma resposta, o que deve ter lhe roubado 0,5% das intenções de voto.

– Haddad vai bem. É inteligente, rápido e articulado nas respostas, e tem um script que executa bem, a mistificação dos bons tempos do Lula. Tem um patrimônio para mostrar, e mostra com habilidade. Mas tenho a impressão de que, se pegar o ex-capitão inspirado em um debate no 2o turno, vai ser comido com farinha, pois será tirado de sua zona de conforto, coisa que só Álvaro Dias tentou uma vez, e com relativo sucesso.

– Marina: oi?

– Meirelles: muito ruim. Mas muito ruim mesmo.

– Cabo Daciolo: respondendo a uma pergunta de Guilherme Boulos, proclamou seu amor às mulheres brasileiras e “profetizou” sua vitória em 1o turno, em nome de Deushhhhh. (um debate em que Boulos faz pergunta a Daciolo, ambos com traço nas pesquisas, e deixa Amoedo, tecnicamente empatado com Marina, de fora, tem alguma coisa muito errada).

– Bolsonaro: o grande vitorioso da noite, porque não apanhou muito. Seu nome só foi pronunciado por Boulos e por Carlos Nascimento, que lembrava, no início de cada bloco, que ele não estava presente porque havia sofrido um ataque (propaganda subliminar positiva). O tema das mulheres foi tocado algumas vezes, principalmente pela Marina, o que indiretamente o prejudica. A essa altura, Bolsonaro está tocando a bola no meio de campo esperando o fim do 1o tempo. Quanto menos aparecer, melhor.

Estou intrigado

Estou cada vez mais intrigado com um raciocínio que vejo repetido com cada vez maior frequência. O raciocínio é o seguinte: se eu não mudar meu voto para o Bolsonaro já no 1o turno, estarei colocando o PT novamente no poder. Posso ser eleitor do Amoêdo (que é o alvo preferencial desse raciocínio), ou de qualquer outro candidato à direita do espectro político.

Não consigo ver como isso seja possível.

Meu raciocínio é o seguinte. Digamos que haja dois tipos de eleitores do Amoêdo: aquele que vota no Bolsonaro no 2o turno, e aquele que não vota no Bolsonaro no 2o turno. Por serem alternativas complementares, a soma desses dois tipos perfaz 100% dos eleitores do Amoêdo.

Para ganhar uma eleição, qualquer candidato precisa ter 50% + 1 dos votos válidos, tanto faz se no 1o ou no 2o turno. O voto do eleitor do Amoêdo do tipo 1, aquele que vota no Bolsonaro, estará com ele no 2o turno. Então, tanto faz votar no 1o ou no 2o turno, esses votos vão ajudar a eleger Bolsonaro de qualquer maneira, seja no 1o, seja no 2o turno. Já no caso do eleitor tipo 2, aquele que não vota em Bolsonaro nem no 2o turno, não adianta pedir pra votar no 1o turno, não é mesmo?

Esse é o raciocínio, e que vale para os eleitores de quaisquer outros candidatos.

A não ser que…

A não ser que exista o receio de que essa “reserva de votos” formada pelos eleitores do Amoêdo do tipo 1, mudem de ideia no 2o turno, e resolvam que são do tipo 2. Então, o que estaria por trás dessa pressão é o receio de que a campanha do 2o turno faça Bolsonaro perder os votos potenciais que tinha no 1o turno. Então, seria melhor liquidar logo a fatura no 1o turno, para não dar tempo das pessoas mudarem seu voto. Não é lá uma explicação muito dignificante, mas é a única que consigo encontrar.

Por outro lado, dado o índice de rejeição a Bolsonaro, poderia defender aqui que o voto nele, isso sim, é o passaporte para a volta do PT ao poder. Não sou partidário dessa ideia, porque acredito que índices de rejeição podem ser revertidos com uma boa campanha, e o 2o turno é uma outra eleição. Mas, do jeito que as coisas estão hoje, esse risco não é desprezível.

Um ajuste sem sacrifícios

Paulo Guedes sumiu do radar, depois do “mal entendido” a respeito da recriação da CPMF. Não tem aparecido mais em reuniões ou entrevistas. Tomou chá de sumiço.

Bolsonaro deve ter solicitado que seu “posto Ipiranga” submergisse. Mas como não dá para não falar de economia, Bolsonaro assumiu o papel. Em sua entrevista à rádio Jovem Pan, discorreu sobre a proposta de alteração do IR da pessoa física.

A proposta é a seguinte: até 5 salários mínimos de renda, o contribuinte será isento. A partir desse patamar, cobra-se uma alíquota única de 20%. Isso significaria isenção para quem ganha até R$ 4.770, contra a isenção que temos hoje para quem ganha até R$ 1.904. Por outro lado, para quem tem renda acima de R$ 4.770, a alíquota é de 27,5%. Portanto, trata-se de uma redução de imposto de renda de ponta a ponta, para todo mundo.

Bolsonaro deixou claro: quer uma reforma “que não sacrifique ninguém” (palavras dele), e que diminua a arrecadação da União. Inclusive, disse que, se a alíquota de 20% for muito alta, poderia reduzi-la ainda mais. Sua lógica é que, com menos impostos, a economia vai aquecer, porque vai sobrar mais dinheiro para consumo nas mãos das pessoas.

Pois é. Essa proposta difere muito pouco da proposta do PT ou do Ciro. A diferença está apenas na origem do “dinheiro que vai sobrar nas mãos das pessoas”. No caso do PT ou do Ciro, trata-se de turbinar o crédito. No caso do Bolsonaro, o dinheiro virá dos impostos economizados.

A proposta de Bolsonaro é, conceitualmente, melhor. Diminuir a carga tributária faz com que o dinheiro que sobra seja efetivamente do contribuinte. Ele pode decidir gastar ou poupar, e não terá que pagar uma dívida logo adiante, o que deixa o sistema menos vulnerável. Crescimento na base exclusiva do crédito já vimos, e o final não costuma ser muito bonito.

Por outro lado, esta proposta embute um sacrifício não explicitado: a diminuição da carga tributária envolve necessariamente a diminuição das despesas do governo. E diminuição das despesas do governo envolve sacrifícios. Essa estória de que “não haverá sacrifício para ninguém” é balela. E não adianta vir dizer que os sacrificados serão os “políticos”, ou os “apadrinhados”, ou os “corruptos”. O buraco é beeeeem mais embaixo.

A economia com a máquina pública, se tudo for bem feito, seria talvez da ordem de alguns bilhões de reais. Já o total arrecadado com o IRPF em 2017 foi de aproximadamente R$ 33 bilhões. Se a renúncia fiscal for de, por exemplo, 1/3 da arrecadação desse imposto, estamos falando de R$ 11 bilhões de deficit adicional nas contas públicas.

Além disso, esse tipo de isenção fiscal é o que levou, ao longo dos anos, à regressividade absurda do nosso sistema tributário. Nas economias desenvolvidas, o imposto sobre a renda é grande, e sobre os produtos e serviços é pequeno. No Brasil é o contrário, o que faz com que o pobre pague muito mais imposto proporcionalmente em relação ao rico.

Por fim, o rombo das contas públicas está em aproximadamente R$ 150 bilhões. É preciso zerar esse déficit e começar a gerar superávits, para começar a diminuir a dívida. E não se faz isso com um suposto “crescimento econômico” provocado por crédito ou renúncias fiscais. É indispensável cortar despesas. Inclusive, a mãe de todas elas, a Previdência Social.

Também não adianta vender todas as estatais (ele já disse que BB e Caixa são “estratégicas”, o que merecerá outro post). Se a fonte de despesas não for estancada, o dinheiro da venda será queimado em alguns anos, e o problema retornará no futuro. Como bem sabe uma família endividada e que gasta mais do que ganha, não adianta vender o carro para pagar as dívidas. Isso dá um alívio provisório, mas a dívida volta logo adiante se as despesas continuarem maiores que as receitas.

Enfim, não se faz o ajuste de que o Brasil precisa sem sacrifícios. Quem vende isso está vendendo ilusões. Bolsonaro, ao prometer o paraíso na Terra, está se igualando aos demagogos do PT. E, como estes, não conseguirá entregar o que está prometendo.

Batendo os números do Ibope

Está rolando no espaço facebookiano uma planilha que supostamente faz a conta de baixo para cima com os números do Ibope. Ou seja, considera as intenções de voto por Estado da federação, e refaz as contas, chegando ao total nacional. Esta planilha mostrava Bolsonaro com 36%, muito mais do que os 28% atribuídos pelo Ibope. O Antagonista também colocou em dúvida, apontando incongruência entre os números regionais e o nacional do Ibope.

Fui fazer essas contas por minha própria conta. Tenho essa mania de não acreditar em coisas que “aparecem” na Internet. O resultado está na planilha anexa.

Em primeiro lugar, não encontrei pesquisas Ibope em 4 estados: Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Paraná. Como Ceará e Paraná têm colégios eleitorais mais ou menos do mesmo tamanho e, supostamente, Bolsonaro perde no Ceará e ganha no Paraná, os números abaixo devem estar próximos dos reais.

Segundo meus cálculos, Bolsonaro tem 28,5% (contra 28% da pesquisa nacioal) e Haddad tem 16% (contra 22% da pesquisa nacional). Essa defasagem do Haddad se explica pela defasagem de grande parte das pesquisas regionais, que foram a campo por volta do dia 17/09, quando Haddad encontrava-se ainda no patamar de 16%, segundo o mesmo Ibope.

Portanto, não encontrei incongruência entre as pesquisas regionais e a nacional do Ibope. Claro que pode estar tudo manipulado do início ao fim. Mas se for assim, a manipulação, pelo menos, tem coerência interna.