O candidato que prefiro não está na frente

Da página de Rico Ferrari:


Traduzindo os comentaristas políticos:

1) “A gravidade do momento que o país atravessa” = “o candidato que prefiro não está na frente”.

2) “Essa polarização entre os extremos” = “o candidato que prefiro não está na frente”.

3) “Uma opção razoável que possa vencer o projeto populista” = “o candidato que prefiro não está na frente”.

4) “Crise democrática, crise de representação” = “o candidato que prefiro não está na frente”.

5) “Os ânimos exaltados nas redes sociais” = “o candidato que prefiro não está na frente e o povão está sampando a lenha em mim no twitter quando dou a entender isso”.

6) “Candidatura mais responsável” = “agora sim! estamos falando do candidato que prefiro!”.

Tem outras variantes.

Acerto de contas

“Vamos fazer um acerto de contas […] Eles têm que aprender a respeitar o resultado das urnas.”

Essa fala é de Fernando Haddad, o candidato moderado, o candidato do amor.

Esta frase está prenhe de promessas inconfessáveis.

O que seria o tal “acerto de contas” sem revanchismo e tampouco ódio? Como se daria? Acerto de contas significa pagar uma dívida. Que dívida o PT cobraria? Como seria essa cobrança? Cada um pode imaginar o que quiser.

E quem são “eles”? Quem são os devedores do PT, aqueles que serão chamados a pagar a dívida, a acertar as contas? Os partidos de oposição? A imprensa não alinhada ao PT? O judiciário independente? Os que saímos às ruas para pedir o impeachment de Dilma?

“Têm que aprender”. Esta é a fala de um pai que vai aplicar um corretivo no filho desobediente. Que corretivo será este?

Sim, amigos. É esta força “democrática” que será apoiada no 2o turno por todos aqueles que se dizem preocupados com o futuro da democracia brasileira nas mãos do brucutu da caserna.

Merchã do Haddad

Maria Cristina Fernandes, na CBN. Depois de uma longa análise sobre a carta de FHC e outras pedindo a união dos candidatos de centro, responde a uma última pergunta.

Âncora: Dizem que Bolsonaro e Haddad são duas faces da mesma moeda. Você concorda?

Maria Cristina: não. Bolsonaro é o candidato do ódio. Haddad, apesar de setores do PT adotarem uma postura mais radical, tem procurado se mostrar muito mais conciliador.

O que de fato elas quiseram dizer:

Âncora: Maria Cristina, estamos no fim da entrevista, faz aí um merchã do Haddad.

Maria Cristina: pois não, querida. Gente, o verdadeiro candidato de centro é o Haddad, ok?

FHC, vai catar coquinho

FHC está procurando costurar uma união dos candidatos “não-extremistas”.

FHC está chegando um pouco atrasado no baile.

Há dois anos, quando o PT começou sua campanha internacional de achincalhamento das instituições brasileiras, chamando o impeachment de golpe, FHC era um dos poucos brasileiros com estatura para se opor a este movimento, defendendo a legalidade do impeachment através de artigos em grandes jornais, palestras no exterior e conversas com chefes de estado.

Há um ano, quando o PT começou sua campanha internacional de achincalhamento do judiciário brasileiro, na medida em que ficava claro que o destino de Lula era a cadeia, FHC era um dos poucos brasileiros com estatura para se opor a este movimento, mostrando que Lula foi julgado e condenado por um judiciário independente, através de artigos em grandes jornais, palestras no exterior e conversas com chefes de estado.

FHC não fez nada disso.

FHC se omitiu.

E agora, a duas semanas das eleições, FHC vem pregar a “união das forças democráticas”.

FHC, vai catar coquinho.

A divisão da nação

Em 1861, os Estados do Sul declararam guerra aos Estados do Norte. Os Estados Unidos entravam, assim, em um período de 4 anos de uma guerra civil que deixou cerca de 700 mil mortos. Atualizando para a população de hoje, seriam 5 milhões. CINCO MILHÕES DE MORTOS.

Não consigo pensar em nada mais divisor do que uma guerra civil. E os Estados Unidos são o que são. Não apesar da guerra, mas POR CAUSA da guerra. Não fosse a vontade férrea de Abraham Lincoln, até hoje considerado o maior presidente da história dos EUA, o país não passaria hoje de uma série de republiquetas. A divisão não tem nada a ver com o desenvolvimento dos países. Todos os países desenvolvidos têm divisões internas fortes e que levam, muitas vezes, à paralisia do governo. O que há, no entanto, é a convicção de que não há solução fora da democracia. Lembrando Churchill, a democracia é o pior de todos os sistemas de governo, com exceção de todos os outros.

Países com pensamento único são totalitários. Países democráticos resolvem seus impasses no voto, com um judiciário independente e uma imprensa livre.

A ascensão de Bolsonaro foi a resposta dada pelo povo brasileiro à apropriação do Estado brasileiro pelo PT, sob o olhar complacente dos tucanos. Se hoje Bolsonaro e PT polarizam as eleições, é porque o auto-denominado “centro democrático” não deu as respostas corretas no tempo correto. A tentativa de aglutinar forças a duas semanas das eleições soa patética.

Uma candidatura é uma construção com base na realidade. E a realidade é que o “centro democrático” representa pouca gente hoje. Por culpa exclusiva daqueles que hoje clamam por uma “união do País”.

Análise da pesquisa Datafolha

O DataFolha traz um quadro ligeiramente diferente daquele que o Ibope mostrou. Apresenta também o crescimento de Haddad, mas de maneira bem menos intensa do que o Ibope.

A impressão que eu fiquei, fazendo algumas contas que não vou detalhar aqui, é que a sondagem anterior do Ibope, de 14/09, subestimou a subida de Haddad. Isso pode ser observado, por exemplo, na “corcova” que a “direita” abriu sobre a “esquerda”, e que depois voltou ao “normal” no levantamento de 19/09.

A DataFolha mantém a tendência de crescimento de Haddad, mas de maneira mais suave, e em empate técnico com Ciro. Ou seja, de modo geral, a 2a vaga para o 2o turno parece muito mais em aberto no DataFolha do que no Ibope.

Vejamos a divisão “direita x esquerda”, somente votos válidos (lembrando que “direita” é Bolsonaro, Alckmin, Alvaro, Amoêdo, Meirelles, Daciolo e Eymael, enquanto “esquerda” é Haddad, Ciro, Marina, Boulos, Vera e Goulart):

20/08: Direita 51,3 x 41,0 Esquerda (indecisos: 7,7)

10/09: Direita 51,8 x 40,0 Esquerda (indecisos: 8,2)

14/09: Direita 51,7 x 41,4 Esquerda (indecisos: 6,9)

20/09: Direita 51,1 x 43,2 Esquerda (indecisos: 5,7)

Podemos observar que há uma tendência dos indecisos migrarem para a “esquerda”. Provavelmente, estamos vendo os eleitores de Lula que, em um primeiro momento, ficaram órfãos, e agora decidiram migrar para Haddad. A julgar pela quantidade de indecisos, esse movimento deve estar chegando ao fim. Para encostar em Bolsonaro, Haddad precisaria roubar votos de eleitores que já haviam decidido votar em Ciro Gomes e Marina.

Este levantamento também mostra que, em tese, seria possível a vitória de Bolsonaro ainda no 1o turno, caso metade dos indecisos e 79% dos votos da “direita” migrassem para o ex-capitão. É difícil, mas possível. No Ibope, não há essa possibilidade matemática.

Acho que o mais importante dessa sondagem do DataFolha é que um 2o turno entre Bolsonaro e Haddad continua sendo o mais provável, mas está longe de estar definido.

Porque sou contra a CPMF

Na minha já longa vida, me lembro da criação de vários tributos, com os mais diversos nomes e justificativas.

Político, quando você baixa a guarda, vai criar mais um imposto, certeza. Por um motivo muito simples: é mais fácil arrecadar do que cortar despesas.

Como eu ia dizendo, já vi a criação de muitos tributos. Mas a extinção de tributos, só vi em duas ocasiões: em 2007, a CPMF, e em 2017, o imposto sindical.

Para político acabar com tributo, é que a coisa chegou em um nível de irritação popular tal, que o próximo passo seria a Queda da Bastilha.

A CPMF era desses tributos que simbolizavam, como nenhum outro, a derrama. O imposto de renda você vê uma vez por mês. O IPTU e o IPVA são vistos uma vez por ano. Os impostos indiretos você não vê nunca, estão embutidos nos produtos. A CPMF a pessoa via todo santo dia, no seu extrato de conta corrente. Todo dia, um pouquinho da sua riqueza era subtraída. Aquilo me irritava profundamente.

Sem contar que atrapalhava qualquer transação financeira. Você precisava ficar planejando se ia passar um cheque, ou se valia a pena fazer um investimento.

Fora que se trata de um imposto cumulativo, que onera crescentemente toda a cadeia produtiva. E derruba a produtividade da economia, ao jogar areia nas correntes de transmissão do mercado financeiro.

A coisa chegou a tal ponto, que um dia disseram basta, e terminaram com aquela palhaçada. E isso com um presidente recém-reeleito, com bons índices de popularidade.

Agora, Paulo Guedes volta a citar um “imposto sobre transações financeiras”. Diz que não é CPMF, mas tem rabo de CPMF, focinho de CPMF e cheiro de CPMF. Paulo Guedes diz que não seria para aumentar a carga tributária. Afinal, ele é um liberal da gema. O novo imposto substituiria todos os outros federais, para “simplificar” o sistema.

Ora, existem muitas e boas propostas de racionalização tributária na praça, não precisa reinventar a roda. O imposto sobre transações financeiras não é praticado em nenhum lugar do mundo. Por algum motivo deve ser. Estudaram a implantação na Europa durante um tempão, como forma de obrigar o sistema financeiro a “contribuir” para ressarcir as perdas da crise. Desistiram, pois causa mais distorções do que benefícios.

A CPMF foi também proposta por Mauro Benevides, o assessor econômico do Ciro. Seria apenas sobre as transações “dos ricos”, acima de um determinado valor. É que, no meio de tantas propostas alopradas, essa acabou passando despercebida.

Quando, no entanto, a proposta vem de um Paulo Guedes, chama a atenção. Porque ele trabalhou no mercado financeiro, e sabe como esse imposto é pernicioso.

Mas, mais do que isso: Paulo Guedes deveria saber que a CPMF (com qualquer nome que se queira dar, e com as mais nobres intenções que se possa ter), foi escorraçada do Brasil em 2007, e o cidadão quer ver esse tributo pelas costas. Tudo o que Bolsonaro não precisava, neste momento, é começar a discutir a volta da CPMF.

Como já disse o próprio Paulo Guedes: ele propõe as coisas, mas é Bolsonaro quem define a viabilidade política das propostas. Eu só não imaginava que Paulo Guedes fosse tão cru em termos de sensibilidade política.

A volta da CPMF

Paulo Guedes propõe uma simplificação tributária: a volta da CPMF, substituindo todos os outros impostos federais.

CPMF.

Com um amigo desses, Bolsonaro não precisa de inimigos.