A verdadeira ameaça para a democracia

Esta é a reportagem de capa do Estadão hoje. Não precisa nem de pesquisa, todo mundo sabe disso: Bolsonaro avançou na antiga seara anti-petista do PSDB. A questão é: por que?

A entrevista com Pérsio Árida, assessor econômico de Alckmin, na mesma edição, dá a dica: perguntado qual seria o candidato que representaria “o maior risco ao país”, Arida aponta Bolsonaro como um “risco à democracia”.

Note que a questão não era sobre “risco à democracia”, mas “risco ao país”. Arida poderia ter citado Bolsonaro dentro de uma tática eleitoral, na medida em que é de onde poderiam vir os eventuais votos para colocar Alckmin no 2o turno. A justificativa (dado que era “risco ao país”) teria que ser algo do tipo “Bolsonaro não conseguirá aprovar as reformas necessárias e entraremos em uma espiral a la Venezuela”.

Mas não. Arida trocou a pergunta, e cravou Bolsonaro como o maior “risco à democracia”. Para tanto, desenterrou os gritos de tortura provocados pelo general Ustra, há quase 50 anos, quando o mundo e o país eram completamente outros. Com direito, inclusive, a um “reductio ad Hitlerorum”, lembrando do Holocausto.

O jornalista deu uma colher de chá, pois poderia ter terminado a entrevista ali. Aproveitando a nova pergunta criada pelo entrevistado, questionou se Bolsonaro era, então, “o maior risco”. Acho que nem o jornalista acreditou que o PT iria ficar de fora daquela resposta.

Arida, então, desfia tudo o que Lula e o PT vêm fazendo com as instituições brasileiras nos últimos anos. Não 50 atrás, mas nos últimos 16 anos, e continua fazendo até hoje. E concede que o PT e Lula também são um risco.

Como PSDB da gema, o reflexo de Arida foi responder que um fanfarrão que cita Ustra na votação do impeachment é um elemento mais pernicioso para as instituições democráticas do que um partido que, dia e noite, chama todo o Congresso de golpista, faz pouco caso da Justiça, orquestrou a maior pilhagem da história republicana e que quer controlar a mídia.

Depois, os “estrategistas” do PSDB se perguntam porque Alckmin virou um nanico.

Coincidências

No dia 20/03/85, o então presidente Tancredo Neves foi submetido a uma 2a cirurgia de emergência, para retirar “aderências” do intestino delgado.

Coincidentemente, no último dia 12, Bolsonaro também passou por uma 2a cirurgia de emergência, para retirar “aderências” do intestino delgado.

Espero, com toda sinceridade do mundo, que as coincidências parem por aí.

Análise da pesquisa Datafolha

A pesquisa DataFolha mostrou ontem mais um crescimento de Haddad, como era esperado com base nos resultados de outras pesquisas.

Mas outra coisa me chamou a atenção: a continuidade da escalada de Bolsonaro, de 24 para 26 pontos, coincidindo com o nível apontado pelo Ibope. Como o DataFolha anterior havia ido a campo depois do Ibope, achei que ocorreria o inverso. Mas não, o DataFolha alcançou o Ibope.

De onde veio esse crescimento? Aparentemente da diminuição do número de não-votos e da queda de Alckmin. Ou seja, Bolsonaro estaria recebendo votos tanto das viúvas de Lula quanto de eleitores do seu próprio campo eleitoral.

Aliás, por falar em campo eleitoral, vamos novamente fazer o exercício “direita x esquerda”. Relembrando:

Direita: Bolsonaro, Alckmin, Álvaro, Amoedo, Meirelles, Dacildo, Eymael

Esquerda: Ciro, Haddad, Marina, Boulos, Goulart, Vera

Os números referem-se somente aos votos válidos, ou seja, retirando-se os que pretendem votar em branco ou nulo. Os indecisos são mantidos.

22/08: Direita 51,3 x 42,3 Esquerda (indecisos: 6,4)

10/09: Direita 51,8 x 41,2 Esquerda (indecisos: 7,0)

14/09: Direita 51,7 x 41,4 Esquerda (Indecisos: 6,9)

Ou seja, as placas tectônicas estão se movimentando ainda dentro dos respectivos campos, basicamente com Haddad ocupando o lugar da Marina.

Tancredo e Bolsonaro

Fui assistir hoje “Tancredo: o paciente”. O filme retrata os últimos dias de Tancredo Neves no hospital, desde a sua internação até a sua morte, em 21/04/1985. O filme é muito bom, tem ótimo ritmo e excelentes interpretações. Vale muito a pena, principalmente para nós que vivemos aqueles tempos.

Grande parte da trama se dá em torno da tentativa de esconder do país o verdadeiro estado do presidente eleito. Não sei porque, lembrei-me de Bolsonaro.

Oremos

Apenas para registro: a legislação diz que, se o 1o colocado no 1o turno morre entre o 1o e o 2o turnos, o 3o colocado entra em seu lugar.

Hoje, o 2o e o 3o colocados são Ciro Gomes e Fernando Haddad.

PS: oremos.

Análise da pesquisa XP/Ipespe

A pesquisa XP/Ipespe, em que pese a metodologia controvertida (é feita por telefone) serve, como todas as outras, para detectar tendências.

A vantagem dessa pesquisa é que ela feita semanalmente desde maio, o que permite o acompanhamento de mais longo prazo com dados mais frequentes.

Na última, publicada hoje, vemos o seguinte:

1) As menções espontâneas a Bolsonaro saltaram para 20%. Vinham oscilando entre 15% e 17% desde maio. Na estimulada passou a 26%, vinha oscilando entre 21% e 23%. O atentado teve o seu efeito.

2) A espontânea de Lula despencou de 18% para 9%. Interessante que esta queda só ocorreu agora, depois que Lula desistiu da candidatura, e não logo em seguida à sua impugnação.

Uma parte pequena dessas intenções já foi para o Haddad, que subiu de 2% para 5%. A diferença parece ter ido para os “não sei”, que subiram de 25% para 32%. Ou seja, parece que há 3 tipos de eleitor do Lula: 1) aqueles que ainda não sabem que ele não é mais o candidato (50%); 2) aqueles que já sabem, e resolveram aderir ao Haddad (15%) e 3) aqueles que já sabem que Lula não é candidato e estão pensando em quem votar (35%). Se os que não sabem que Lula desistiu migrarem para Haddad nessa mesma proporção, a espontânea de Haddad sobe de 5% para 8%, o que significaria uma estimulada de 16%, considerando a proporção atual de 2 para 1 de todos os candidatos, menos Bolsonaro. Coincidência ou não, é este o patamar de Haddad quando ele é apresentado como “Haddad apoiado por Lula”.

3) Ciro também vem subindo consistentemente nas últimas 3 semanas (1 ponto por semana). Aparentemente, Haddad e Ciro vêm roubando votos de Marina Silva, que perdeu 5 pontos nesse período.

4) Alckmin continua patinando no patamar de 10% (9% nessa última pesquisa). Crescimento orgânico parece ser algo cada vez mais distante. A única esperança de Alckmin é que 2/3 dos votos de Amoedo/Álvaro/Meirelles, que somam 10 pontos, se transformem em voto útil, e o levem ao patamar de 16%, embolando com Haddad e Ciro. Para que isso possa eventualmente acontecer, é essencial que tanto Ciro quanto Haddad não cheguem a 20%.

É isso por enquanto. Vamos ver o DataFolha hoje à noite. Deve também mostrar crescimento de Haddad. Bolsonaro deve-se mostrar estável, pois será a 2a pesquisa depois do atentado. Vamos ver o que acontece com Ciro.

Um banco de fomento pra chamar de meu

Este é Luiz Marinho, candidato a governador de São Paulo pelo PT.

Como todo bom petista, quer criar um banco público pra chamar de seu. Crédito subsidiado pelos impostos dos desdentados. Talvez a política mais regressiva que se possa pensar.

Não custa lembrar o tamanho dos esqueletos fiscais escondidos nesses bancos estaduais, e que ainda assombram, por exemplo, o Rio Grande do Sul. Aqui, nos livramos do Banespa e da Nossa Caixa, bancos bons para os seus funcionários e para eleger políticos populistas.

Mas acho que estou sendo injusto com os petistas. Não são somente estes que gostam de crédito subsidiado. Há muitas viúvas das políticas cepalinas também no PSDB, que não conseguem conceber uma economia onde o crédito seja uma mercadoria a ser fornecida pelo mercado de capitais. O Estado (sempre ele!) sabe melhor onde investir.

Se a maior recessão da história, mesmo com 10% do PIB comprometido em créditos subsidiados pelo BNDES, não foi suficiente para convencer da ineficácia dessas políticas, então acho que o caso está perdido mesmo.

Sou um cara muito fino

Nessas horas, como eu gostaria de ser um cara sem pudor, boca suja mesmo, pra mandar essa Exame pra %!?~#|<*+, mandar todos os seus jornalistas se [%]#?\€{¥*|, e gritar muitas vezes cara%_£^_#}]*.

Mas como eu sou um cara muito fino, só desejo que a Abril não se recupere da RJ e vá à falência, que é o que vai acontecer depois que o Haddad assumir e levar o país à bancarrota.