Taxonomia da esquerda brasileira

Pequeno guia para classificar um esquerdista quando o assunto é Venezuela.

Grupo 1: esquerda democrática. Exemplos: Roberto Freire, Eduardo Jorge, FHC. Repudiam veementemente, sem colocar um “mas” depois do repúdio.

Grupo 2: esquerda autoritária envergonhada. Exemplos: Marcelo Freixo, Jean Willys. Repudiam, colocando um “mas” depois do repúdio. “Mas a direita também é golpista”, “mas o Temer”, “mas as oligarquias”, mas, mas, mas. Querem o socialismo do século XXI, mas os métodos ferem a sua sensibilidade.

Grupo 3: esquerda autoritária desavergonhada. Exemplos: a maioria, seria exaustivo listar. Apoiam sem restrições. Afinal, o socialismo é do século XXI, mas ainda não inventaram nada melhor que os métodos do século XX para implementá-lo.

Grupo 4: esquerda pra inglês ver. Exemplo: Lula. Não abriu a boca, que não é besta.

A não tão sutil doutrinação

Estadão, coluna de Eliane Catanhêde: “… surge o primeiro movimento claro de reaglutinação de forças, e é à esquerda. As articulações projetam, inclusive, um novo personagem nesse atual cenário vazio, desolador: Guilherme Boulos. […] Como Stedile, é inteligente e tem liderança. A diferença é que Stedile parece paralisado num passado que desmoronou e Boulos acena com o futuro”. […] “Assim como a esquerda se rearticula, as demais forças também. Entretanto, a extrema direita defender a volta da ditadura militar não é articulação, é ameaça”.

Valor Econômico, sociólogo Sergio Abranches: “O Brasil, durante a maior parte do tempo, tinha uma esquerda e o resto se dizia de centro. Ninguém se assumia como de direita, no sentido de ser conservador, antifeminista, contra a liberdade de expressão generalizada. Isso é um fenômeno muito novo”.

Valor Econômico, reportagem sobre os 150 anos de Marx: “…filósofo e revolucionário do século XIX, inspiração para os movimentos de esquerda e assombração para os governos autoritários de direita,…”

O que há de comum nesses três trechos, escolhidos entre tantos outros em apenas um dia de jornal? Basta saber ler para notar a glamourização da esquerda e a satanização da direita.

Catanhêde eleva à condição de estadista um radical que queima pneus nas ruas e usa pobres coitados como massa de manobra, mas o antidemocrático é somente aquele que pede a volta da ditadura militar.

Sergio Abranches identifica a direita com a falta de liberdade de expressão, quando são os regimes de esquerda que, notoriamente, eliminam esse direito uma vez no poder.

A reportagem sobre Marx guarda o adjetivo “autoritário” para a direita, quando, mais uma vez notoriamente, os regimes de esquerda se destacaram (e ainda se destacam, vide Venezuela, Cuba e Coreia do Norte) como autoritários.

A doutrinação é sutil, mas poderosa. O tempo inteiro, estão tentando nos convencer de que a esquerda é “do bem” e a direita é “do mal”.

A reportagem do Valor, onde Sergio Abranches nos brinda com a observação acima, tenta entender a ascensão da “extrema direita”, representada por Bolsonaro. O adjetivo “extrema” é usado ao longo de toda a reportagem. Lanço aqui um desafio: encontre hoje, no jornal, o adjetivo “extrema” associado à esquerda. Boa sorte.

O corporativismo continua firme e forte

Alguns números:

– Cunha foi eleito presidente da Câmara há dois anos com 267 votos. Hoje, Maia foi eleito com 293 votos.

– Em 2015, Arlindo Chinaglia, do PT, recebeu 136 votos. Hoje, a soma dos candidatos do “campo progressista” (André Figueiredo, do PDT e Luíza Erundina, do PSOL) receberam, no conjunto, 69 votos. Ou 13,5% da Câmara.

A isto se resume a esquerda ideológica no parlamento brasileiro. Fazem muito barulho, queimam pneus, quebram vidraças, mas são irrelevantes politicamente.

Infelizmente, porém, isso não significa que os liberais estejam em maioria. O grande inimigo do povo, o corporativismo, continua firme e forte. Privatização da Petrobras, nem pensar. Fim do imposto sindical, um sonho de uma noite de verão. Fim da estabilidade do funcionalismo público, faz me rir. Neste ponto, a esquerda ideológica e o centrão corporativista se dão as mãos para espoliar o povo brasileiro.