Dois contos do vigário

Uma parcela dos brasileiros caiu vítima de dois contos do vigário nas últimas eleições: o conto do “Lula pragmático” e o conto da ”frente ampla”.

Os eleitores que caíram no conto do “Lula pragmático” começaram a notar que haviam caído em um golpe antes mesmo da posse. O vídeo “agora estou com medo”, de Arminio Fraga, em dezembro, já se tornou um clássico.

Agora, é a vez dos brasileiros que caíram no conto da “frente ampla” começarem a desconfiar que foram vítimas de um golpe. A resolução do PT, chamando o impeachment de golpe e afirmando que o partido nunca se envolveu em corrupção, acendeu aquele incômodo sinal de alerta, em que desconfiamos que a palavra “trouxa” está escrito na nossa testa, sinal de que caímos no conto do vigário.

Houve quem visse “credenciais democráticas” em Lula, a versão política das “credenciais ortodoxas” de quem se iludiu com os primeiros anos de seu primeiro mandato. Não, Lula e o PT não são democratas, assim como não são pragmáticos. Lula e o PT são hegemônicos e autoritários, a exemplo de regimes que têm seu apoio, como os de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Seu conceito de “democracia” não é o de quem apoiou a tal “frente ampla”.

A exemplo da economia, na política Lula e o PT seguirão a sua natureza. O apoio de outras forças políticas se dará na base da submissão ou, como aconteceu nos mandatos anteriores, na base da corrupção. O problema, para Lula, é que, a exemplo da economia, a margem de manobra na área política está bem menor do que há 20 anos. Hoje, não está tão fácil montar um esquema de apoio como o mensalão ou o petrolão. O resultado será um governo travado, paralisado, com o PT falando sozinho do alto de sua arrogância autoritária.

Vai caindo a ficha

Após mais de 100 dias da vitória nas eleições (quando o governo Lula efetivamente começou, com a aprovação da PEC da gastança) e 45 dias de sua posse, os formadores de opinião vão notando que algo está fora dos eixos.

William Waack, em artigo de hoje, chama a atenção para o radicalismo irrealista de Lula, movido a um intenso ressentimento. E o editorial do Estadão aponta o tom de palanque do presidente, enquanto seu governo parece perdido. Algo que “não se esperava”, dada a ampla experiência de Lula como governante.

Desde o “agora estou com medo” de Arminio Fraga, a ficha vai caindo a respeito de Lula. William Waack atribui ao tempo na prisão a perda do pragmatismo esperado por quem nele votou. Um pragmatismo, diga-se de passagem, bastante legítimo de se esperar, dado o seu primeiro governo e a aliança com Geraldo Alckmin.

Particularmente, nunca dei esse benefício da dúvida a Lula. Escrevi uma série de artigos demonstrando que as mazelas do governo Dilma tiveram sua origem no governo Lula, que tem uma visão muito primitiva do processo econômico. E a aliança com Alckmin foi feita com a pessoa física, um político ressentido com seu partido e que encontrou uma chance de sobrevivência política. Não foi, portanto, uma aliança programática, algo que pudesse, de fato, influenciar os rumos do governo.

Ainda há quem continue esperando que Lula, um belo dia, acordará pragmático, e começará a governar como o fez em seus primeiros anos. É capaz de D. Sebastião voltar antes.

Não foi por falta de aviso

O editorial do Estadão sobre a diplomacia petista revela que o governo Biden ofereceu colocar por escrito o apoio à entrada do Brasil na OCDE no comunicado conjunto após a visita de Lula aos EUA. O governo brasileiro vetou.

O editorial coloca o veto na conta do incômodo do PT com “instrumentos de governança pública”. O mesmo incômodo, completo eu, que o PT tem em relação à autonomia do BC, à lei das estatais e à independência das agências reguladoras.

Mas seria injusto dizer que o PT não aprecia todas as “boas” práticas internacionais. Lula, por exemplo, já se mostrou fã das práticas do governo chinês, por exemplo. O mesmo editorial cita a fala de Lula, em que conclama Biden a encontrar um meio de “obrigar” Congressos e empresários a acatarem as suas decisões. Xi Jinping curtiu.

Esse é Lula, esse é o PT. O pacote para “salvar a democracia” vinha junto com essa ojeriza às boas práticas de governança pública e a esse viés autoritário. Muitos se deixaram enganar com Alckmin como vice da chapa, sinal de que, dessa vez, a coisa seria diferente. Não foi por falta de aviso.

Um museu de grandes novidades

Com todas as atenções voltadas para o grande palco da guerra entre Lula e o BC, pequenas batalhas em regiões secundárias acabam não chamando a atenção. Mas o somatório dessas pequenas batalhas acaba por definir o rumo da guerra. É o que temos nessa quase nota de rodapé.

Tive a oportunidade de escrever sobre essa Ceitec em abril de 2021. À época, o TCU barrou o fechamento da empresa pela “ameaça de demissão de funcionários”. A empresa foi fundado por Lula em 2008 e, desde então, nunca gerou lucro. No final, dependia de aportes de mais de R$ 50 milhões/ano para pagar seus funcionários. Era quase como pagar operários para cavar buracos e tampá-los novamente.

É óbvio que Lula reverteria o fechamento da empresa. Para tanto, estabeleceu um “grupo de trabalho” com representantes da AGU e Ministérios da Fazenda, Gestão e Indústria e Comércio, sob a coordenação do Ministério da Ciência e Tecnologia. Olha quantos homens e mulheres-hora estarão sendo desperdiçados na tentativa de encontrar argumentos para manter a empresa aberta. O governo Lula faria bem em poupá-los, dado que a decisão já está tomada, e não tem nada de técnica.

Lula ganhou a eleição e, como afirmou ontem, não precisa pedir licença para implementar o seu plano de governo. Sem dúvida, está no seu direito. Quem não está no seu direito de se surpreender é o eleitor que achou que Lula 3 seria um repeteco de Lula 1. Estava tudo muito claro, desde o início.

A popularidade inicial do governo Lula

Compilei as primeiras pesquisas de popularidade do novo governo. Até onde consegui identificar, foram três pesquisas até o momento: Atlas/Intel, PoderData e IPEC. Os resultados dos dois primeiros são muito diferentes do terceiro, o que não chega a surpreender. A Atlas indica uma popularidade líquida de +3 pontos, o PoderData de +8 e o IPEC de +24. As duas primeiras parecem fazer mais sentido, dada a ainda intensa polarização do país. Mas, para manter a coerência intertemporal da metodologia, calculei, como sempre, a média aritmética das 3 pesquisas, o que acaba por dar mais peso para as duas primeiras, que são mais próximas entre si. O resultado está no gráfico abaixo, com Lula estreando com 15 pontos de popularidade líquida.

Esse nível de popularidade inicial é a menor da série, com exceção de Temer. Bolsonaro começou com 18 pontos, que era a menor popularidade da série à época. O problema, para Lula, é que a coisa é daí para baixo. Com exceção do início do governo Dilma, todos os presidentes, inclusive Lula, tiveram quedas relevantes em sua popularidade nos primeiros meses de mandato, uma vez finda a lua-de-mel. Para piorar a coisa, o mundo tende a ser um lugar inóspito, a economia vai desacelerar, o espaço fiscal é exíguo para grandes pirotecnias.

Estamos ainda nos primeiros minutos do jogo, ainda é muito cedo para fazer prognósticos. Mas uma coisa é certa: Lula tem baixíssima margem de manobra, e ele sabe disso. Não por outro motivo, já começou a procurar bodes expiatórios para colocar a culpa.

Torneira de asneiras

“Então ele quer chegar à inflação padrão europeu, e não, nós temos que chegar à inflação padrão Brasil. Uma inflação de 4,5% no Brasil, de 4%, é de bom tamanho se a economia crescer. Você, com 4% de inflação, com 4,5, com a economia crescendo, é uma coisa extraordinária”.

Esse é um pequeno trecho da verdadeira torneira de asneiras que o presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, resolveu abrir em uma entrevista ao repórter do Pravda, quer dizer, da Rede TV, Kennedy Alencar. Vejamos se Lula tem razão em dizer que 3% é inflação “nível europeu”.

Na tabela abaixo, temos um levantamento das metas de inflação nos vários países do mundo que adotam essa sistemática. O levantemento é de 2021, por isso mostra o Brasil com meta de 3,75%.

No nível dos 3% de inflação temos: Albânia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Georgia, Hungria, Indonésia, México, Filipinas e Sérvia. Destes, apenas Albânia, Hungria e Sérvia são europeus. E, sem demérito, 3a divisão da Europa.

Já os países que adotam meta de 4,5% para cima temos: África do Sul, Belarus, Jamaica, Casaquistão, Malawi, Moldávia, Sri Lanka, Tanzânia, Turquia, Uganda, Ucrânia, Uruguai, Bangladesh, Kirguistão, Tadjiquistão, Zâmbia, Gana e Uzbequistão.

Daí, você pergunta: o Brasil quer pertencer ao primeiro ou ao segundo clube? Lula acha que não temos pedigree para pertencer ao clube de Chile, Colômbia e México. Nosso clube é dos vira-latas mesmo.

Em outro trecho da entrevista, Lula afirma que “seu” presidente do BC, Henrique Meirelles, teve total autonomia durante a sua gestão, mas que eles “conversavam”. Meirelles deveria vir a público para esclarecer que tipo de “conversa” o presidente “autônomo” do BC e o presidente da República tinham.

Enfim, o Lula do 1o mandato, aquele que enganou boa parte da Faria Lima, só existiu porque o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, entendia como a economia funcionava. Fernando Haddad, com todo o seu discurso preparado e fino, pensa exatamente como o seu chefe, que só é mais bocudo que o seu ministro. Não tem o mínimo risco de dar certo.

Os selvagens do mercado financeiro

O economista Eduardo Giannetti da Fonseca dá a fórmula do sucesso para o governo Lula na área econômica: não afrontar as “crenças ancestrais” do mercado financeiro, de modo a ganhar a sua boa vontade e, assim, implementar as suas próprias soluções para os problemas.

Ele não descreveu quais seriam essas “crenças ancestrais”, mas podemos imaginar: equilíbrio das contas públicas, reformas que aumentam a produtividade da economia, privatizações. A “vacina” de Lula, por outro lado, seriam créditos subsidiados para empresas escolhidas, uso das estatais para “induzir a industrialização”, estabelecimento de reservas de mercado. O que Giannetti propõe é que Lula reconheça o valor das “crenças ancestrais” para poder inocular a sua “vacina” sem a resistência dos primitivos. Resta saber como isso ajudaria a manter a consistência entre “sinais” e “ações”, conselho que o economista dá a Lula.

Na verdade, Lula está mantendo bastante consistência entre sinais e ações, como preconiza Giannetti. Enquanto demoniza o mercado, aprova uma PEC de R$ 200 bilhões em gastos. O seu ministro da Fazenda, este sim, está tentando seguir a receita do economista, apresentando um plano de ajuste fiscal pra pajé ver, enquanto o governo do qual faz parte inocula a vacina da “civilização científica”.

Tentei salvar a parábola do economista, imaginando que ele pudesse estar apenas usando uma figura de linguagem para indicar o modus operandi adequado para o governo, que não deveria bater de frente com os “selvagens” do mercado ao mesmo tempo em que adota a política econômica mais, digamos, “correta”. Mas essa interpretação é tão forçada, considerando os personagens envolvidos e o tipo de política econômica que um e outro propõe, além da necessidade de harmonizar discurso com ação, que fica difícil salvar qualquer coisa aqui.

Enfim, talvez Gianetti da Fonseca tenha apenas usado um exemplo infeliz. Mas o fato de elogiar a equipe econômica de Lula já nos dá uma pista de por onde andam as preferências do ex-guru econômico de Marina Silva. Os aborígines do mercado financeiro já têm vasta experiência com esses colonizadores que nos prometem um “outro mundo possível” e nos entregam somente devastação.

Gasta, mas fala diferente

“É proibido gastar.”

Tendo sido empossado como presidente em exercício, José Sarney leu o discurso preparado por Tancredo Neves para a primeira reunião ministerial do novo governo, em 19/03/1985. Ficou para a história a frase “é proibido gastar”, supostamente indicando um governo austero. No entanto, lendo o parágrafo anterior, podemos observar que a ordem valeria enquanto os ministros não fizessem um diagnóstico em suas pastas, de modo a identificar investimentos com o objetivo de promover o “desenvolvimento econômico com a geração de empregos”.

Lula segue a tradição. Mas, em tempos de redes sociais, aggiorna a mensagem. No melhor estilo “vendedor de curso on line”, pede para os ministros trocarem a palavra “gasto” por “investimento”. Assim, o “é proibido gastar” se torna “é proibido usar a palavra gastar”. O efeito final é o mesmo. Afinal, que ministro admitiria que seus gastos não são “investimento”? Isso vale tanto para 1985 quanto para 2023.

Tancredo, no entanto, encontrou um quadro bem diferente do que temos hoje, em termos de transparência das contas públicas. Tendo que lidar com uma inflação anual de 3 dígitos e verdadeiras máquinas paralelas de impressão de dinheiro, como o Banco do Brasil e os bancos estaduais, Tancredo não tinha como saber o buraco em que se metera. Lula não tem essa desculpa. Depois de décadas de reformas, sabemos, com razoável precisão, de onde vem e para onde vai o dinheiro público. Se o “investir” de Tancredo precisava ser antecedido por um diagnóstico financeiro de suas pastas por parte dos ministros, no caso de Lula, o diagnóstico já está feito. Em ambos os casos, no entanto, o “investimento para gerar o desenvolvimento” sempre se justifica.

O “é proibido usar a palavra gastar” de Lula nos dá a impressão de que andamos em círculos nesses últimos 40 anos, sempre em busca do “investimento que gerará o desenvolvimento”. A julgar pela perda de relevância do nosso PIB em relação ao PIB global nesse período, não se trata só de uma impressão.

O que esperar da popularidade inicial de Lula

Bolsonaro termina o mandato com uma popularidade líquida ligeiramente positiva (+2), segundo o Datafolha. Eu sei que tem muita desconfiança a respeito desse instituto de pesquisa, mas é o que tem a série mais longa, e serve bem para fazermos comparações intertemporais (ao longo do tempo), considerando que o viés, se houver, se mantém ao longo do tempo.

Considerando o histórico, a popularidade líquida de Bolsonaro no final de seu mandato é pior do que foi a de Itamar, FHC I, Lula I e II e Dilma I, mas é melhor do que foi a de Sarney, Collor, FHC II, Dilma II e Temer. Bolsonaro está ali na meiuca, não foi brilhante, nem tampouco um desastre, segundo a média das opiniões dos brasileiros.

Mas algo que eu gostaria de chamar a atenção não está neste gráfico. Segundo o mesmo Datafolha, em pesquisa divulgada no último dia primeiro, 49% dos brasileiros dizem esperar que Lula faça um governo ótimo ou bom, ao passo que 26% acham que o presidente fará um governo ruim ou péssimo.

Se esses mesmos percentuais se repetirem na primeira pesquisa de popularidade do novo governo, teríamos uma popularidade líquida de +23 pontos. Este é mais ou menos o mesmo nível de popularidade líquida que Bolsonaro tinha quando iniciou seu governo, e bem menor do que Lula I (+39) e Dilma I (+46). Claro, teremos que ver como sairão as primeiras pesquisas, que devem aparecer em 3 ou 4 meses, mas, aparentemente, o nível de boa vontade da população com Lula, hoje, é bem menor do que foi no passado.

A verdade

Bastaram três dias para uma parcela da opinião pública “descobrir” que o PT talvez não seja a tábua de salvação da democracia brasileira contra os “arreganhos autoritários” de Bolsonaro. Sejamos justos: a tal “vocação para o arbítrio” do ex-presidente se limitou à devoção ao coronel Ulstra e às invectivas contra Alexandre de Morais sobre um caminhão de som. O governo Bolsonaro não mudou uma vírgula da estrutura de governo a fim de lhe facilitar a perseguição de adversários políticos, que é a essência das ditaduras. No fim, como dolorosamente descobriram os bolsonaristas acampados na frente dos quartéis, Bolsonaro não passava de um ditador em potencial fake.

Segundo a definição da AGU, a nova Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia vai combater a desinformação em dois campos: políticas públicas e agentes públicos. A definição do primeiro certamente tem em mente a campanha de desinformação que ocorreu durante a vacinação contra a Covid. A segunda, deve ter como alvo a campanha de desinformação a respeito das urnas eletrônicas e os ataques a membros do STF. Ambas até podem ter o seu mérito, não é objetivo deste post discutir este ponto. A questão, como sempre, é quem define o que é “desinformação”. Ou, de maneira mais direta, quem define o que é mentira.

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres”. Este era o versículo predileto de Bolsonaro, o que, por suposto, o colocava ao lado daqueles que defendem a “verdade”. Se, por outro lado, os petistas se arvoram no direito de definir oficialmente o que é “verdade”, temos, então, um problema. Com Pilatos, perguntamos: “o que é a verdade?”

Seria muito reconfortante conhecermos “a verdade”. Não haveria disputas nem guerras. Todos concordaríamos sobre como resolver os problemas. Este é o conforto que as religiões nos dão, o de “conhecer a verdade”. Ocorre que a tal “verdade” encontra-se soterrada sob os escombros de nossas paixões. Soberba, ódio, amor, preferências inatas, experiências traumáticas levam cada ser humano a ter e defender a sua própria “verdade”.

A “ciência” é, frequentemente, chamada a testemunhar em favor da “verdade”. Sim, a ciência busca a verdade. O problema não é a ciência, mas os cientistas. Como seres humanos, os cientistas também são vítimas de suas paixões. A construção da verdade científica depende da interação dos cientistas entre si, cada um defendendo o seu feudo. Se os políticos que enchem a boca para falar que estão ao lado da “ciência” soubessem do que a salsicha é feita, talvez tomassem mais cuidado. Os cientistas também amam.

De tudo isso, resta uma convicção: a “verdade”, qualquer que seja, não pode ser determinada de cima para baixo em uma sociedade democrática. Um Ministério da Verdade só cabe em sociedades guiadas por um espírito autoritário. Uma “verdade revelada” por uma autoridade só faz sentido quando se reconhece naquela autoridade um cunho divino, não submetido às paixões humanas. Fora isso, a cacofonia de várias verdades disputando o primado de ser “a verdade” é a característica do reino dos homens. À perplexidade de Pilatos, a única resposta possível é o debate democrático, que passa longe de termos uma “verdade” determinada por um órgão do governo.