A conversa republicana

“Ah, mas a conversa será republicana, não haverá toma-lá-dá-cá”.

Ok. Não fui eu que disse aqui que a simples palavra “articulação” significava “malas de dinheiro”. Pelo contrário, sempre defendi a Política como a única saída, o que inclui conversar com os políticos. Quem afirmava que “conversar” significa “roubar” eram os bolsonaristas. Que certamente criarão uma versão edulcorada para essa “conversa”.

A boa e velha articulação política

O funcionário de Bolsonaro, Paulo Guedes, entrou no jogo da Velha Política.

Bolsonaro tem três alternativas:

1) Demite Guedes, mostrando quem realmente manda.

2) Assume a paternidade da ideia, inventando uma estorinha qualquer do tipo “Guedes terá um diálogo republicano com os parlamentares”. Em outras palavras, reconhece que “articulação política” pode ter outro sentido do que as malas de dinheiro do Gedel.

ou

3) Faz cara de paisagem, continua fazendo seu espetáculo no Twitter para sua plateia cativa e deixa o trabalho sujo para o seu funcionário. No melhor modo “eu pago meu despachante para conseguir as coisas, não me interessa como ele consegue”.

Vamos ver.

Índex bolsonarista

“Eu e o ministro Onyx vamos reunir uma série de parlamentares. E só tem um jeito de desarmar bombas: é no diálogo. Não tem outra forma.”

“Há insatisfações pontuais, em alguns casos por ansiedade de alguns parlamentares e de alguns partidos, em se sentirem parte do governo”.

“Nós entendemos isso e queremos que tais partidos que querem estar no governo estejam conosco, sem dúvida alguma”.

“O que está faltando é só a gente ajustar o tom do violino para que a música saia mais bonita.

“HASSELMANN, Joice, líder do governo no Congresso.

Mais uma destinada ao índex do bolsonarismo.

Atualize-se, Delegado Waldir!

Delegado Waldir foi reeleito deputado federal por Goiás com 275 mil votos, a maior votação para um deputado na história do Estado e quase 100 mil votos à frente do 2o colocado. Mais “povo” que isso, parece-me impossível.

Sua pauta está alinhadissima à pauta de Bolsonaro: combate à bandidagem, tanto nas ruas quanto na política.

Espanta-me que Delegado Waldir, o líder do PSL na Câmara e com esse currículo, venha com essa história de “articulação” e de “construção de base”. Será que ele não entende que “articulação” é sinônimo de “malas de dinheiro”? A que “faca” ele se refere, para cortar o abacaxi da reforma da previdência? Bolsonaro já disse que esse trabalho é do Congresso, ele que arrume a faca em algum lugar.

Delegado Waldir precisa se atualizar urgentemente. Parece até o Maia.

Lendo através das eleições no Tocantins

Muito se falou da pesquisa encomendada pela XP, feita pelo telefone, que coloca Haddad com 11% das intenções de voto quando aparece “apoiado por Lula”. Mas pouco se falou da pesquisa que importa, aquela das urnas.

No último domingo tivemos o 1o turno da eleição suplementar para governador em Tocantins, porque a chapa eleita foi cassada. O resultado foi o seguinte:

  1. Mauro Carlesse (PHS): 30,3%
  2. Vicentinho Alves (PR): 22,2%
  3. Carlos Amastha (PSB): 21,4%
  4. Katia Abreu (PDT): 15,7%
  5. Marlon Reis (Rede): 9,9%

Em 2014, Dilma Rousseff teve 59,5% dos votos em Tocantins, contra a média nacional de 51,6%. O governador eleito (e agora cassado) era do PMDB.

Mauro Carlesse, o vencedor do 1o turno, é o atual presidente da Assembleia Legislativa.

Vicentinho Alves, o 2o colocado, é senador e já foi deputado federal e deputado estadual.

Carlos Amastha, o 3o colocado, foi prefeito de Palmas de 2013 a 2018. Foi um dos 7 prefeitos que estiveram em uma reunião de apoio a Dilma e contra o impeachment em dezembro de 2015.

Katia Abreu, a 4a colocada, é senadora e uma das principais apoiadoras de Dilma Rousseff no senado, de quem foi ministra da agricultura.

E, finalmente, Marlon Reis, o 5o colocado, foi o juiz responsável por patrocinar a Lei da Ficha Limpa, notabilizando-se pela luta contra a corrupção na política.

Então, resumindo: em um estado que deu 60% dos votos para Dilma Roussef em 2014, os dois primeiros colocados são o ex-presidente da Assembleia Legislativa filiado ao PHS e um senador do PR. Ou seja, políticos profissionais.

Por outro lado, políticos de alguma forma ligados a Dilma (e a Lula, por que não), ficaram fora do 2o turno. Marlon Reis, que deveria ser o símbolo da luta contra a corrupção, chegou em 5o.

Então, a eleição no Tocantins mostrou que:

  1. a velha política continua viva da silva
  2. a proximidade com Dilma é tóxica. Quem conseguir ligar a imagem de Lula à da Dilma pode vencer o candidato apoiado por Lula
  3. ser anti-corrupção não é assim uma bandeira imbatível

Detalhe final: brancos, nulos e abstenção somaram 49% do eleitorado. Quem conseguir convencer o eleitor a sair de casa levará vantagem.