Um país dividido

Muito se tem falado sobre o silêncio das ruas. Por que os mesmos que bateram panelas e invadiram as ruas para a Dilma e o PT estão recolhidos ao calor de seus lares quando se trata de protestar contra a corrupção do atual governo?Todo mundo está dando palpite, então vou dar o meu também.

Na verdade, acho que a pergunta está errada. O que se deve perguntar é porque raios a classe média saiu às ruas e bateu panelas em 2015/16.

Desde que me conheço por gente, as únicas manifestações de rua da classe média haviam sido as diretas-já em 1984, a campanha pelo impeachment do Collor em 1992 e as passeatas de 2013, exigindo “padrão-FIFA” do Estado brasileiro. Mas nada se compara ao que aconteceu em 2015/16, em duração e tamanho.

Então, a regra é que a classe média fica em casa. Portanto, os últimos meses foram a regra, não a exceção. E por que a exceção de 2015/16?

Em primeiro lugar, o protesto contra a corrupção está longe de explicar o que aconteceu. Não faltaram corruptos notórios na história do Brasil, e que não mereceram passeatas multitudinárias. Minha hipótese é a seguinte: as manifestações ocorreram porque a corrupção foi encabeçada pelo PT.

FHC, em artigo de hoje no Estadão, relembra que Brizola dizia que Lula era a “UDN de macacão”. UDN era a sigla da União Democrática Nacional, partido que se destacava por ter um programa liberal, e apontar a corrupção do sistema político, principalmente sob Getúlio Vargas. A esquerda, sempre que quer desmoralizar um adversário que aponta seus defeitos, chama a crítica de “moralismo udenista”.

Pois bem. O PT cresceu criticando as estruturas carcomidas do estado brasileiro pela corrupção. Por isso, a observação de Brizola. E mais: quem não era PT e não apoiava a pauta “progressista”, era intrinsecamente corrupto, segundo o PT. Se você não é esquerda, você é ganancioso. Se você não vota no PT, você faz parte da elite insensível. Se você não é “progressista”, você não gosta de pobre.

O PT sempre se colocou como “O BEM”. Até hoje. Mesmo depois de tudo, o PT não sai do seu pedestal, apontando o dedo para todos que não rezam pela sua cartilha.

Minha hipótese, então, é a seguinte: a classe média saiu às ruas para derrubar um governo que se colocou acima do bem e do mal. Temer (assim como Maluf, Quércia, Ademar de Barros, e tantos e tantos outros) pode ser corrupto até o fundo da alma, mas não se coloca como a encarnação do BEM, contra o qual só pode haver o MAL.

Para sair às ruas, é preciso ter raiva. “Angry men” saem as ruas. Minha hipótese é que ninguém fica realmente bravo com a corrupção. Fica chocado, fica sem esperança, fica desconsolado. Mas bravo mesmo, fica quando alguém te acusa de ser do mal só porque não concorda com as políticas populistas de um governo. Um governo corrupto não divide um país. O PT dividiu o país. Então, o outro lado saiu às ruas. Esta é a minha hipótese.

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