A política de preços da Petrobrás

A Petrobras não está aumentando o preço do diesel em função da valorização do dólar. A greve dos caminhoneiros no ano passado deixou lições.

O único problema é que essa defasagem pesa no balanço da empresa, que ainda está muito endividada, e inviabiliza a venda das suas refinarias. Mas para um governo que tabelou juros, tabelar combustíveis é brincadeira de criança.

O fim do cheque especial

Há alguns dias, escrevi um post defendendo a proibição do cheque especial como modalidade de crédito. Comparei o cheque especial a uma espécie de dose de uma bebida alcoólica para um alcoólatra: o melhor seria a total abstinência, uma espécie de “lei seca”.

Obviamente, não acredito nessa solução. O “mercado paralelo” de crédito substituiria o cheque especial com taxas ainda mais altas. O alcoólatra não se deixa segurar pela falta do produto nas prateleiras oficiais.

E não é que o CMN resolveu acabar com o cheque especial? Não com essas palavras, mas na prática é o que provavelmente vai acontecer. Vejamos.

Há basicamente duas hipóteses: ou o preço da linha estava errado e o BC, em sua onisciência, determinou agora o preço “certo”, ou o preço estava correto. Na primeira hipótese, os bancos vão continuar oferecendo a linha e obtendo lucros “corretos” com o cheque especial. Na segunda hipótese, o produto vai faltar nas prateleiras, como acontece com qualquer tabelamento de preços. Façam suas apostas.

A tarifa que os bancos vão poder cobrar está longe de compensar o teto de juros. Primeiro, porque será descontada dos juros sobre a linha utilizada. Segundo, porque quem não utiliza a linha não vai querer pagar a tarifa. É o meu caso, por exemplo. A primeira coisa que vou fazer é pedir para reduzir minha linha do cheque especial para R$500, limite no qual não há cobrança de tarifa.

Campos Neto, presidente do BC, nega que tenha sido um tabelamento, dado que os bancos vão poder cobrar tarifa sobre os limites não utilizados. Tarifa esta também tabelada, diga-se de passagem. Campos Neto subestima a inteligência do seu público.

Falta concorrência no mercado bancário brasileiro. O tabelamento não vai ajudar. Pelo contrário, vai atrapalhar. Eventuais concorrentes com capacidade de cobrar juros mais baixos já poderiam ter entrado quando os juros do cheque especial estavam a 12%. A 8% esta possibilidade diminui.

Dilma Rousseff, a presidente mais intervencionista da história recente, tentou usar os bancos públicos para baixar as taxas de juros, mas não teve a ousadia de tabelar as taxas de juros de linhas de crédito. O cheque especial é só o primeiro da fila. Depois vem o cartão de crédito e as linhas sem garantia, todas muito caras. O BC, pressionado pelos congressistas, estabelecerá o “preço correto” para todas essas linhas. Meu conselho para você, que vive no cheque especial ou no rotativo do cartão de crédito: comece a procurar um agiota para substituir essas linhas de crédito.

Caetano é para poucos

Dá pra assistir a um show do Caetano Veloso?

Não, não dá.

Faço questão de assistir a um show do Caetano Veloso?

Não, não faço.

Se alguém me pagasse 100 milhões de dólares para assistir a um show do Caetano Veloso, eu assistiria?

A pobreza é uma virtude.

A face feia de uma boa administração

Os títulos do Flamengo estão sendo creditados à estupenda administração do clube. A mesma responsável pela tragédia que vitimou os garotos da base em seu CT.

Sim, eu sei que lembrar esse tipo de coisa em meio à festa do clube não é nada agradável. E eu não o faria se não insistissem nessa história de “o clube mais bem administrado do Brasil”. Um clube bem administrado não mata seus atletas de base. Ponto.

Ganhar títulos é só a faceta mais vistosa de uma boa administração. Mas está longe de ser a única.

Mais um time hegemônico

Leio e ouço algumas análises colocando o Flamengo como virtual campeão brasileiro em todos os próximos anos. Com o tamanho de sua torcida e a casa financeiramente arrumada, não vai ter pra ninguém.

Não consigo deixar de me lembrar das mesas redondas depois da Copa de 2014. A seleção da Alemanha era o resultado de um longo planejamento, que começara logo após ter perdido a Copa em casa em 2006. Em 2010 havia novamente sido eliminada na semifinal, mas isso fazia parte do planejamento, que havia sido feito para que a Alemanha atingisse o seu auge em 2014. Foi o que aconteceu, com os 7×1 e o título do torneio. As mesas redondas eram unânimes em apontar a Alemanha como a nova força hegemônica do futebol mundial. Tudo isso para cair na primeira fase da Copa de 2018.

O São Paulo foi tricampeão brasileiro nos anos de 2006, 2007 e 2008. E havia sido campeão da Libertadores e do Mundial em 2005. O papo era o mesmo: um time muito bem administrado, que seria força hegemônica dali em diante. O fato é que não ganhou mais nada desde 2008.

O Palmeiras da Parmalat foi outro time “hegemônico”. Ganhou os brasileiros de 1993 e 1994 e parecia que não ia ter pra mais ninguém. Teve.

O Flamengo montou um belo time e aparentemente está sendo bem administrado. Mas já vivi muito tempo para assistir a vários times “hegemônicos” que, mais cedo ou mais tarde, perdem o brilho e dão lugar a outro. O futebol brasileiro é como o país: muito instável, hoje está sendo bem administrado, amanhã estará sendo mal administrado. É da natureza do que acontece por essas bandas.

Os flamenguistas têm toda a razão em comemorar este ano de 2019, um ano perfeito. Mas não vamos tirar conclusões precipitadas. Foi um ano bom, sem dúvida. Mas não quer dizer nada sobre os anos que virão.

Viver intensamente o momento presente

Trabalho com investimentos, mais especificamente com investimentos de fundos de pensão. No meu ramo, o planejamento para o futuro é a razão mesma de ser da atividade. As pessoas poupam uma parte dos seus recursos para poderem usufrui-los em um teórico futuro. Um futuro que pode não chegar, como vimos na trágica morte de Gugu Liberato.

Vivemos como se fôssemos eternos. Ninguém levanta pela manhã achando que aquele será o último dia. Mas um dia será. Estamos sempre planejando o futuro, como se o futuro fosse algo líquido e certo.

Poupar dinheiro para o futuro é apenas uma pequena faceta desse planejamento. Deixamos de fazer coisas hoje porque as faremos no futuro em melhores condições.

Obviamente o nosso dia tem 24 horas, e é impossível fazer tudo o que queremos fazer. As coisas ficam para o dia seguinte, para a semana seguinte, para o mês seguinte, para o ano seguinte, para as calendas.

Estamos próximos do ano novo. É sempre uma época de resoluções, que mal lembraremos no final do ano seguinte. Somos os reis do planejamento. Que normalmente é o outro nome que damos para a procrastinação.

Longe de mim criticar o planejamento, as promessas, o guardar dinheiro para o futuro. Quem não planeja, quem não promete, quem não guarda, vive sem compromissos. E um homem que não se compromete não realiza nada.

Mas é preciso também viver o dia de hoje. Cada dia tem uma graça a ser descoberta. Viver o dia sonhando com a noite, viver os dias da semana sonhando com o fim de semana, viver os dias do ano sonhando com as férias, viver os dias da vida sonhando com a aposentadoria, tudo isso é viver pela metade.

O equilíbrio entre viver o presente e planejar o futuro é uma arte. A morte de uma pessoa jovem sempre me lembra que o futuro pode não chegar. É um despertador para viver intensamente o momento presente.

A impunidade como cláusula pétrea

Eros Grau foi o relator do voto que mudou o entendimento do STF sobre prisão após condenação em 2a instância. Isso em 2009, mais de 20 anos depois de promulgada a Constituição. Ou seja, passaram-se mas de 20 anos até que o STF resolvesse que, até então, a Constituição não estava sendo cumprida!

O douto ex-ministro escreve hoje sobre o seu voto. Claro, defendendo-o. Mas queria chamar a atenção para o último parágrafo, que anexo abaixo. Já escrevi sobre isso aqui: a prisão após o trânsito em julgado é cláusula pétrea da Constituição. Para mudá-la, só uma nova Assembleia Constituinte!

Eros Grau faz a distinção entre direito e justiça. No seu artigo, ele revela entrelinhas concordar que a protelação da prisão ad aeternum é injusta. Mas, continua o ex-ministro, o STF não está lá para fazer justiça, mas para aplicar o direito, o que significa aplicar o que está escrito na Constituição. Bem, a tomar as palavras do ilustre ex-ministro ao pé da letra (e é isto o que ele defende), não está longe o tempo em que o STF poderá ser substituído por robôs. Bastará fornecer a um software de inteligência artificial o texto da Constituição, e este será capaz de definir se um procedimento é constitucional ou não. Com a imensa vantagem de não precisarmos ouvir votos longos e enfadonhos.

Não, meus amigos. A Constituição foi feita por homens e, sendo assim, tem um espírito por traz, que muitas vezes é pobremente traduzido em palavras. Além disso, não se consegue visualizar todas as consequências de uma lei, como por exemplo, a flagrante impunidade daqueles que têm criminalistas pagos a peso de ouro a defendê-los. Para isso precisamos de juízes supremos que interpretem o espírito dos constituintes.

Receio que uma parte do STF possa efetivamente ser substituída por robôs e defendam, como Eros Grau, que a impunidade é cláusula pétrea da nossa Constituição. Aliados a estes, estão os ministros que não podem ser substituídos por robôs, pois estes atuam de maneira honesta e não mudam de opinião de acordo com as circunstâncias, dado o mesmo algoritmo, a Constituição. Unindo os robôs com os desonestos, temos uma maioria que afirmará a inconstitucionalidade de qualquer emenda que mexa com a presunção de inocência até as calendas.

Repito o que já disse aqui: não tem risco de dar certo um país que consagra como cláusula pétrea a impunidade.

Distribuição de renda, uma agenda liberal

Ninguém ousará duvidar das credenciais ortodoxas de Arminio Fraga. No entanto, para quem tem acompanhado suas últimas manifestações, causa estranheza sua ênfase no “combate à desigualdade” como condição sine qua non para a retomada do crescimento econômico. Parece mais o Piketti falando.

Arminio é um cara muito esperto. Ele já percebeu que esse negócio de “igualdade” é uma pauta que veio para ficar. Ao invés de lutar contra isso, ele arrumou um jeito de usá-la a favor de uma agenda para destravar a economia.

Note que ele não usa o bolsa-família como exemplo de política redistributiva, apesar de não ser necessariamente contra. Ele sabe que isso não passa de esmola que não muda a estrutura de um país. O que ele defende então?

Arminio defende a redução das transferências constitucionais para os mais ricos. Ele traz um dado espantoso: 25% da renda dos 20% mais ricos é fruto de transferências do governo. Isso inclui aposentadorias, salários de funcionários públicos, isenções fiscais das mais diversas naturezas. Ou seja, tudo aquilo que a esquerda defende a ferro e fogo.

Laura Carvalho, a musa dos desenvolvimentistas, estava no mesmo evento, e parece que ficou meio sem ter o que dizer, tendo a sua agenda espertamente roubada por Arminio para defender o contrário de tudo o que ela defende, principalmente no que se refere à reforma do Estado.

Precisamos aprender com Arminio Fraga.

Mais uma estatal

20 minutos do primeiro tempo e levamos um gol no contra-ataque, apesar da pressão e promessas privatistas.

Ainda tem muito jogo pela frente, o time é bom, o discurso melhor ainda. Mas vamos ver como o time reage saindo atrás no placar.