Conheço gente boa, bem longe de ser radical, que gosta, votou e votaria novamente em Fernando Haddad.
Haddad tem aquele jeito de intelectual ponderado, razoável, honesto intelectualmente, que se deixa convencer por argumentos. Ao mesmo tempo, é de esquerda, tem “preocupação social”. Por fim, tem ideias modernas sobre a organização social, está ligado nas grandes pautas globais sobre ecologia, inclusão, mobilidade. Enfim, trata-se de uma combinação poderosa para jovens e menos jovens.
Pois bem. Peguei o final de uma entrevista do ex-prefeito na CBN hoje. Com palavras fofas, defendia o mesmo cardápio de Lindbergh e Stedile: como se trata de uma condenação injusta, vamos manter a candidatura de Lula, pois o país merece tê-lo como candidato. Os detalhes jurídicos da pretensão seriam irrelevantes.
Haddad poderia ser uma voz ponderada dentro do PT. Apontar a nudeza do rei e liderar uma renovação. Esse seria o papel que combinaria com a descrição feita acima. Mas Haddad se mostra como o que verdadeiramente é: apenas mais uma marionete de Lula, afundando com o barco do mestre.
Fernando Gabeira (a quem sobra honestidade intelectual), em mais um iluminado artigo no Estadão de hoje, analisa a perda de tempo do país ao focar no tapetão de uma causa perdida, que é essa candidatura de Lula. Em determinada altura, diz: “Dentro ou fora da cadeia, Lula será um importante eleitor. Não creio que tenha descido acidentalmente ao lado de Jaques Wagner e Fernando Haddad em Porto Alegre. Faz parte do ritual comunista indicar a sucessão pela proximidade física nas aparições em público.”
Está aí. Haddad quer ser ungido por Lula seu sucessor. Ao invés de honestamente reconhecer os erros e reconstruir o partido sobre novas bases, quer montar sobre a popularidade do profeta de Garanhuns. Haddad, para decepção dos seus modernos e descolados admiradores, não passa de mais um político da velha guarda.