Caminho pelas ruas domingo de manhã. Moro em um bairro residencial com muitas casas e ruas tranquilas.
Estou assim, a caminhar, quando ouço um homem chamar.
– Senhor, senhor, fica com um cartãozinho meu, se precisar de pintura.
Minha primeira reação foi de negar a necessidade e continuar meu caminho. Alguns passos adiante, mudo de ideia. Não porque precise de pintor nesse momento. Mas porque não podia perder a chance de prestigiar a alma do capitalismo.
O Gleison Almeida poderia estar dormindo em seu barraco na favela. Poderia estar em um acampamento do MTST. Poderia estar bebendo no bar. Poderia estar mendigando. Poderia estar fazendo “justiça social” nos semáforos das ruas.
Mas Gleison Almeida não se conforma com sua sorte. Acorda cedo (sabe-se lá onde mora) para estar pintando portão às 9:00 de um domingo.
E chama um estranho na rua para fazer a sua propaganda.
O capitalismo é um sistema realmente cruel. Nele, os que querem trabalhar, os que são criativos, os que não se acomodam, levam vantagem. Um horror.
Não podia deixar de compartilhar os contatos do Gleison. Não conheço as suas qualidades como pintor. Mas é provável que um sujeito que sabe instintivamente jogar com as regras do capitalismo deva entregar um bom serviço. Porque faz parte dessas regras.