Pássaros

Ana Carla Abrão, ex-secretária de Finanças do Estado de Goiás, escreve artigo hoje comparando os opositores das privatizações no setor elétrico aos pássaros de Hitchcock. Perfeito.

O que eles não gostam de ouvir

O “mercado” representa a poupança de todos nós, brasileiros. Ao dizer coisas de que o “mercado” não gosta, Ciro, na verdade, está ameaçando todos os que têm investimentos e, consequentemente, todos os que precisam de crédito, a começar pelo próprio governo. Ou Ciro e Lupi acham que o “mercado” vai continuar financiando essa esbórnia fiscal?

As fake news verdadeiras

Manchete da Folha hoje: “A cada três dias, uma mãe entrega o filho para adoção”.

Isto significa cerca de 120 crianças por ano.

No Brasil, nascem cerca de 3 milhões de pessoas por ano. Ou seja, o número de crianças entregues para adoção representa 0,004% desse total.

Uma manchete do tipo “0,004% das crianças nascidas no Brasil são entregues para adoção” certamente criaria menos comoção.

As pessoas em geral têm muita dificuldade em lidar com números muito grandes. Malba Tahan, em um livro delicioso chamado “As Maravilhas da Matemática”, dedica um capítulo a fomentar o respeito pelo “milhão”. Ele demonstra como as pessoas usam a expressão “milhão” despreocupadamente, sem atinar para a verdadeira grandeza que esse número representa.

E se falarmos de bilhões? Aí é que a coisa se perde mesmo. Por isso, prosperam teorias simplistas, do tipo “basta acabar com a corrupção que o Brasil se torna um país rico”. Um grande complicador para o entendimento das finanças públicas é o fato de se contar aos bilhões (e a dívida pública está na casa dos trilhões!), ordem de grandeza que está longe da compreensão de quem não tem treinamento específico.

Os meios de comunicação se aproveitam dessa falha de cognição para estabelecer uma agenda. Isso acontece com o aborto, a pauta LGBT, a repressão da ditadura. Os números são geralmente muito menores quando colocados em sua real perspectiva. Mas o que importa é criar a comoção, como a manchete da Folha demonstra. Claro, uma mãe que entrega o filho para adoção já é uma tragédia em si. Mas estamos falando de políticas públicas, em que o Estado é chamado a mitigar inúmeras demandas competitivas, e a decisão de alocação não pode ser decidida pela “comoção”.

Khanemann e Tversky (o primeiro ganhou o Nobel) fundaram um ramo da economia chamado “finanças comportamentais”, que descreve as falhas de julgamento dos seres humanos diante de problemas envolvendo escolhas. Seu artigo, “Prospect Theory”, demonstra que as pessoas tomam decisões diferentes para o mesmo problema, dependendo da forma como este lhe é apresentado. Uma manchete do tipo “Cerca de 0,004% das mães brasileiras entregam seu filhos para adoção” descreveria exatamente o mesmo fenômeno da manchete original, mas com efeito oposto.

Enfim, é preciso ficar atento a esse tipo de coisa. Às vezes, as fake news não precisam ser falsas para serem fake.

Candidaturas femininas laranjas

Estão sob investigação as chamadas “candidaturas femininas laranjas”, aquelas que só existem para cumprir a cota de 30% de mulheres nas chapas dos partidos.

Ora, se há candidaturas fictícias é porque faltam mulheres dispostas a se candidatar e não que mulheres estejam sendo barradas em sua pretensão de serem candidatas.

Ok, pode-se argumentar que os partidos poderiam fazer um trabalho melhor no recrutamento de candidatas. Mas, como diz o ditado, você pode trazer o boi até o rio, mas não pode obrigá-lo a beber água.

Estabelecer cotas é o mesmo que fazer tabela de frete: a realidade acaba se impondo.

O moto-perpétuo dos gastos públicos

Entrevista de Laura Carvalho no UOL, desfilando o argumento favorito dos desenvolvimentistas: o moto-perpétuo dos gastos públicos.

Por esse “raciocínio”, bastaria o governo (qualquer governo) aumentar os gastos para aumentar a arrecadação de maneira mais do que proporcional. Assim, no limite, não há porque ter limite para o gasto público, pois este criaria a própria arrecadação.

Se fosse assim fácil, todos os países perdulários seriam riquíssimos. Não é o que vemos, pelo contrário. E quando este tipo de coisa não dá certo, é porque o investimento não foi feito “no lugar certo”.

E gente assim está na FEA-USP.

Prioridades

Hoje no rádio, propaganda de um musical da Broadway, Peter Pan. Ao final, uma série de empresas patrocinando e o onipresente Ministério da Cultura, sinal de que o espetáculo foi subsidiado com apoio da Lei Rouanet.

Resta saber porque um musical da Broadway precisa ser subsidiado com um dinheiro que poderia estar sendo gasto com outras inúmeras prioridades.