Minha avaliação do Bolsonaro, ontem, no Roda Viva.
1) Suas limitações ficaram evidentes. A primeira pergunta do programa, que é a mesma para todos os candidatos (qual a marca que gostaria de deixar para a posteridade) já era conhecida, e mesmo assim recebeu como resposta um programa de governo inteiro, obviamente ensaiado, mas que não respondia à questão. Ao insistir na pergunta, o jornalista recebeu como reposta um dos itens daquele programa (um Brasil mais liberal), que pareceu meio aleatório e está longe de ser uma marca memorável. A falta de preparo ficou evidente em outras ocasiões, quando as perguntas eram mais específicas. No fim, não conseguiu citar sequer um brasileiro que o inspira. Podia ter sacado um, sei lá, Duque de Caxias, mas nem isso. Ficou fazendo searching ao vivo.
2) Por outro lado, transpirou autenticidade. Colocou-se firmemente à direita do espectro político, sem preocupação em “ganhar votos” de quem ele sabe que nunca os terá. Usou e abusou do politicamente incorreto, como quando atacou as cotas. Foram os momentos mais divertidos do programa. Sua reposta a José Gregori foi o equivalente semântico à resposta que deu a Maria do Rosário: não te mataria porque você não merece (ele não disse isso, mas foi esse o sentido). Essa característica “bocuda” do candidato é o que dá o sal e o distingue do chuchu Alckmin.
3) Para os que ainda têm dúvidas sobre as suas “convicções liberais”, o candidato me pareceu convincente. Chegou ao ponto de criticar Geisel pela criação de estatais, ainda que contextualizando. O casamento com Paulo Guedes parece firme, e seus “senões” ao programa puro liberal vem mais do perfil médio do brasileiro, que gosta de um Estado grande, e que acaba se refletindo no perfil do Congresso, criando dificuldades para a aprovação de medidas liberais. Isso é só realismo, não é anti-liberalismo, e o Bolsonaro me pareceu realista neste ponto, não anti-liberal. Com o que ele falou ontem, acho que passa no “Teste da Faria Lima”.
4) A bancada do programa foi um espetáculo à parte. Gastaram o primeiro bloco inteiro falando do golpe e da ditadura militar, com a honrosa exceção da jornalista da Veja. E o assunto ainda retornou algumas vezes com outras roupagens. Quando é que esse pessoal vai entender que ele não vai perder votos porque apoia os militares, mas sim porque eventualmente não se mostrará preparado para enfrentar os problemas do Brasil? Essa pauta do golpe parece um disco riscado, que interessa a meia dúzia de intelectuais e jornalistas. E ainda deu palanque para que o candidato mostrasse a sua performance em campo conhecido e confortável.
Conclusão: quem acha que a mera exposição do Bolsonaro o fará desidratar, acho melhor colocar as barbas de molho. Ontem, durante uma hora e meia, foi exposto a uma bancada francamente hostil, e não acho que tenha perdido votos. Lembrando que Bolsonaro, hoje, é o único candidato que pode se dar ao luxo de não precisar de votos adicionais para ir ao 2o turno, basta não perder os que já tem.
A única forma de tirar votos do capitão, em minha modesta opinião, é explorar sua fraqueza, que é a falta de preparo e experiência. Insistir nas pautas da esquerda só vai fortalecer a sua candidatura, pois foi aí que ela se construiu.