A mentalidade socialista

A queda do muro de Berlim e a unificação da Alemanha completarão, no ano que vem, 30 anos.

Estes 30 anos não foram ainda suficientes para desfazer o mau que o socialismo fez em quase 45 anos de poder.

Claro, para fazer essa afirmação, é preciso saber a diferença de desenvolvimento entre as duas regiões antes da Guerra. Meu palpite é de que a região oriental era mais rica, dado que a capital, Berlim, se encontrava lá. Mas é um mero palpite, não tenho conhecimento a respeito.

De qualquer forma, os números sugerem que a questão não é meramente monetária. Não bastaram toneladas de investimentos para nivelar as duas regiões. A questão deve passar pela mentalidade: duas gerações cresceram sob o socialismo, em que o Estado provê tudo e o esforço individual conta muito pouco. A reversão dessa mentalidade exige mais do que dinheiro.

Voto útil

Até Eliane Catanhede às vezes acerta. Ela diz o que parece óbvio: o voto em Bolsonaro no 1o turno pode significar a volta do PT ao poder, caso ambos consigam chegar ao 2o turno.

Claro, quem vota em Bolsonaro por convicção, deve permanecer com seu voto. Mas para quem o anti-petismo é maior que seu amor por Bolsonaro, o voto no ex-capitão não é tão óbvio assim.

Alckmin, se for esperto, estimulará o voto útil ainda no 1o turno, a depender da performance do candidato do PT.

Escolhendo o menos pior

Passei férias em Buenos Aires em janeiro de 2014. Alguns lugares aceitavam o real, ao câmbio de 4 para 1. Ou seja, um real comprava 4 pesos.

Ontem, esse mesmo câmbio fechou em 9 para 1. Hoje, um real compra 9 pesos.

E lembre-se, o real também se desvalorizou muito nesse período em relação ao dólar. Mas o peso argentino se desvalorizou muito mais.

Não por coincidência, Argentina e Venezuela são os dois países com as finanças mais em frangalhos na América do Sul. Anos e anos de políticas populistas, aquelas baseadas na premissa Unicampiana de que basta estimular a demanda para o país crescer, resultou em uma inflação estratosférica e na corrida contra a moeda. O dinheiro para estimular a demanda simplesmente acabou.

Brasil, Equador e Bolívia, apesar de fazerem parte do “circuito bolivariano” por muitos anos, não chegaram a este ponto. Lula, Correa e Evo tiveram a esperteza de se elegerem com um discurso de esquerda e governarem a economia com práticas de direita. Os três países estão longe de serem economias exemplares, mas não chegam perto de Argentina e, principalmente, Venezuela.

Dilma estava nos levando para o mesmo caminho. Ela de fato acreditava que a mão forte do Estado era fundamental para fazer a roda da economia girar. O país percebeu que a vaca estava indo para o mesmo brejo onde já estavam os dois países-irmãos, e resolveu impicha-la antes. Temer pode ter todos os defeitos do mundo, mas é preciso reconhecer que, com ele, aquela trajetória foi, ao menos, interrompida.

Agora temos uma eleição. É preciso distinguir, dentre os candidatos, aqueles que retomariam o caminho para o desastre. Considerando os que têm chance de vitória, Haddad e Ciro vestem esse figurino. Seus programas de governo são populistas na área econômica, e têm a fé no Estado como indutor do crescimento econômico como ponto em comum. O risco é que, tanto um quanto o outro, realmente acreditam nisso, assim como Dilma acreditava. É difícil encontrar um candidato que bata 100% com nossas preferências. Em uma eleição majoritária, é preciso, muitas vezes, votar no menos pior. Antes de votar, vou dar uma olhada na Venezuela e na Argentina. E vou procurar votar de forma a diminuir as chances de que o Brasil retome o mesmo caminho.

Descobriram porque existe diferença salarial

Da página de Roberto Curcio.

“Mas o Bonner é ancora

Mas o Bonner é editor chefe

Mas o Bonner tem mais tempo de casa

Mas o Bonner…

Pronto pessoal vocês acabaram de entender por que os salarios são diferentes e por que Bolsonaro diz que Estado não deve interferir no Livre Mercado.

CLT

Procure a justiça do trabalho.

Tiveram 14 anos de PT e descobriram agora que ganham menos e que a culpa é do candidato do PSL.”

O que quer Geraldo Alckmin?

Antes de comentar a nota abaixo, permitam-me relembrar o que escrevi aqui mesmo no dia 19/08:


“Vera Magalhães, no mesmo artigo, define bem a campanha de Alckmin até o momento, a não ser por um detalhe, que comento adiante. Segue o trecho:

“De que vale Geraldo Alckmin juntar 44% do tempo de TV da propaganda eleitoral, um arsenal de deputados e senadores, se quando colocado diante do eleitor ao vivo se comporta como um candidato a prefeito de Pindamonhangaba, enfileirando siglas, falando de matas ciliares, chamando sparrings para fazer pergunta porque não tem coragem de ficar tête-à-tête com aquele que lidera a eleição no Estado em que ele governou quatro vezes? Por que ele acha que esse discurso mole, em tom monocórdio e sem mostrar qual seu projeto de País, sem fixar uma miserável ideia-guia que seja, vai fazê-lo crescer?”

É isso. Alckmin parece perdido.

Para entender essa eleição, é preciso ter em mente que ela corre em dois eixos: esquerda x direita e establishment x anti-establishment. Bolsonaro é claramente direita e anti-establishment. Marina é esquerda e anti-establishment. Os dois lideram as pesquisas no momento, sugerindo que o voto anti-establishment está na frente. Ciro e Álvaro Dias tentam passar por anti-establishment, mas sem o sucesso dos dois primeiros.

Do establishment temos Alckmin e Haddad. Haddad à esquerda e Alckmin…, bem, este é o problema.

O candidato do PSDB se propôs, e isso ficou claro desde o início, a encarnar o candidato de “centro”, que apela aos “isentos”, àqueles que não gostam de radicalismos. Como diria o inefável Kassab, nem direita, nem esquerda, nem em cima, nem embaixo. O resultado é essa gelatina sem sabor que vemos. O brasileiro médio não parece muito disposto a discursos conciliatórios no momento.

Alckmin vem também tentando atacar Bolsonaro no campo da “competência e experiência”, o que resulta nesse discurso insosso que Vera Magalhães descreve muito bem. Além disso, “experiência” não conta muito quando as coisas vão mal (13 milhões de desempregados!). A pergunta óbvia é: se você é tão competente quanto diz, por que as coisas estão essa zerda de dar gosto? Além disso, a experiência é prima-irmã do establishment, e Bolsonaro explora bem esse parentesco.

Geraldo Alckmin precisa se decidir de quem quer roubar votos. Para roubar votos de Bolsonaro, ser “de centro” e “ser mais competente” parece não estar funcionando até o momento. Uma outra tática possível seria atacar as esquerdas em geral e o PT em particular com uma virulência maior do que o capitão. Foi o que fez João Doria em São Paulo com sucesso.

É neste ponto que a análise de Vera Magalhães falha: Alckmin não ganha nada confrontando diretamente Bolsonaro no campo da esquerda, como fez Marina. Este campo já está muito congestionado, até o Meirelles apareceu defendendo as mulheres! Ele precisa mostrar para o eleitorado perdido de São Paulo que é o melhor candidato para enfrentar a esquerda no 2o turno. Para isso, ele precisa atacar a esquerda no 1o turno. Se ele atacar Bolsonaro, ele próprio parecerá pertencer à esquerda, disputando votos com Ciro, Marina e Haddad para enfrentar Bolsonaro no 2o turno. É uma tática mais arriscada.


Pois é. O gênio político percebeu o que já estava claro desde sempre. Inclusive, a questão do voto útil anti-petista ainda no 1o turno, dada a potencial maior rejeição a Bolsonaro, coisa que também analisei aqui há alguns dias.

No entanto, pode ser muito pouco, muito tarde. Escrevi isso em 15/08:

O PSDB, com raríssimas exceções, não soube capitalizar o sentimento anti-petista surgido com o mensalão. Digo “surgido” não porque não existisse antes, mas era um fenômeno muito mais restrito. O mensalão mostrou a verdadeira cara desse partido, mas um não sei que de cumplicidade ideológica misturada com o receio de parecer troglodita aos olhos da inteligentzia nacional, fez com que o PSDB colocasse panos quentes sobre o mensalão, sovando o que seriam mais 10 anos de governos petistas.

Hoje, o discurso do PSDB não é muito diferente. “A lei é para todos” é um mote que está longe de satisfazer o anti-petismo. Levar um saco de lixo com a estrela do PT como fez Bolsonaro é o mínimo que se esperava. Não fizeram em 2005, não estão fazendo hoje. Aliás, hoje seria tarde demais. O PSDB perdeu o bonde da história.”

De qualquer forma, só resta a Alckmin o discurso do voto útil anti-petista. Será crível? Será suficiente?

Amoêdo e a Agenda 2030

Uma das “provas” do suposto “esquerdismo” de João Amoêdo seria seu apoio a tão falada “Agenda 2030 da ONU”. Não conhecia a tal agenda, mas comecei a ver menções cada vez mais frequentes a ela em ataques ao candidato do Novo. Não dei muita importância de início, dada a conhecida “agenda anti-globalista” de vários adeptos da candidatura Bolsonaro, inclusive com a extinção pura e simples da ONU. Não que eu discorde totalmente desse ponto, acho a ONU de uma inutilidade atroz, mas às vezes a coisa parece meio paranoica.

Como eu estava dizendo, não tinha muita curiosidade em ver a tal Agenda 2030, até que um amigo fez um comentário em um dos meus posts, questionando meu apoio a Amoêdo por conta do apoio dele à Agenda. Como tenho em alta reputação este meu amigo, fui atrás para conhecer um pouco mais.

Em primeiro lugar, Amoêdo, quando perguntado (está em vídeo no YouTube pra quem quiser ver), falou o óbvio: a Agenda 2030 foi assinada por 194 países do mundo inteiro, incluindo todos os mais desenvolvidos. Então não faz sentido o Brasil isolar-se, ficar de fora. Segundo, que a co-autoria da vereadora Janaína Lima, do Partido Novo, à implantação da Agenda na cidade de São Paulo, foi uma decisão dela, o Partido não tem orientação específica a respeito. Além disso, o Brasil aderiu à Agenda. Portanto, a cidade de São Paulo somente seguiu aquilo que, como país, o Brasil já tinha aderido. E, em terceiro lugar, Amoêdo disse que há pontos positivos na Agenda de maneira geral, ainda que possa haver pontos que não façam sentido. É este terceiro ponto que resolvi investigar.

A Agenda 2030 é formada por 17 grandes temas, divididas em 168 ações. Fui verificar uma por uma dessas ações, e o resultado está na tabela abaixo, onde procurei classificá-las pelo seu nível de “esquerdismo”. Cada linha é um grande tema, com suas respectivas ações.

Pintei em verde as ações que considerei corretas. Em amarelo, estão as ações que considerei populistas, ou que seguem a agenda ambientalista, ou ainda, que podem dar margem a algum nível de ação esquerdista. Por exemplo, bastou colocar a palavra “empoderamento”, já mereceu um amarelo, mesmo a ação sendo correta. E, em vermelho, ações que seguem claramente uma agenda esquerdista, seja nos costumes, seja na economia. Fica aqui o aviso de que são os MEUS critérios. Convido a que façam o mesmo exercício com os seus próprios critérios, ao invés de simplesmente ficarem repetindo bovinamente verdades ditas por influencers de YouTube.

Podemos observar que Amoêdo está certo em sua afirmação. De fato, grande parte da Agenda é positiva. No entanto, pode-se argumentar que algumas maçãs podres no cesto servem para estragar o cesto todo. É verdade. Mas também é verdade que vivemos em um mundo onde nem todos pensam de maneira igual a mim ou a você, e se não aprendermos a conviver com as diferenças de opinião, acabaremos isolados em nossa seita, vociferando contra o mundo, enquanto o mundo avança na direção do que a maioria quer. O que eu quero dizer é que, queiramos ou não, a Agenda existe, o Brasil aderiu a ela, e precisamos fazer desse limão uma limonada. Negar tudo e ficar isolado não é uma alternativa.

A Agenda tem uma linguagem suficientemente ambígua para abrigar interpretações positivas mesmo em ações claramente negativas. Por exemplo, a ação sobre os “direitos reprodutivos” e “planejamento familiar” claramente está lá para defender o aborto. Mas a palavra aborto não está mencionada, o que já é uma vitória, e uma fresta por onde pode passar a defesa da vida mesmo com a implementação dessa ação. Além disso, o aborto não precisa da Agenda 2030 para ser implementado, como temos visto em diversos países.

Eu encaro a Agenda 2030 como uma grande carta de intenções de políticos e burocratas. Aliás, a ONU é o paraíso da burocracia estatal. Sua implementação é tão segura quanto os programas de governo dos políticos em véspera de eleição.

A “denúncia” do tal “apoio” do Amoêdo a esta agenda é só mais uma tentativa de dizer que o candidato do Novo é um “esquerdista disfarçado”. Seria o mesmo que eu dizer que Bolsonaro é um “esquerdista disfarçado” porque não quer privatizar a Petrobrás e defende que o nióbio seja nacionalizado. Cada um sempre tem alguma ponta de “esquerdismo”. Se você procurar, vai achar.

Tabelando o câmbio

A Abimaq pedia um câmbio mais desvalorizado. Agora que o dólar está acima de 4 reais, a entidade pede uma espécie de “tabelamento”, para evitar a volatilidade.

Ok. Será que a indústria toparia um tabelamento de seus preços em troca do tabelamento do câmbio? Gastar horas e horas em Brasília negociando tabelas? Voltando a Brasília quando essas tabelas ficassem defasadas? Deixar que Brasília mandasse na decisão mais delicada de uma empresa, que é o preço de seus produtos?

Tabelar o câmbio no “ponto de equilíbrio da balança comercial” é um pesadelo muito maior. Já vivemos uma crise cambial no final dos anos 90. Mas parece que não aprendem.