Esta proposta do Ciro é errada de várias maneiras combinadas.
1. O Banco do Brasil e a Caixa serão obrigados a aceitar um desconto sobre a dívida inscrita no SPC. Não será como em um feirão de renegociação, como na comparação mal-intencionada do candidato. Em um feirão, os bancos negociam um a um, e têm um budget para negociar. Na renegociação do Ciro, a ordem vem de cima para baixo, forçando um cancelamento de dívida que pode estar acima de sua capacidade de conceder. No final, o governo precisará capitalizar seus bancos. Com que dinheiro? Já vimos BB e Caixa sendo usados para implementar políticas de juros no governo Dilma, e o resultado não foi dos melhores.
2. Os bancos privados também serão chamados a colaborar, mediante uma redução do depósito compulsório. Ou seja, além de liberar espaço no balanço das famílias, os bancos privados terão mais dinheiro para emprestar. Será um novo voo de galinha, baseado exclusivamente no crédito, e que termina em mais inflação. Novamente, já vimos esse filme antes.
3. É o governo que vai pagar a dívida dos inadimplentes (“são só R$1.800 por família!”), não são os próprios, como em um feirão de renegociação. De onde sairá o dinheiro?
4. Mas talvez o efeito mais deletério seja sobre o comportamento do devedor. Se eu sei que não precisarei pagar a dívida, então vou me endividar pra valer! No final, o governo paga. É o efeito Refis. “Ah, mas nunca mais o governo vai fazer isso, é só uma vez!” Quem disse? Se fez uma vez, por que não pode fazer de novo? Os endividados sempre esperarão outro “limpa-nome”. E, enquanto isso, se endividarão mais.
Ciro está comprando os votos dos endividados com o dinheiro de todos os contribuintes. Aqueles que não se endividaram ou que pagam suas dívidas em dia são trouxas, no final do dia.
É isso: Ciro é o candidato que acha que todo mundo é trouxa.