Arrasa quarteirão

Aqui está o jingle da campanha de Jânio Quadros à presidência da República, o varre varre vassourinha:

Aqui está a propaganda eleitoral de Fernando Collor, prometendo caçar os marajás e corruptos do serviço público:

Aqui está a peça publicitária dos ratos, da propaganda eleitoral de Lula em 2002:

https://youtu.be/Kx7-6TPz9VU

Uma das poucas vantagens de ser mais sênior é ter passado por mais coisas na vida. Essas campanhas eleitorais me vieram à mente depois de ter visto um vídeo de uma pessoa que não conheço, defendendo o voto em Bolsonaro e não em Amoêdo.

O raciocínio do rapaz era de uma simplicidade cristalina: Amoêdo é um excelente candidato, apto a construir um edifício high-tech maravilhoso. Mas, antes, precisamos de alguém que drene o pântano, limpe o esgoto da política nacional. Para isso, precisamos de um cara de coragem, firme nas suas posições, que não vai se dobrar aos conchavos. E esse cara, claro, só pode ser o Bolsonaro.

Assim, e essa é a conclusão, Bolsonaro é o cara que vai liderar a limpeza que precisamos fazer na política, antes que possamos construir um novo Brasil. O paralelo com as campanhas acima é irresistível.

Jânio, Collor e Lula também prometiam moralizar os costumes políticos e acabar com a corrupção.

Jânio renunciou, Collor foi impichado, Lula está preso.

Nem vou entrar no mérito se cada um deles era sincero ou não em suas promessas. Jânio talvez, Collor e Lula certamente não. Mas isso é o de menos. Bolsonaro pode ter o coração mais reto, a alma mais pura da política brasileira. Ele pode realmente estar bem intencionado. Não importa.

O que realmente faz uma sociedade avançar não é um “salvador da pátria”, aquele que vai “prender e arrebentar”. O avanço da sociedade é fruto de instituições sólidas, construídas no ir e vir, nos acertos e erros da sociedade civil. Imprensa, Governo (em todos os níveis e dimensões), Opinião Pública, cada qual fazendo a sua parte.

Claro, o Presidente da República pode ser um indutor. No entanto, a experiência mostra que induzir não significa “política de terra arrasada”. E é este tipo de política que, aparentemente, vários bolsonaristas defendem e esperam. A História mostra que, na política de terra arrasada, o único que acaba arrasado é o próprio presidente.

Guardadas as devidas diferenças, a promessa de “sanear a política” é tão demagógica quanto a promessa de “dar educação, saúde e dinheiro para todos”. O avanço tanto da política quanto da economia demanda a construção de instituições sólidas, que não se fazem da noite para o dia. Dizer que basta a presença de um cara macho e honesto no Palácio para que os políticos se comportem é, para dizer o mínimo, ingenuidade.

Claro, o voto em Bolsonaro pode ser justificado como um primeiro passo para mexer com as estruturas na direção correta. Mas, neste caso, a eleição de Amoêdo também significaria este passo. Se eu não espero por um “salvador da pátria”, Amoêdo passa a ser um bom nome.

Esta é uma eleição com muitas nuances. São vários os cenários possíveis, e vou somente decidir o meu voto na véspera da eleição. Posso votar útil sim ainda no 1o turno, se isto significar diminuir as chances do PT voltar ao governo. Mas, em princípio, meu voto continua sendo do Amoêdo.

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