Os limpinhos da política

Acho realmente curioso como Ana Amélia está sendo atacada pelos “limpinhos da política”.

Ela tem reputação, e se notabilizou por ser algoz do discursinho do PT no Senado, tendo tido papel de destaque no impeachment.

E tudo isso sendo filiada ao PP.

Ao P E P Ê.

Sim, o PP do Petrolão e de Ciro Nogueira. O PP, quintessência do Centrão.

Enquanto Ana Amélia estava bem acompanhada dos impolutos pepistas, os “limpinhos da política” babavam ovo.

Mas agora não. Agora se aliou a Alckmin, o representante do coisa ruim no Brasil. Aliou-se ao Centrão! Como se o PP, partido da senadora (repito: partido da senadora), não pertencesse ao Centrão.

Se Ana Amélia tivesse se aliado a Bolsonaro ou a Amoêdo, estariam agora os “limpinhos da política” festejando. O fato de a senadora pertencer ao PP do Petrolão e de Ciro Nogueira seria um mero detalhe.

Quando Bolsonaro cortejava Magno Malta, não vi nenhum bolsonarista fazer reparos ao chefe do partido do senador, o notório Valdemar da Costa Neto.

“Ah, mas ele iria na cota pessoal, não traria o Centrão junto.”

Sim, e Ana Amélia irá na cota pessoal de Alckmin. A senadora não compactua com as práticas pouco republicanas do Centrão, assim como Magno Malta. A senadora Ana Amélia tem uma respeitabilidade acima de qualquer suspeita. A sua escolha me diz mais sobre o caráter de Alckmin do que sobre o dela.

Establishment vs. Anti-Establishment

Hoje, o repórter Cristian Klein, no Valor, levanta mais um fator que poderia levar a um segundo turno entre Alckmin e Bolsonaro.

Como sabem, tenho defendido que esta é uma hipótese mais provável do que tem admitido a média dos analistas, ainda presos ao esquema “PT x PSDB”, “esquerda x direita”. Em minha modesta opinião, a clivagem que vai prevalecer não é esta, mas sim “establishment x anti-establishment”.

Pelo establishment, com estrutura, apoios e tempo de TV, Alckmin está praticamente sozinho. O candidato do PT, que poderia lhe fazer sombra, está na cadeia, enquanto Ciro está sendo devidamente desidratado.

Pelo anti-establishment, ninguém veste melhor o figurino do que Bolsonaro. Marina, uma potencial competidora nesse campo, perde em termos de “novidade”.

Mas mesmo para os que ainda dão peso à clivagem “direita x esquerda” (que continua existindo, sem dúvida), Cristian Klein chama a atenção para um outro fator que vem se desenhando: a fragmentação das candidaturas da esquerda.

Em todas as eleições desde 1994, as esquerdas (com exceção do PSOL) se uniram em torno de Lula. Hoje, sem o presidiário de Curitiba, PC do B e PDT ensaiam carreiras solo, além da eterna candidata Marina Silva. Assim, a dispersão dos votos da esquerda, a não ser que ocorra um voto útil ainda no primeiro turno, pode sim viabilizar um segundo turno entre candidatos do centro-direita.

Claro, tudo pode mudar, Lula pode conseguir unir as esquerdas em torno do seu poste ainda no 1o turno, e aí então o quadro muda. Mas, do jeito que está desenhado hoje, o 2o turno pode ver sim um embate entre establishment x anti-establishment.

Se tem rabo, focinho e pé de porco…

Assim como Alckmin, Marina esconjura o termo “imposto sindical”.

É a síndrome Voldemort. O nome do arqui-inimigo de Harry Potter não podia nem ser mencionado, como se sua não menção o fizesse não existir.

Ora, podem dar o nome que quiserem. Se os contribuintes forem obrigados a, direta ou indiretamente, financiar os sindicatos, isso será um imposto sindical, por mais que não receba esse nome. Querem enganar a quem?

As duas grandes muralhas

Eugênio Bucci comete hoje um artigo no Estadão que explica muito do que vimos no Roda Viva esta semana.

Ele começa o artigo afirmando que “Dois limites comprimem a democracia brasileira. Duas muralhas móveis, cada uma de um lado, vão se aproximando uma da outra, como nestas máquinas de compactar detritos. Combinadas, as duas podem transformar o projeto democrático que se desenhou para o Brasil a partir da Constituinte federal de 1988 num pacote de lixo concentrado.”

Obviamente uma dessas “muralhas móveis” é Bolsonaro. Aliás, Bolsonaro seria apenas um sintoma de algo mais grave: “a cultura antipolítica e antidemocrática mobilizada por essa candidatura”. Como se essa “cultura antipolítica e antidemocrática” tivesse surgido de Marte, não fosse fruto do estupro coletivo da democracia comandado pelo presidiário de Curitiba.

E por que Bolsonaro seria “anti-democrático”? Simples: porque não condena a ditadura militar. A ditadura seria a referência, para o Brasil, do que não é democrático. Funcionaria como o nazismo para a Alemanha: os alemães se auto-referem ao nazismo para construir sua própria identidade pós-guerra. É curioso como a referência é a ditadura militar e não, por exemplo, a ditadura de Getúlio Vargas, ou o apoio a ditaduras como a cubana ou a venezuelana. Mas segue o jogo.

Com esse mindset, fica então claro porque a insistência, no Roda Viva, de perguntas sobre a ditadura militar. Esses jornalistas se veem como um bastião da luta pela democracia, e querem desconstruir Bolsonaro no lugar onde eles acham estar a batalha de vida ou morte. Nós, pobre mortais que precisamos pagar os boletos vencidos, ficamos sem entender muito tudo aquilo. Obrigado, Eugênio, por nos explicar.

Fui lendo o artigo, ansioso à espera da segunda “muralha móvel que vai transformar nossa democracia em lixo”. Achei que fosse falar de Lula e do PT. Afinal, é sob o comando de Lula que o PT vem desrespeitando as instituições democráticas brasileiras. São os petistas que chamam um Congresso eleito pelo povo e que segue a lei de “golpista”. É Lula e seus asseclas que desafiam diariamente o judiciário brasileiro. É o PT que quer patrocinar o “controle social da mídia”, eufemismo para censura. Foi Lula que comandou o Mensalão e o Petrolão, dois movimentos que desvirtuaram a democracia representativa como nunca antes na história desse país. Fui ingênuo. Não há uma linha sobre Lula ou o PT. A segunda “muralha móvel” seria a “privatização do espaço público promovida pelos monopólios globais da era digital”. No caso, o Facebook. E os adeptos da primeira muralha estariam se aproveitando da segunda muralha para fazer o serviço de transformar a democracia em lixo. Ele não disse, mas certamente viu com bons olhos a retirada de páginas de apoio a Bolsonaro da rede.

Bucci se mostra o que todo “democrata gramsciano” é: um autoritário. Mário Covas dizia que o povo sempre vota certo, é preciso que os políticos entendam a mensagem que o povo passa nas eleições. Essa é a essência do espírito democrático. Quem disse que o tal “projeto democrático que se desenhou para o Brasil a partir da Constituinte federal de 1988” é o único possível? Visão autoritária, que despreza o voto e sabe o que é melhor para o povo do que o próprio povo.

Bolsonaro vai disputar as eleições dentro do jogo democrático. Se ganhar, terá que governar dentro dos parâmetros democráticos. Se mijar fora do penico (como, aliás, o PT tentou), as instituições democráticas o expelirão.

Ver Bolsonaro como a única ameaça à democracia no Brasil diz muito sobre o tipo de democracia que Bucci e seus coleguinhas querem para o País.

A última princesa do baile

A última princesa do baile saiu da festa sem se casar com ninguém.

Com a definição do PSB pela neutralidade, temos apenas um candidato à presidência com uma coligação para chamar de sua: Alckmin.

A neutralidade do PSB tem sido apontada como uma vitória de Lula sobre Ciro, o que é verdade. Sozinho no PDT, diminuem as chances do coronel de Sobral passar para o 2o turno representando “a esquerda”.

Mas o outro ganhador, reforçando a fama de jogar parado, foi Alckmin. Garantiu a máquina do governo de São Paulo para a sua campanha, pois Marcio França, sua quinta-coluna dentro do PSB, poderá trabalhar livremente por sua candidatura no maior colégio eleitoral do Brasil, sem as amarras de uma aliança nacional.

Alckmin está juntando dezenas de exércitos em pontos estratégicos do tabuleiro para atingir seu objetivo. Resta saber se jogará bem os dados quando começarem as batalhas.