Claro que esta análise está completamente errada. Certos devem estar os gênios políticos do PSDB. As pesquisas mostram isso. (da página de Gabriel Rostey)
Até hoje vi poucas coisas mais erradas do que esta campanha do Alckmin em 2018.
Depois da grande conquista do “Centrão”, que garantiu ao candidato quase metade do tempo de TV, em paralelo ao isolamento que o PT impôs a Ciro, o ex-governador de São Paulo estava em excelentes condições para decolar.
Mas, com o início da campanha, qual foi a tática adotada? Bater unicamente em Bolsonaro, sem dó, para isso usando uma pauta tradicionalmente “de esquerda” (machismo/misoginia), lançando mão de um vídeo editado de maneira absolutamente parcial para fazer da petista Maria do Rosário (reconhecida como “Maria do Presidiário” por boa parte do eleitorado simpático a Alckmin, em função de seus exageros na proteção a criminosos) uma mera vítima do “Bolsonazi”.
Ok, consigo entender que o raciocínio fosse o de bater no Bolsonaro para ver se ele, que vinha tomando grande parte do eleitorado tradicional do PSDB, desidratava e transferia votos naturalmente para Alckmin. Mas não consigo entender que tenha atacado só o Bolsonaro – com o agravante que a disputa do tucano nunca foi diretamente contra o capitão do exército, e sim com Ciro, Marina e Haddad, que passaram toda essa fase sem ataques diretos. Afinal, para que servia tanto tempo de TV?
Porém, ainda pior do que atacar um adversário indireto e poupar os diretos, o pecado capital da campanha foi a falha de posicionamento. Ao bater sem dó no candidato mais associado ao “anti-petismo” e deixar livres, leves e soltos os concorrentes associados à “esquerda”, Alckmin passou mais uma vez a sensação de ficar em cima do muro e não marcar posição. Foi quase como vestir novamente a jaquetinha da Petrobrás para negar qualquer intenção de privatizá-la, como fez em 2006, pautando-se pelos adversários. Ter utilizado um tema sensível à esquerda, corroborando o vitimismo de Maria do Rosário, é só um agravante e mais.
Não bastasse isso, oportunisticamente Alckmin chamou Temer de “ilegítimo”, fortalecendo assim a “tese do Golpe”, defendida pela esquerda e combatida pela maior parte do país (justamente a que admite votar no PSDB, aliás).
Então veio o atentado a Bolsonaro e Alckmin teve que parar os ataques. Ciro cresceu, Haddad foi lançado oficialmente como candidato, Marina despencou e está bem claro quais são seus adversários.
Bolsonaro vem em crescimento constante e as pesquisas apontam que tem os eleitores mais convictos. Alckmin e Marina resolveram investir na “questão de gênero” contra o candidato do PSL, e o resultado é que ele se tornou o líder entre as mulheres, chegando à votação de Alckmin e Marina somados. Mesmo assim, vi a repórter Andréia Sadi dizer que o PSDB voltará à carga com as inserções para classificar Bolsonaro como machista e misógino. Ou seja, como Dilma, dobrará a aposta.
Entrementes, Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB, deu uma entrevista elencando uma série de “erros” do partido, quase todos se arrependendo da oposição ao PT/apoio ao sucessor do PT. Como resultado, sua entrevista serviu de munição a Fernando Haddad na entrevista para o Jornal Nacional.
Depois de tudo isso, ainda vejo gente perguntando o porquê de Bolsonaro, e não Alckmin, capturar o voto anti-PT.
Entendo que Alckmin ainda tem tempo para mudar essa história. Há uma grande reserva de “votos úteis potenciais” ao tucano que hoje vão para João Amoêdo, Henrique Meirelles e Álvaro Dias. Eleitores de Marina também podem migrar para Alckmin, se ele demonstrar condições de ir para o segundo turno. Apesar de tantos ataques, até mesmo eleitores de Bolsonaro, caso notem a impossibilidade de vitória do “Mito” no primeiro turno, e a viabilidade de Alckmin superar Haddad e Ciro no primeiro turno, podem realizar voto útil no Geraldo.
Para isso é importante não queimar a ponte com a “direita”. Bolsonaro já está no segundo turno, jamais deve ser o alvo preferencial de Alckmin agora. É fundamental voltar a marcar posição anti-PT e, principalmente, ocupar a posição de “centro”, empurrando Ciro para a esquerda. O candidato do PDT, esperto que é, certamente tentará posar como a “única alternativa democrática ao extremismo de Bolsonaro e Haddad”. Para isso, está em condições muito melhores do que as de Geraldo, afinal, está à frente nas pesquisas e é ele quem bate todos os concorrentes no segundo turno. No momento, é ele o maior adversário tático de Alckmin.
Portanto, é fundamental mostrar que Ciro não tem nada de “alternativa democrática”. Alckmin tem tempo suficiente para mostrar como Ciro apoia a Ditadura Venezuelana; como disse que “receberia a turma de Moro à bala”; como foi racista ao chamar Fernando Holiday de “capitãozinho do mato”; como deu declarações ofensivas a homosexuais, sobre João Doria; como foi machista ao falar sobre Patrícia Pilar; como é populista e irresponsável em sua proposta do SPC; como mente compulsivamente negando o que já disse; como coleciona inimigos e desafia instituições; como não tem postura nem respeito ao dizer que “Lula é um merda” etc.
Caso contrário, estou seguro de que o que restará a Alckmin e seus eleitores é seguir reclamando do que classificam como “irresponsabilidade” de Amoêdo, Meirelles, Dias, e seus eleitores, por, supostamente, “colocarem em risco o futuro do país em vez de votarem no Geraldo”, como se tucanos fossem investidos de uma majestade eleitoral que impusesse reverência automática de seus adversários, tendo ou não votos para isso. Do alto de suas autoridades, não se apercebem de que cobram essa “adesão patriótica” enquanto estão em vias de se tornarem o “impertinente nanico que atrapalha a vitória de Bolsonaro no primeiro turno e permitirá que o país caia nas trevas do PT no segundo turno” para grande parte do eleitorado.
Enfim, talvez seja cobrar muita lógica de quem tem se dedicado a “desconstruir” o candidato já garantido no segundo turno, sob a alegação de que ele perderá para o segundo colocado -que está longe de estar garantido no segundo turno- atuando assim para que sua “ameaça” torne-se verdadeira, em vez de partir para o confronto direto, enfraquecer o segundo colocado e assim se credenciar ao segundo turno. Algo na linha “deixe de votar no candidato já garantido no segundo turno, para votar no que não deve ir, senão o que estamos ajudando a ir vai acabar ganhando”, numa espécie de profecia auto-realizável…