O benefício da dúvida

Abaixo, um trecho do artigo semanal de Fernando Limongi no Valor de hoje. Professor de ciência política na USP e na FGV, não decepciona aqueles que sempre esperam seu apoio ao PT.

No artigo de hoje, o prof Limongi desanca o mercado financeiro por preferir Bolsonaro ao PT. Afinal, Bolsonaro teria um passado tenebroso em termos de suas posições sobre a economia, mas estaria merecendo o benefício da dúvida negado a Haddad. Segundo a teoria do professor, essa assimetria somente se explicaria por “preferências ideológicas”.

Destaquei o trecho abaixo para mostrar como petistas travestidos de isentos distorcem fatos para provar suas teses.

Quando Levy foi apontado por Dilma para fazer o serviço sujo do ajuste negado durante a campanha, o mercado deu sim o benefício da dúvida. Foram aproximadamente 6 meses de bonança, até o fatídico anúncio da meta de déficit para 2015, em julho, quando apenas Nelson Barbosa apareceu, e Levy alegou um resfriado para não comparecer. Ali, o mercado percebeu que Levy havia perdido a batalha, e era uma questão de tempo para a sua queda.

O mercado está sempre disposto a dar o benefício da dúvida. Afinal, os preços dos ativos são determinados por uma distribuição de probabilidades. Se existe alguma probabilidade de que políticas prudentes serão adotadas, o mercado não vai apostar 100% contra. Cada aposta custa dinheiro, e se tem uma coisa que o mercado procura evitar a qualquer custo é rasgar dinheiro.

Até Haddad e o PT poderiam receber o benefício da dúvida, SE ASSUMISSEM OS ERROS DO MANDATO DE DILMA. O que vemos, no entanto, é o inverso. O programa do PT é a reafirmação de todos os erros cometidos. Nenhum ficou de fora. A questão fiscal é tocada em algumas frases soltas, e a reforma da previdência, a mãe de todas as reformas fiscais, sequer é mencionada no programa petista. E, até o momento, Haddad vem fazendo sua campanha com esse programa debaixo do braço. Santo Deus, como dar o benefício da dúvida?

Bolsonaro, por outro lado, tem feito campanha com um programa liberal, e apontou o Chicago boy Paulo Guedes como seu guru econômico. Seu passado o condena, mas o mercado está dando o benefício da dúvida, pois há base material para isso.

O Prof Limongi acusa o mercado de ser ideológico. Nada mais longe da realidade. O mercado é uma prostituta barata, que se vende por pouco ao primeiro que lhe paga. Estaria agora mesmo aderindo a Haddad, se este lhe desse o mínimo sinal na direção correta. Este sinal simplesmente não existe.

Ideológico é o prof Limongi, que distorce fatos para que caibam em suas teses.

O programa econômico de governo do PT

Esse post é dedicado àqueles que acham que Haddad é moderado. Haddad é aquele que vem percorrendo o país com o programa de governo do PT debaixo do braço, dizendo, para quem quiser ouvir, que é o programa que será implementado, pois foi elaborado pelo presidiário de Curitiba.

E que programa é este? Vou me ater à sua parte econômica, que é minha especialidade. Mas, antes de começar, não poderia deixar de destacar o seguinte trecho: “É preciso melhorar a qualidade da democracia no Brasil, combinar de forma eficaz a democracia representativa e novas formas de exercício da democracia participativa, e enfrentar o processo devastador de desqualificação da política e de deslegitimação das instituições”.

Novas formas de exercício de democracia participativa”, em petês, significa ignorar o Congresso como instância de poder. Ou, por outra, contornar o Congresso, ligando o Executivo diretamente com o povo. Isso se dá através da implantação de inúmeros “conselhos”, claro, controlados pelos companheiros.

A segunda parte, “enfrentar o processo devastador de desqualificação da política” significa enterrar a Lava-Jato. Tão simples quanto isso.

Bem, agora, vamos ao programa econômico.

A parte sobre economia do programa de governo do PT começa com a mãe de todas as mistificações, o que impedirá que todo o resto faça o mínimo sentido. Segundo o programa, o país começou a regredir a partir do governo “golpista”. Até abril/2016, tudo estava indo às mil maravilhas. Veio o governo golpista e estragou tudo. Portanto, as primeiras medidas serão de revogação de tudo o que o governo golpista fez, a saber: 1) Revogação do teto de gastos, 2) Revogação da reforma trabalhista e 3) Suspensão das privatizações.

A primeira medida jogaria o dólar para acima de R$5,00 rapidamente. Duvido que alguém o faça, não sem antes aprovar uma reforma da previdência digna do nome. Nem o PT o fará. Será o primeiro estelionato eleitoral do novo governo.

A segunda e terceira medidas voltarão a piorar o ambiente microeconômico, dificultando o aumento do PIB potencial. Mas o PT nunca se mostrou muito preocupado com isso.

Agora, vejamos as medidas que farão o Brasil ser feliz de novo. Existem medidas de natureza emergencial e medidas de natureza estrutural.

Medidas de natureza emergencial

  1. Retomada imediata de obras
  2. Retomada dos investimentos da Petrobras
  3. Retomada do Programa Minha Casa Minha Vida
  4. Reforçar os investimentos no programa Bolsa Família
  5. Criação de linhas de crédito para famílias que estejam no cadastro negativo

As medidas 1 e 3 dependem de espaço no orçamento. Não fica claro de onde viriam os recursos, dado que temos déficit primário.

A retomada dos investimentos da Petrobras supõe também um balanço que suporte estes investimentos. A dívida líquida sobre o lucro operacional (uma medida da saúde financeira de uma empresa) da Petrobras está em 4,3x. Chegou a atingir 5,6x no final de 2016, portanto já melhorou bastante. Mas o objetivo é chegar a 2,5x, nível de endividamento do final de 2012. Nos bons tempos, este indicador chegou a ficar abaixo de 1x. Portanto, fazer com que a Petrobras volte a investir “como nos bons tempos” é uma irresponsabilidade imensa em relação à empresa.

O item 5 é cópia do programa do Ciro: refinanciar a carteira podre dos bancos, de modo a que os consumidores possam assumir novas dívidas. Teríamos o efeito de uma injeção de adrenalina em um doente com câncer: há um efeito benéfico de curto prazo, mas o problema de fundo continua lá, e ainda piorado, com a dívida pública elevada pelo programa.

Medidas de natureza estrutural

As medidas de natureza estrutural classificam-se em 5 áreas: 1) Redução das desigualdades regionais, 2) geração de empregos de qualidade e fortalecimento do estado de bem-estar social, 3) fortalecimento da capacidade de planejamento estatal, 4) reorientação da política macroeconômica para o desenvolvimento e 5) reindustrialização e investimentos em infra-estrutura.

Vou ser sincero: é difícil extrair muita coisa concreta. Vou copiar aqui o primeiro parágrafo só para vocês terem uma ideia o que eu sofri para traduzir para vocês o programa econômico do PT:

A visão regional e territorial é estratégica para mobilizar os recursos nacionais e para consolidar e ampliar o viver bem brasileiro. É no território que se encontram amplas oportunidades para a efetiva transição ecológica sustentada na pluralidade cultural e sociobiodiversidade do Brasil, com seus conhecimentos, práticas, capacidades e insumos que podem ser base para novas tecnologias, sistemas, serviços e produtos, superando os modelos que concentram terra, renda, riqueza, cidadania e acesso a serviços públicos e a oportunidades”.

E por aí vai, a coisa só piora. Paulo Freire sentiria orgulho desse, digamos, texto.

Mas, vamos lá, não vou desistir.

Item 1 (desigualdades regionais): destaco a volta do BNDES, CEF, BB e bancos regionais no subsídio ao desenvolvimento regional. Além disso, a inauguração de mais e mais universidades públicas e institutos técnicos federais. Tudo muito bonito, se dinheiro houvesse.

Item 2 (geração de empregos): destaco a revogação da reforma trabalhista, mas acompanhada de “um amplo debate com a sociedade acerca das relações trabalhistas do futuro, em uma economia que crescentemente se concentra no setor de serviços e demanda novas formas de organização e regulação”. Puxa, e eu que achei que isso fosse exatamente a definição da reforma trabalhista. Capaz desse pessoal revogar a reforma, ficar discutindo décadas uma nova reforma, e chegar exatamente na reforma revogada.

Item 3 (planejamento central): depois de muito bla bla bla a respeito das virtudes do planejamento central, vem a promessa de ressuscitar o PAC, programa que serviu, basicamente, para eleger a Dilma.

Item 4: esse item é interessante pois refere-se a medidas macroeconômicas. Ou seja, é onde mais podemos observar o delírio dos petistas.

Comecemos com o câmbio. O programa promete controlar a entrada de capitais, de modo a evitar a “volatilidade”, outro nome para a valorização do real. Parece que o PT estacionou na década 2000, quando havia excesso de capitais no mundo, e Mantega teve que adotar barreiras para evitar a apreciação do Real. Hoje é o inverso, os capitais estão saindo do Brasil. Além disso, pretendem estabelecer um imposto regulatório sobre exportações, que teria como objetivo criar um fundo para manter o nível do câmbio. Ou seja, vamos ferrar os exportadores no curto prazo, mas acredite, eles serão beneficiados no longo prazo.

Na política monetária, o PT vai adotar o mandato dual para o BC, ou seja, o BC seria o responsável por manter o nível de emprego também. Há uma inconsistência intertemporal nesse mandato que não vou detalhar aqui. O exemplo do Fed norte-americano não é adequado: lá, o Fed criou credibilidade em mais de 100 anos de atuação. No final da década de 70, Paul Volcker não hesitou em dar um choque de juros para debelar uma inflação de dois dígitos, criada pelo 2º choque do petróleo. O duplo mandato vale em tempos “normais”. Quando a inflação aparece, não tem conversa.

Agora, imagine esse mandato dual nas mãos de um governo populista. Não precisa ir longe: basta ver o que aconteceu no governo Dilma, quando nem mandato dual havia. Além disso, o PT defende a construção de um novo índice de inflação, para balizar a Selic. De modo transparente, claro. Dá até arrepio.

Outra ideia é a volta da concorrência no sistema bancário, usando os bancos públicos para diminuir os spreads bancários, o que também já foi tentada pela Dilma. O resultado foi a fragilização dos bancos públicos, sem a diminuição permanente dos spreads. Mas, sabe como é: se uma ideia não deu certo da primeira vez, vamos tentar em dobro de novo.

Por fim, a ideia do imposto sobre o spread bancário: quanto maior o spread, maior o imposto. Ideia que, obviamente, aumentará o custo do crédito justamente para os tomadores de maior risco. Ou vocês acham que os bancos não repassarão para os clientes mais este imposto?

Com relação à reforma tributária, o programa propõe isenção de IR para quem ganha até 5 mínimos, compensado com aumento de alíquota para as maiores rendas. Como a grande base é de quem ganha menos, provavelmente o aumento das alíquotas para as maiores rendas deverá ser brutal, de modo a não perder receita.

Ainda com relação à tributação, o programa prevê lucros e dividendos tributados de acordo com a tabela do IR, compensado pela redução da alíquota da pessoa jurídica. Essa ideia já está presente no programa de outros candidatos, assim como a criação do IVA, que é comum a todos os candidatos.

Igual ao Ciro, o programa propõe a CRIAÇÃO DA CPMF para grandes movimentações financeiras, além da criação de um imposto sobre grandes patrimônios. No final, o Estado brasileiro será tão hostil ao grande capital, que este buscará outras paragens. E depois esse mesmo pessoal vêm dizer que somente o Estado está disposto a investir no Brasil…

Na onda ecológica, o programa prevê a criação de “tributos verdes” e revisão dos benefícios fiscais voltados à economia de alto carbono. Pena que esta parte é contraditória com os maiores investimentos por parte da Petrobras. Não se conversaram.

Item 5 (Reindustrialização): Os setores serão escolhidos com base em alguns critérios. Ou seja, o Estado induzirá o desenvolvimento de alguns setores em detrimento de outros. Super deu certo com a Dilma, vai dar certo de novo agora.

A elevação da taxa de investimento da economia passará pelo setor produtivo estatal, cuja atuação fortalecerá setores industriais estratégicos. Traduzindo: a Petrobras voltará a ser usada para induzir alguns setores, como o naval. Super deu certo com a Dilma, vai dar certo de novo, certeza.

Os investimentos em infra-estrutura serão feitos em parceria com a iniciativa privada, no modelo que minimiza os custos para os usuários. É aquele modelo que você faz de conta que paga uma tarifa e o concessionário faz de conta que presta um serviço decente. Super deu certo com a Dilma também.

Por fim, o programa prevê o uso de uma tal “fração excedente das reservas cambiais” para a criação de um fundo de financiamento de infraestrutura. Medida contraditória com o objetivo de manter o câmbio desvalorizado, na medida que internaliza os dólares das reservas. Além disso, qual é esta “fração excedente”? Como medir isso?

Este é o programa econômico do PT, em suas principais linhas. Note que a reforma da previdência, que é o grande nó fiscal do Brasil a longo prazo, sequer é citada. O programa é a aposta de que a intervenção estatal em várias instâncias criará as condições para a retomada do crescimento econômico, o que tornará obsoleta a necessidade de conter despesas.

Se nem uma recessão de 10%, a maior da história do Brasil, foi capaz de convencer os formuladores petistas dos erros de suas ideias, nada será capaz de fazê-lo.

E não se engane: eles podem até reconhecer que precisam fazer o ajuste das despesas, e contratar um economista ortodoxo para fazê-lo. Mas não está no DNA do partido, e o destino desse ajuste é o mesmo que teve aquele tentado por Joaquim Levy. No fundo, não acreditam nisso. Haddad incluído.

Assim é se assim lhe parece

Este é o trecho final de um artigo cometido pelo jornalista Bernardo Mello Franco.

Deve estar com problemas de memória, o Bernardo. Vamos ajudá-lo.

– Logo que tomou posse, o primeiro casal plantou uma estrela do PT nos jardins do Alvorada. A separação entre Partido e Estado sempre foi uma dificuldade para os petistas. Típico de partidos autoritários.

– Lula, e depois Dilma, insistiram várias vezes na criação de “conselhos populares” como instâncias decisórias, que teriam poder sobre a administração pública. Quem já participou da política estudantil sabe como essas coisas funcionam: esses “conselhos” de “populares” só tem o nome. São aparelhos do Partido, onde a dissidência não existe. Seria uma forma de bypassar o Congresso.

– Lula, e depois Dilma, ensaiaram várias vezes o controle “econômico” da mídia. Claro que, segundo os petistas, não tem nada a ver com conteúdo, nada de censura. É só tornar virtualmente impossível a sobrevivência de uma imprensa independente.

– O Mensalão e o Petrolão não foram apenas casos de corrupção. Corrupção é, por exemplo, superfaturar uma obra para ficar rico. Não. Mensalão e Petrolão foram concebidos para comprar o processo legislativo brasileiro. Não consigo pensar em nada mais anti-democrático do que isso.

Bernardo Mello Franco, assim como provavelmente fará boa parte da intelectualidade brasileira, declara seu voto em Haddad no 2o turno. Afinal, o PT cometeu apenas alguns erros, nada que colocasse nossa vibrante democracia em risco. Já Bolsonaro representaria o risco da volta da ditadura militar.

Assim é se assim lhe parece.

A consciência da nação

Eliana Cardoso e Bolívar Lamournier, intelectuais tucanos, divulgaram um manifesto (mais um) em favor da união dos candidatos do auto-denominado “centro” em torno de apenas um nome. No caso, Alckmin.

Após 3 parágrafos conclamando a união das forças de “centro” contra as ameaças populistas e radicais de direita e de esquerda, o texto começa a analisar Bolsonaro:

“Bolsonaro segue a recente parada de populistas, de Donald Trump nos Estados Unidos a Rodrigo Duterte, nas Filipinas. Sua vitória colocaria em risco a sobrevivência da democracia no Brasil. Ele apela para a rejeição do eleitor à catástrofe produzida por Dilma-Temer. Nosso PIB por pessoa encolheu 10% em 2014-16 e dezenas de políticos estão sob investigação. Lula, preso por corrupção, consegue transferir votos para o candidato que apresenta um programa econômico catastrófico.”

Sua vitória colocaria em risco a sobrevivência da democracia no Brasil. Ponto. Os intelectuais tucanos não se dão ao trabalho de demonstrar a sua tese. Consideram-na um axioma, uma verdade que dispensa demonstração.

Além disso, a ameaça à democracia está apenas do lado de Bolsonaro. Haddad é uma ameaça à economia. Só.

Na verdade, logo à frente, há o que poderia se considerar uma sugestão de porque Bolsonaro representaria uma “ameaça à democracia”. A declaração diz o seguinte:

“O companheiro de chapa de Bolsonaro é Hamilton Mourão, um general aposentado, que no ano passado, enquanto estava de uniforme, pensou que o exército poderia intervir para resolver os problemas do Brasil. A resposta do Sr. Bolsonaro ao crime é, na verdade, matar mais criminosos.”

Até a menção à intervenção do exército, se poderia considerar que existiria o receio de um golpe militar. Mas não é disso que se trata. A conexão que os autores fazem entre intervenção e combate ao crime mostra que a preocupação está na resposta que Bolsonaro eventualmente daria à criminalidade, não a sua ameaça às instituições democráticas. Bem, nesse sentido, o exército de fato interveio, respondendo a uma ordem do governo federal. Foi na segurança pública do Rio de Janeiro, exemplo acabado de como os fofos da democracia não respondem às mais básicas necessidades da população.

O manifesto continua assim: “Para os brasileiros desesperados por se verem livres de traficantes de drogas, assassinos e políticos corruptos, Bolsonaro se apresenta como o anti-Lula. Se enfrentar Fernando Haddad, muitos eleitores de classe média e alta, que culpam Lula e o PT acima de tudo pelos problemas do Brasil, podem ser convencidos por suas visões autoritárias.”

Esse tucanato vive realmente em uma bolha. Não é que os eleitores serão convencidos pelas visões autoritárias de Bolsonaro. O que acontece é que esses eleitores estão apenas reagindo às visões autoritárias de Lula e do PT. A resposta “Bolsonaro” não apareceu porque o programa econômico do PT é “catastrófico”. Para isso, bastava um programa econômico “não-catastrófico”. Bolsonaro é a resposta ao autoritarismo do PT. Em momento algum o manifesto dos tucanos coloca os dois lados desta maneira. O único autoritário é Bolsonaro, o PT tem apenas um programa econômico catastrófico. Com essa leitura da realidade, não é à toa que estejam pregando no deserto.

O manifesto continua: “O senhor Bolsonaro tem poucos aliados políticos e, para governar, poderia degradar ainda mais a política.”

“Poderia degradar ainda mais a política”. Sério isso? Alguém realmente consegue imaginar degradação maior da política do que o mensalão e o petrolão??? Existe algo mais degradante do que ter um presidente do STF que nem em concurso para juiz conseguiu passar? Como é que se vai conseguir degradar ainda mais uma política comandada da cadeia?

O manifesto dos “intelectuais tucanos” termina assim: “A tarefa exige que os candidatos do centro, Alckmin, Marina, Álvaro Dias, Amoedo e Meirelles se encontrem e coloquem seus votos a favor do candidato que entre eles tem a maior chance de evitar uma tragédia. No momento este nome é Alckmin.”

E o Ciro? Não seria uma alternativa melhor para enfrentar o risco do “autoritarismo” e da “degradação da política”, representados por Bolsonaro? Ou o Ciro também é um “radical”? Se é, deveria ter sido citado no manifesto. Se não, deveria ter sido incluído entre os nomes possíveis para uma união.

E por que Alckmin? Por que não Marina? Marina está tecnicamente empatada com Alckmin. A escolha do nome de Alckmin só mostra que o que os intelectuais tucanos estão fazendo é apenas campanha eleitoral para o seu candidato. Nada contra, mas não venham se travestir de “consciência da nação”.

O candidato que prefiro não está na frente

Da página de Rico Ferrari:


Traduzindo os comentaristas políticos:

1) “A gravidade do momento que o país atravessa” = “o candidato que prefiro não está na frente”.

2) “Essa polarização entre os extremos” = “o candidato que prefiro não está na frente”.

3) “Uma opção razoável que possa vencer o projeto populista” = “o candidato que prefiro não está na frente”.

4) “Crise democrática, crise de representação” = “o candidato que prefiro não está na frente”.

5) “Os ânimos exaltados nas redes sociais” = “o candidato que prefiro não está na frente e o povão está sampando a lenha em mim no twitter quando dou a entender isso”.

6) “Candidatura mais responsável” = “agora sim! estamos falando do candidato que prefiro!”.

Tem outras variantes.

Acerto de contas

“Vamos fazer um acerto de contas […] Eles têm que aprender a respeitar o resultado das urnas.”

Essa fala é de Fernando Haddad, o candidato moderado, o candidato do amor.

Esta frase está prenhe de promessas inconfessáveis.

O que seria o tal “acerto de contas” sem revanchismo e tampouco ódio? Como se daria? Acerto de contas significa pagar uma dívida. Que dívida o PT cobraria? Como seria essa cobrança? Cada um pode imaginar o que quiser.

E quem são “eles”? Quem são os devedores do PT, aqueles que serão chamados a pagar a dívida, a acertar as contas? Os partidos de oposição? A imprensa não alinhada ao PT? O judiciário independente? Os que saímos às ruas para pedir o impeachment de Dilma?

“Têm que aprender”. Esta é a fala de um pai que vai aplicar um corretivo no filho desobediente. Que corretivo será este?

Sim, amigos. É esta força “democrática” que será apoiada no 2o turno por todos aqueles que se dizem preocupados com o futuro da democracia brasileira nas mãos do brucutu da caserna.