Como você prefere morrer?

Está bem legal ver essa competição entre os anti-Bolsonaro e os anti-petistas.

Vejam, não me refiro aos bolsonaristas de 1a hora ou aos petistas (ou lulistas) de carteirinha. Estes têm convicção no seu voto.

Estou me referindo ao “grande centro”, que na verdade vem se mostrando pequeno, e que não concebem o país sob o domínio de nenhum desses dois lados.

Mas, dado que só dois passam para o 2o turno, e a possibilidade crescente de que Bolsonaro e o candidato de Lula sejam esses dois, os centristas do Partido do Bom Senso buscam, no fundo de suas almas, forças para votar em um dos dois.

É como escolher de que morte se prefere morrer.

O preconceito do bem e o preconceito do mal

Houve (mais) um frisson, por parte do Brasil bem-pensante, com as declarações de Mourão.

Desta vez, o vice dEle ousou ligar a pobreza ao narcotráfico.

Bem, Mourão não inovou na área. “Especialistas”, intelectuais e imprensa vêm, há anos, ligando a pobreza ao crime, ao afirmar que o problema da marginalidade está na falta de educação e de oportunidades aos jovens. Ora, quem não tem educação e oportunidades? Os ricos é que não são, não é mesmo?

Mourão está sendo taxado de preconceituoso ao dizer exatamente a mesma coisa. Ora, por que? Simples: Mourão não pertence à Igreja da esquerda. Então, tudo o que ele diz é preconceituoso, simples assim.

Mais de uma vez escrevi aqui que essa visão embute um preconceito atroz. A grandessíssima maioria dos mais pobres é honesta, enquanto há muito rico sem-vergonha por aí. A fala de Mourão, portanto, é preconceituosa sim, assim como a visão classista da esquerda.

Mas há um detalhe interessante, e que talvez seja a origem do mal-estar com a fala de Mourão por parte dos bem-pensantes.

Mourão não culpa apenas a pobreza. Culpa também as famílias desestruturadas pela violência.

Para a esquerda, não existem famílias desestruturadas. Existem apenas “estruturas familiares alternativas”. Então, quando Mourão diz que uma criança que cresce sem o pai tem maior propensão ao crime, o escândalo está instalado.

Não sou antropólogo para dar palpite nessa seara. Mas parece-me (só parece-me) que a família faz parte sim da natureza humana. Ao contrário da riqueza ou da pobreza, que são circunstâncias externas, o núcleo familiar não é dispensável na formação do caráter de uma pessoa. Para o bem ou para o mal. Então, parece-me que Mourão tocou em um ponto relevante.

Tendo dito isso, não conheço estudos científicos que comprovem a causalidade entre famílias sem pai e crime. Não estou dizendo que não existam, estou apenas confessando minha ignorância. Talvez Mourão tenha acesso a pesquisas desse tipo. Senão, é mais um chute com base no “bom-senso”. O mesmo que guia os preconceitos das esquerdas.

Quem é o “ele” no #elenão?

Estou chegando agora. Quem é o “ele” no #EleNão?

PS.: eu sei que é o Bolsonaro. Só gostaria de entender por que a hashtag não é #BolsonaroNão. Esse “ele” parece colocar o sujeito em um patamar superior a todos os outros. Basta se referir a “ele”, que todos sabem que “ele” é o Bolsonaro. Como o chefão que todos temem, e ninguém se atreve a sequer citar o nome. Ou, como em Harry Potter, o mal que não se podia nominar, no caso, Voldmort.

Ao destacar Bolsonaro dessa maneira, um simples candidato é alçado à categoria de semi-divindade. Ou se adora, ou se odeia, não há meio-termo.

Enfim, uma bobagem.

Para mim, o “ele” é Haddad, o “ele” é Lula. Mas eu prefiro tratá-los como seres humanos que são: #HaddadNão, #LulaNão, #PTdenovoNão.

Muito preocupado

De minha parte, estou muito mais preocupado com um país governado de dentro de um presídio.

Nesta hora, a “paranoia” parece estar mais do lado de quem teme um golpe militar.

Aliás, se tem uma coisa que a história mostra, é que os golpes servem para tirar opositores do poder. Nesse sentido, a eleição do PT tornaria a tese de um golpe militar mais verossímil.

O único que aplicou um “auto-golpe” foi Getúlio Vargas, em 1937. Sim, Getúlio, o queridinho do Lula e das esquerdas.

Segure sua carteira

Estes são trechos de uma entrevista do presidente do IEDI, o think tank do setor industrial.

Começa por reclamar da falta de atenção dos candidatos à “questão industrial”.

O repórter, querendo explorar um pouco a tal da “questão industrial”, pergunta quais seriam as condições para a volta do investimento no setor.

O presidente do IEDI elenca 3 fatores: diminuição da ociosidade da indústria, aumento da demanda e condições macroeconômicas favoráveis.

Bem, as duas primeiras estão correlacionadas: a capacidade ociosa só irá diminuir quando a demanda reaquecer. A isso chamamos de crescimento econômico, foco de todos os candidatos. Já com relação às tais “condições macroeconômicas favoráveis”, ele só pode estar se referindo ao câmbio, uma vez que a taxa de juros é a menor da história. Será que o dólar a R$4,20 finalmente vai funcionar para a indústria?

Mas daí, cutucando um pouco mais, vem a verdadeira agenda da indústria: subsídios. Desde que seja para “inovação”, claro. O Brasil registrou pouco mais de 4 mil patentes em 2016. Na China foram 400 mil. Cem vezes mais. Países muito menores e sem tradição de inovação tecnológica, como Austrália e Canadá, registraram mais de 20 mil patentes cada.

Isso porque o BNDES atingiu 10% do PIB em empréstimos, incluindo programas de inovação. Sem contar subsídios diretos, como o falecido Inovar-Auto. Quanto mais seria necessário?

Por isso, eu sempre digo: quando entidades empresariais vão à Brasília, segure bem a sua carteira.

Perderam o senso de proporção

Eleições são boas porque, pelo menos de 4 em 4 anos, ficamos sabendo quanto custa a máquina pública.

Por exemplo, você sabia que os contribuintes gastamos R$430 mil por mês só para pagar água, luz, manutenção das piscinas e alimentação das emas do Palácio do Alvorada?

430 mil POR MÊS!!!

Vamos lembrar que o Museu Nacional estava condenado a sobreviver com uma verba de R$500 mil/A-N-O.

Uma unidade residencial de classe média alta vai pagar, chutando alto, uns mil reais/mês de utilities (água, etc). Contrate jardineiro e piscineiro, vai gastar quanto mais? 10 mil, chutando bem alto? Sobram as emas. Haja ema!

O problema, claro, está na folha de pagamento. Quanto você acha que ganham o cozinheiro, o piscineiro, o jardineiro, o mordomo, os faxineiros, etc e etc, todos concursados?

R$ 20 milhões/ano para manter o presidente confortável em sua casa. Esse pessoal perdeu o senso de proporção.

Autocrítica

“A autocrítica do PSDB é muito importante e constrói possibilidade de diálogo depois das eleições”.

Esta frase é do inefável Fernando Haddad. E a autocrítica do PSDB a que ele se refere foi feita pelo não menos inefável Tasso Jereissati.

E o que disse Jereissati? Disse que o PSDB “sabotou” o governo Dilma, votando contra o ajuste fiscal que o partido sempre defendeu.

Então, ficamos assim:

1) O PT sabotou o governo FHC tanto quanto pôde. Mas isto não merece uma autocrítica do partido, porque votar contra o ajuste fiscal sempre foi o programa do PT.

2) Quando o PSDB votou na linha que o PT adotou desde sempre, foi acusado de “sabotar” o governo do próprio PT.

3) O presidente do PSDB concorda com essa “leitura”. Acha que o partido deveria apoiar o governo do PT na agenda da responsabilidade fiscal, mesmo que o próprio PT não o apoiasse.

O PT tem duas narrativas, que usa conforme suas conveniências. A primeira é que a crise começou com a tentativa de Joaquim Levy de fazer um ajuste fiscal. A segunda é que a crise começou com a sabotagem da oposição, que impediu o governo Dilma de fazer um ajuste fiscal. Jereissati concorda com essa segunda narrativa.

Claro que a possibilidade de diálogo a que Haddad se refere existirá se, e somente se, o PT voltar ao poder. Neste caso, o partido gostaria de ter o PSDB a seu lado para fazer o “trabalho sujo” do ajuste fiscal. Poderia, assim, ter os tucanos como sócios da maldade.

Se o PSDB ganhar as eleições, essa “possibilidade de diálogo” obviamente desaparece. O PT na oposição será o de sempre: votará contra os interesses do país, pensando nas próximas eleições.

No PT, não tem essa boiolice de “autocrítica”.

A mensagem da cama do hospital

Jair Bolsonaro acaba de fazer uma “live” da cama do hospital.

Foram 20 minutos aproximadamente. 5 minutos dedicados a agradecimentos. Os outros 15, ao assunto principal da “live”.

E qual foi este assunto principal? O que você falaria se fosse o candidato líder das pesquisas, e virtualmente classificado para o 2o turno? Qual seria o seu posicionamento tático, desde a cama de um hospital, recuperando-se de um atentado?

Fiz este exercício antes de assistir. O que eu falaria neste momento único? Acho que adotaria um tom mais emotivo, de união de todos os brasileiros em torno dos desafios à frente. Procuraria falar como um estadista, pronto para assumir a Presidência. Começaria, enfim, a jogar o jogo do 2o turno.

Mas Bolsonaro resolveu usar os 15 minutos mais importantes de sua campanha no 1o turno denunciando a possibilidade de fraude nas eleições, em função das alegadas vulnerabilidades das urnas eletrônicas.

Se ele tomou essa decisão, é porque ele acha esse assunto o mais importante de sua campanha neste momento. Ele avalia que, em eleições limpas, ele já ganhou. Por isso, sua campanha, agora, é apenas para que as eleições sejam limpas.

No entanto, as urnas eletrônicas são o que são. Uma vez que não haverá o voto impresso, o que, em tese, permitiria uma auditoria independente, não existe campanha que as “limpe” mais do que elas são limpas hoje. Portanto, estes 15 minutos só serviram, de fato, para contestar a legitimidade das eleições.

É o equivalente ao que o PT vem fazendo, dizendo que “eleição, sem Lula, é fraude”.

Qualquer que seja o resultado, está se armando uma grave crise institucional. Os mais pessimistas dirão que a crise já está instalada, e estamos anestesiados pela “festa” eleitoral. Passada a festa, virá a ressaca da ilegitimidade do próximo eleito.

A tempestade está se formando, não se dissipando.