Análise da pesquisa XP/Ipespe

A pesquisa XP/Ipespe, em que pese a metodologia controvertida (é feita por telefone) serve, como todas as outras, para detectar tendências.

A vantagem dessa pesquisa é que ela feita semanalmente desde maio, o que permite o acompanhamento de mais longo prazo com dados mais frequentes.

Na última, publicada hoje, vemos o seguinte:

1) As menções espontâneas a Bolsonaro saltaram para 20%. Vinham oscilando entre 15% e 17% desde maio. Na estimulada passou a 26%, vinha oscilando entre 21% e 23%. O atentado teve o seu efeito.

2) A espontânea de Lula despencou de 18% para 9%. Interessante que esta queda só ocorreu agora, depois que Lula desistiu da candidatura, e não logo em seguida à sua impugnação.

Uma parte pequena dessas intenções já foi para o Haddad, que subiu de 2% para 5%. A diferença parece ter ido para os “não sei”, que subiram de 25% para 32%. Ou seja, parece que há 3 tipos de eleitor do Lula: 1) aqueles que ainda não sabem que ele não é mais o candidato (50%); 2) aqueles que já sabem, e resolveram aderir ao Haddad (15%) e 3) aqueles que já sabem que Lula não é candidato e estão pensando em quem votar (35%). Se os que não sabem que Lula desistiu migrarem para Haddad nessa mesma proporção, a espontânea de Haddad sobe de 5% para 8%, o que significaria uma estimulada de 16%, considerando a proporção atual de 2 para 1 de todos os candidatos, menos Bolsonaro. Coincidência ou não, é este o patamar de Haddad quando ele é apresentado como “Haddad apoiado por Lula”.

3) Ciro também vem subindo consistentemente nas últimas 3 semanas (1 ponto por semana). Aparentemente, Haddad e Ciro vêm roubando votos de Marina Silva, que perdeu 5 pontos nesse período.

4) Alckmin continua patinando no patamar de 10% (9% nessa última pesquisa). Crescimento orgânico parece ser algo cada vez mais distante. A única esperança de Alckmin é que 2/3 dos votos de Amoedo/Álvaro/Meirelles, que somam 10 pontos, se transformem em voto útil, e o levem ao patamar de 16%, embolando com Haddad e Ciro. Para que isso possa eventualmente acontecer, é essencial que tanto Ciro quanto Haddad não cheguem a 20%.

É isso por enquanto. Vamos ver o DataFolha hoje à noite. Deve também mostrar crescimento de Haddad. Bolsonaro deve-se mostrar estável, pois será a 2a pesquisa depois do atentado. Vamos ver o que acontece com Ciro.

Um banco de fomento pra chamar de meu

Este é Luiz Marinho, candidato a governador de São Paulo pelo PT.

Como todo bom petista, quer criar um banco público pra chamar de seu. Crédito subsidiado pelos impostos dos desdentados. Talvez a política mais regressiva que se possa pensar.

Não custa lembrar o tamanho dos esqueletos fiscais escondidos nesses bancos estaduais, e que ainda assombram, por exemplo, o Rio Grande do Sul. Aqui, nos livramos do Banespa e da Nossa Caixa, bancos bons para os seus funcionários e para eleger políticos populistas.

Mas acho que estou sendo injusto com os petistas. Não são somente estes que gostam de crédito subsidiado. Há muitas viúvas das políticas cepalinas também no PSDB, que não conseguem conceber uma economia onde o crédito seja uma mercadoria a ser fornecida pelo mercado de capitais. O Estado (sempre ele!) sabe melhor onde investir.

Se a maior recessão da história, mesmo com 10% do PIB comprometido em créditos subsidiados pelo BNDES, não foi suficiente para convencer da ineficácia dessas políticas, então acho que o caso está perdido mesmo.

Uma Constituinte de notáveis

Já ouvi essa ideia de alguns amigos que considero inteligentes e de muito bom-senso: uma nova Constituição elaborado por “notáveis”. Assim, pelo menos em tese, teríamos uma Carta Magna livre dos interesses venais que supostamente regem a atuação dos políticos de carreira.

Vejo dois problemas insuperáveis com essa ideia.

O primeiro, de ordem teórica, é achar que o “melhor” para o país sairá da cabeça de um grupo de notáveis. Cada um tem, em sua mente, um modelo do que seria um país ideal. A campanha da Globo, “o país que eu quero”, mostra parcialmente isso. Digo parcialmente, porque aqueles filmetes são filtrados pelo “padrão Globo de qualidade”. No final, resulta o país que a Globo quer. Duvido que não haja, por exemplo, depoimentos pedindo a pena de morte pra vagabundo que estupra e mata. Mas isso, obviamente, a Globo não mostra.

Quando pensamos em notáveis, vêm à mente pessoas que conseguem traduzir em palavras as ideias que temos do que seja “o bom, o justo e o belo”. No entanto, há “notáveis” que, se tivessem suas ideias implementadas, seriam a receita do desastre. Consigo pensar, por exemplo, em Luiz Gonzaga Belluzzo ou Bresser-Pereira, para ficar apenas no campo das ideias econômicas.

Assim, passamos para o segundo problema com essa idea, dessa vez de ordem prática: o processo de escolha desses “notáveis”. Como seria esse processo, se não há votação popular, se não são eleitos? Seria pela quantidade de artigos publicados em jornais ou revistas científicas? Pelas suas ações filantrópicas? Pelo número de citações na Wikipédia?

E o estabelecimento de critérios para a escolha seria apenas um problema de 2a ordem. O principal problema é QUEM estabelece esses critérios. Os políticos atuais? A Rede Globo? Um outro conjunto de notáveis, dando origem a um problema recursivo?

Alguém poderia sugerir que esses notáveis, estes sim, poderiam ser eleitos. Mas isso só transferiria o problema de lugar: como evitar que “não notáveis” também se candidatassem? Quem definiria os notáveis que poderiam se candidatar? Com que critérios? Como veem, o problema continua existindo da mesma maneira.

Muitas vezes, quando pensamos em uma Assembleia de Notáveis, vem à mente a experiência dos Founding Fathers nos EUA, que desenharam uma Constituição enxuta, e que já dura mais de 200 anos. Esquecemos, no entanto, que os Founding Fathers eram políticos eleitos, não “notáveis”. Talvez a restrição do voto aos mais instruídos tenha tido o seu papel na qualidade daquela Assembleia Constituinte. Mas não creio que tenha sido o ponto fundamental. Mesmo porque, todos conhecemos pessoas inteligentes e instruídas que têm ideias estapafúrdias (do nosso ponto de vista, claro).

A experiência americana funcionou porque o mindset da população, que ELEGEU os Founding Fathers, era de uma determinada forma. Os países são o que o seu povo é. Chicanas, como uma Assembleia de Notáveis, mesmo que fosse viável do ponto de vista operacional, não entregaria uma Constituição muito diferente da que está aí. Exemplo disso é a crença de que o povo tem direitos a que o Estado deve atender, crença esta que vai do trabalhador rural mais humilde até a agora ex-presidente do STF. Uma assembleia de notáveis brasileiros produziria uma Constituição eventualmente até mais enxuta, mas com os mesmíssimos problemas da atual. (Problemas do meu particularíssimo ponto de vista, claro. Como eu disse, há muita gente boa que acha que o Estado tem que ser provedor mesmo).

Então, não tem solução? Solução mágica, aquela que resolve o problema da noite para o dia, evidentemente não. O que existe é um trabalho de formiguinha, de mudança de mentalidade ao longo de gerações.

De nossa parte, o que podemos fazer é eleger pessoas que possam levar as ideias que consideramos acertadas para o Congresso, o lugar onde se dão os embates dessas ideias. Qualquer outra solução mal esconde o seu viés autoritário.

Sou um cara muito fino

Nessas horas, como eu gostaria de ser um cara sem pudor, boca suja mesmo, pra mandar essa Exame pra %!?~#|<*+, mandar todos os seus jornalistas se [%]#?\€{¥*|, e gritar muitas vezes cara%_£^_#}]*.

Mas como eu sou um cara muito fino, só desejo que a Abril não se recupere da RJ e vá à falência, que é o que vai acontecer depois que o Haddad assumir e levar o país à bancarrota.

Autenticidade

Abaixo, breve análise que fiz sobre o primeiro debate entre os candidatos. Na época, vi “autenticidade” como a marca que definia tanto Bolsonaro quanto Ciro.

Hoje, artigo de William Waack no Estadão destaca justamente este traço como o ponto forte dos dois candidatos. Em uma eleição pra lá de emotiva, não é pouca coisa.

Autenticidade que passa longe do discurso técnico e burocrático de Alckmin. Até Amoedo transpira mais “autenticidade” do que o chuchu.

Haddad é outro que vai ter imensa, gigantesca dificuldade para transmitir essa sensação de autenticidade. Quem o acompanhou aqui na prefeitura de São Paulo sabe do que estou falando. Além do mais, está substituindo Lula, o rei da autenticidade.

Ah, mas Dilma se elegeu com um discurso pra lá de insosso também.

Sim, contra qual adversário? I rest my case.

Políticas regressivas

Traduzindo para quem não está acostumado com o economês: “políticas regressivas” significa tirar dos pobres e dar para os ricos (texto extraído da página de Sergio Almeida).


Ciro tem se notabilizado por 4 ideias:

1. Tirar pessoas do SPC (usando bancos públicos);

2. Oferecer crédito subsidiado via BNDES;

3. Política industrial (incentivos p\ setores selecionados);

4. Regular UBER.

Difícil imaginar um conjunto mais distributivamente regressivo de políticas.

A conta sempre chega

Aviso aos que estão indignados com o preço da energia elétrica: ano que vem vai subir mais!

Editorial de hoje no Valor Econômico disseca a origem do rombo na conta da energia, e que ainda deverão ser cobertos por alguém (adivinha quem).

São quase R$60 bilhões de rombo, a saber:

  • Tarifa social e uso de termelétricas construídas no racionamento de 2001: R$6bi
  • Custos com o atraso na implantação do gasoduto Coari-Manaus: R$2bi
  • Repactuação do risco hidrológico (efeito das secas dos últimos anos): R$15bi
  • Déficit na arrecadação das bandeiras tarifárias (as bandeiras não têm sido suficientes para bancar as termoelétricas): R$5bi
  • Passivo da Amazonas Energia, subsidiária da Eletrobrás (anos acumulados de prejuízos): R$20bi
  • Passivos das distribuidoras já privatizadas: R$11bi

Além disso, tem coisas que não estão na conta acima:

  • Investimentos adicionais para acabar Angra 3: R$17bi
  • Indenizações reclamadas pelas transmissoras de energia, tungadas pela MP579, aquela da Dilma: R$55bi.

Segundo o editorial, se todos esses passivos fossem incluídos na conta de luz, o aumento seria da ordem de 50%!

Obviamente isso é inviável do ponto de vista político. São anos de desmandos populistas, e não dá para pagar essa conta toda de uma vez. Mas terá que ser paga um dia, por alguém. Hoje, quem carrega grande parte dessa conta são as empresas (geradoras, transmissoras e distribuidoras), que carregam em seus balanços esses rombos. A tarifa aumenta para ressarcir as empresas.

Existem basicamente 3 soluções para o imbróglio:

  1. A conta do consumidor fica mais cara
  2. A conta vai para as empresas que, no limite, param de investir e agravam o problema de oferta de energia no futuro
  3. O governo emite dívida ou aumenta a carga tributária para pagar a conta. Nesse caso, o consumidor vai pagar de qualquer jeito, via impostos e juros mais altos.

Lembre-se: sempre que você ouvir um candidato dizendo que tem soluções fáceis e indolores para os problemas, saiba que um dia a conta chega. Sempre chega.

A tática óbvia

Claro, cada um joga com as armas que têm. Então, não há que condenar a propaganda do PT, que dá o mesmo destaque para o candidato e para o presidiário. Se este é o super-trunfo que o partido tem na mão, tem mais é que usar mesmo.

O problema está nas campanhas adversárias.

Dilma é o grande passivo do PT. Um desastre inventado por Lula. O paralelo é óbvio.

Dilma saiu com mais de 70% de reprovação. Pior, só o Temer. Que também foi invenção do Lula.

O problema é que uma narrativa não se faz da noite para o dia. É preciso ser perseverante e martelar a ideia dia e noite. Não adianta chegar na véspera da eleição e dizer que Dilma foi um desastre. Teria sido preciso amaldiçoar a “herança maldita” todo dia. O governo Temer tentou fazer isso com alguns anúncios no jornal, mas obviamente não era o ator ideal, dado que fez parte daquele desgoverno. Quem tinha que ter feito isso era, obviamente, o PSDB. Que estava muito ocupado em disputas intestinas para ver quem seria o candidato a presidente, e não tinha tempo nem foco para esses detalhes.

Não é que agora não funcione. Apenas que a eficácia é muito menor. Claro, se a tática óbvia finalmente for adotada, coisa que até o momento não aconteceu, preocupado que o PSDB está em desconstruir Bolsonaro.

A candidatura Haddad só está sendo levada a sério porque os adversários são ruins de doer.

Quem lacra não se elege

Só pra relembrar o trecho onde a jornalista Vera Magalhães louva a “lacração” de Marina Silva no debate da RedeTV. Ela não estava sozinha, a performance da candidata da Rede foi cantada em verso e prosa por todo o jornalismo “bem-pensante” do país. Enfim, alguém havia tomado coragem para enfrentar o Ogro!

Deu muito resultado mesmo. Estamos vendo nas últimas pesquisas.