Os votos de Ciro

Meu professor na academia votou no Ciro.

Hoje, quando cheguei para a aula, me cumprimentou com um “agora é mito”.

Qual a lógica? Ele é anti-petista declarado. Votou no Ciro para tentar tirar Haddad do 2o turno e não precisar escolher entre o ex-capitão e o puppet do presidiário. Não deu certo.

No 2o turno, seu anti-petismo falará mais alto. Assim como de vários de seus amigos que fizeram a mesma coisa, segundo me disse.

Ciro teve 12,5% dos votos válidos. Se 1/3 dos eleitores de Ciro pensarem dessa maneira, Bolsonaro não precisaria dos votos de mais ninguém para se eleger.

Parece meio puxado para um eleitorado como o de Ciro, que não é, em sua maioria, anti-petista. Se fizermos este mesmo raciocínio somente com os eleitores do Sudeste e Sul, essa migração deveria subir para 2/3 somente nessas regiões (e zero nas outras regiões), pois o coronel recebeu metade dos seus votos abaixo da Bahia. Também parece puxado.

De qualquer forma, é uma amostra de como os votos de Bolsonaro no 2o turno não deverão vir apenas dos partidos mais à direita. O anti-petismo fará o serviço.

A verdadeira cor do Novo

O Novo fez uma campanha linda. Elegeu 8 deputados federais, 12 estatuais e Amoêdo chegou em 5o lugar. Acho que teria o dobro de votos não fosse o voto útil.

Mas não vamos nos iludir: o futuro governador de Minas só está nessa posição por conta de seu apoio a Bolsonaro. Se dependesse apenas do Novo, seria mais um Chequer da vida.

Zema foi votar de amarelo, não de laranja. Por isso está no 2o turno.

A vontade do povo

Onde os analistas políticos erraram, e erraram feio? Na crença de que a máquina política era decisiva em uma eleição de um pais-continente, com mais de 100 milhões de eleitores.

Máquina política significa cabos eleitorais trabalhando pelo candidato nos mais longínquos grotões, além de tempo de TV.

A máquina em torno de Geraldo Alckmin era verdadeiramente portentosa. Tão grande, que praticamente dispensaria uma mensagem. Bastaria “jogar parado”, com um discurso de eficiência administrativa e “anti-extremos”, para que a eleição lhe caísse no colo. Assim pensava o candidato, assim pensavam os analistas, eu incluído. Ainda bem que não vivo disso!

O que acabou acontecendo foi o contrário: a mensagem criou a máquina. Bolsonaro incorporou o anti-petismo e o anti-establishment, a busca por segurança e pelos valores conservadores.

A mensagem criou os votos. Os votos criaram a máquina. Máquina que agora trabalha pela candidatura de Bolsonaro. Doria, Witzel, Zema e tantos outros Brasil afora vão trabalhar pela candidatura Bolsonaro, em um processo que se auto-alimenta.

Nunca o adágio “a vontade do povo é soberana” foi tão verdadeiro.

O moderado

Quando você for ler um artigo de Eugênio Bucci, saiba disso que vai abaixo.

Em tempo: Dilma foi “vendida” no mercado eleitoral como “a gerentona competente”. Lembre-se disso quando tentarem vender Haddad como “o moderado”.

O anti-pobre

Essa é a única tática que pode ser uma real ameaça à eleição de Bolsonaro: colar a imagem de “anti-trabalhador”, “anti-pobre” no ex-capitão. Se de fato o PT insistir nessa linha e esquecer essa bobajada de “democracia ameaçada” e de “defesa de minorias”, fará com que a campanha do candidato do PSL tenha que sair da zona de conforto.

PS.: aos mais apressados, informo que dou muito valor à democracia e às minorias. Estou apenas falando de táticas eleitorais. A defesa dessas duas pautas não vai retirar um voto sequer do ex-capitão.