Um post libertador

Este post da Soninha Francine é para ser lido despido de pré-conceitos.

Ela declara seu voto em Haddad. Mas que surpresa! dirão alguns, diria eu. Afinal, ela saiu do PT, mas o PT não saiu dela.

A crítica que ela faz ao PT, no entanto, somente é possível para aqueles que viveram o partido por dentro. Acerta em cada um e em todos os pontos. E, mesmo assim, vai votar em Haddad. Por que?

Ela explica: “pelas ideias que defende, pelas políticas públicas que ameaça, pela falta de experiência de governo”, Bolsonaro é um candidato pior do que Haddad.

Quer dizer, mesmo depois de ser capaz de fazer críticas mais ácidas do que seriam capazes os mais ferozes opositores do partido, Soninha declara seu voto em Haddad, por considerá-lo uma opção menos pior que Bolsonaro.

Confesso que este post me libertou.

Eu posso declarar meu voto em Bolsonaro, mesmo considerando que várias de suas falas me incomodam profundamente. Posso votar em Bolsonaro, pelo simples fato de considerá-lo um candidato menos pior do que Haddad.

Há, no debate de hoje, uma incrível incapacidade de se colocar no sapato do outro, avaliar o mundo com os olhos do outro, com a sua escala de valores. Em uma sociedade democrática, todos deveriam ter o direito de colocar suas opiniões sem serem ofendidos. Neste tipo de sociedade, as questões são resolvidas no voto, e amparadas em instituições que garantem voz a todos, maiorias e minorias.

Dadas as minhas posições firmemente anti-esquerda, muitos dos seguidores desta página são bolsonaristas, e podem achar meu voto cheio de reticências em Bolsonaro uma bobagem. Inclusive, podem achar este texto da Soninha um embuste, coisa de petista enrustido. Paciência.

Também tenho amigos que não votam em Bolsonaro de jeito nenhum. Acham sua eleição um verdadeiro perigo para as minorias, que estariam à mercê da vingança das maiorias. Além disso, acreditam que sua eleição pode sim significar o fim das liberdades democráticas. Esta é a leitura que fazem de suas declarações, e das declarações de seus seguidores mais fieis. Estes meus amigos podem ver este voto em Bolsonaro como um aval a essas ideias. Paciência.

Por fim, corro o risco de ser chamado de “isentão”, ou “inteligentinho”, termos pejorativos usados para designar o cara que não toma posição, só fica analisando e dando razão para todos os lados. Paciência também.

Nesta eleição, o eleitor de Bolsonaro, o eleitor de Haddad, o cara que não escolhe um ou outro, todos enfim, são incompreendidos pelo “outro lado”. “Como pode?” é a frase que traduz essa incompreensão. Este post da Soninha mostra que é possível compreender.

Voto Bolsonaro porque, apesar de tudo, acho que mais um governo do PT seria pior do que um governo Bolsonaro. Mais instável, mais perigoso para a democracia, neste momento da história. Acho que isso é mais importante do que suas posturas em relação às minorias, que parecem mais papo de bar do que algo a se transformar em política de estado. Esta é uma avaliação pessoal, que espero seja respeitada.

Por fim, o post da Soninha nota que se pode votar em alguém e fazer oposição a este alguém ao mesmo tempo. Me fez lembrar um tuíte do filósofo da Twitter, Fried Hardt (@FriedHardt – sigam, vale a pena), que deveria ser o mantra de todos os cidadãos que querem um país melhor. Vou citar de memória:

“Todo cidadão deveria seguir somente duas regras:

1) Fazer oposição ao governante de plantão e

2) Não agir durante as eleições de modo a impedir o cumprimento da primeira regra”


LER ATÉ O FIM pfv -> Eu saí do PT porque descobri, em resumo do resumo, que o partido dizia uma coisa e fazia outra. Não era um ou outro membro que se desviava de nosso propósito original, como eu pensei por um tempo, um problema a que qualquer reunião de pessoas está sujeita: a instituição estava desvirtuada. Eram as lideranças do partido que comandavam a zorra toda. Nós forjávamos mentiras nas reuniões da bancada: “Vamos dizer que o prefeito vai privatizar a Saúde”. Eu descobri que oposição também mente… Antes de ser vereadora achava que isso era um defeito que só ocorria em governos. O PT mentiu e mente sobre o que fez, sobre o que os outros fizeram e sobre o que não fizeram. Uma tristeza. Semeou o ódio em meio ao discurso do “nós somos do amor, eles são do Mal!”. Tudo que fosse contra o PT era “contra os pobres”, “contra as conquistas sociais”, coisa de “ricos que não querem perder seus privilégios”. Muita gente que não é elitista, machista, racista, de direita foi chamada assim – e parte dessas pessoas começou a detestar a esquerda por causa disso… Se ser contra Black Blocs quebrando tudo é ser de direita, então eu sou de direita. Se achar absurdo alguém cagar na foto de uma pessoa é ser de direita, sou de direita. Se achar que o Lula cometeu crimes e merece ser preso é ser de direita, ok. Etc etc etc.

O PT cometeu erros horríveis no governo e na oposição. Fomos os radicais intransigentes, que não nos misturávamos com ninguém, não queríamos nada menos que a revolução. Para depois entrar no governo e fazermos os piores acordos com os piores tipos e montarmos um esquema de corrupção para benefício próprio e perpetuação no poder que não teve igual na história deste país.

Nesse nosso radicalismo de oposição, nunca aceitamos compor com o “menos pior”, o mais ao centro, o mais moderado, o mais democrático. Era tudo ou nada. Apoiar um candidato na eleição indireta contra o candidato dos militares, porque essa era a única maneira de derrotá-los? NÃO, é tudo igual, é tudo farinha do mesmo saco, o vice é o Sarney porque vai continuar tudo igual.

Eu saí do PT… e o PT saiu de mim sim. Eu sou de esquerda e não acho que o PT representa a esquerda (Eike, Pasadena, Sergio Cabral, Odebrecht… Nada a ver com socialismo e inclusão). Eu sou defensora dos Direitos Humanos e o PT fez muito mais o discurso do que a verdadeira garantia dos Direitos Humanos (José Eduardo Cardoso, Ministro da Justiça: “Se eu fosse para uma cadeia no Brasil, me matava”). Eu defendo direitos LGBT e os maiores avanços institucionais nos últimos anos vieram via Judiciário, ou aconteceram em governos tucanos (juro). Eu milito por moradia digna e vejo que o Minha Casa foi uma farsa que movimentou o mercado imobiliário para a classe média mas não fez xongas por milhões de famílias com renda baixíssima. Eu sou ambientalista e o PT fez aquelas usinas medonhas, e a Transposição do São Francisco. Eu defendo os Direitos das Mulheres e tenho vergonha de algumas declarações do Lula (apedrejar adúlteras é uma questão cultural). Eu defendo a democracia e a Venezuela é uma ditadura abjeta.

Mas como o PT saiu de mim, eu não vou fazer como o PT faria. Eu vou fazer como o Mario Covas, que apoiou a Marta Suplicy contra o Maluf. Mesmo achando o PT horrível em muitas coisas, mesmo achando que a quinta vitória seguida do PT seria um absurdo depois do que foi feito por eles neste país, eu acho que no mano a mano, no par ou ímpar, no esse-ou-aquele, Bolsonaro, pelas ideias que defende, pelas políticas públicas que condena e portanto ameaça, pela absoluta falta de experiência em governar, é uma alternativa pior que o Haddad.

Não acho que os eleitores de Bolsonaro são todos fascistas, racistas, LGBTfóbicos, militaristas, anti-democráticos, falsos moralistas etc. Muita gente decente em todos os sentidos acha que ele vai dar um jeito na bagunça do governo. Eu não acho. Muita gente boa de verdade, trabalhadora, pobre, vítima de violência e discriminação, vítima direta ou indireta de crimes cometidos pelo PT, acha que ser machista etc é o “de menos”, e que ser honesto e fazer um bom governo “compensa” os defeitos “pessoais”. Eu não acho que dá pra separar uma coisa da outra; que dá pra ser um bom líder político é intolerante ao mesmo tempo…

Eu não acho que os que vão votar nulo são alienados ou irresponsáveis. Acho que estão no seu direito legítimo de dizer “nem um nem outro”. “Perdi; sou minoria na urna; sou oposição a qualquer um dos dois”. Não são fascistas envergonhados nem comunistas não assumidos.

Vou votar no Haddad. E se ele ganhar, vou continuar na luta para que o Brasil tenha governos decentes, criticando tudo que tiver que criticar. E se o Bolsonaro ganhar, vou continuar na luta para que o Brasil tenha políticas decentes, criticando tudo que tiver que criticar, defendendo o que precisar defender.

Lutando, por exemplo, para que as pessoas discutam ideias em vez de atacarem as donas das ideias. Pelo direito de pensarem diferente do que eu penso!

Um eterno déjà vu

Estes são trechos de um jornal 8 dias depois do 1o turno das eleições de 1989.

Leonel Brizola havia sugerido que Lula desistisse da vaga no 2o turno em favor de Covas, pois seria o único capaz de vencer Collor.

O deputado César Maia defendia a formação de uma “frente democrática” de partidos progressistas para vencer Collor.

Brizola lembrava que Collor era o herdeiro do golpe de 64 e, portanto, não podia chegar ao poder.

A política brasileira é um eterno déjà vu.

Qual a opinião dos pais?

A história é a seguinte: o McDonalds promoveu, durante 18 dias de 2013, 35 shows em escolas, com a presença do Ronald McDonalds. Estes shows, segundo a empresa, eram educativos, com o roteiro previamente acertado com a direção das escolas, e sem propaganda direta, apenas a óbvia presença do grande M amarelo.

O Instituto Alana, que luta contra a publicidade dirigida ao público infantil, entrou na justiça e ganhou a ação contra a empresa. Mas o interessante vem agora.

Qual o fundamento da ação do instituto? A premissa de que “a publicidade faz com que a criança se sinta seduzida a entrar para o mercado de consumo”. E note que estamos falando de um palhaço aparecendo no palco, e que em momento algum diz “coma um Big Mac agora”.

Pois bem.

Bolsonaro vem sendo ridicularizado pela sua luta contra o chamado “kit gay”. Na verdade, trata-se de educação sexual para crianças, acoplada a uma “normalização” do comportamento homossexual, sob o pretexto (correto ou incorreto, não vou entrar no mérito) de combater o preconceito. Segundo o candidato do PSL, esse tipo de material teria o poder de “influenciar as crianças” em suas opções sexuais.

O movimento Escola Sem Partido também vem sendo ridicularizado por pretender que professores e materiais didáticos sejam neutros em matéria política. O movimento vem sendo combatido sob o pretexto (correto ou incorreto, não vou entrar no mérito) de defender o “debate democrático” em sala de aula, e a “conscientização dos jovens”. O que o Escola Sem Partido diz é que esse tipo de debate envolvendo professor e aluno, com óbvias diferenças de preparo e de autoridade, nada mais é do que doutrinação, tendo o poder de “influenciar as crianças” em suas opções políticas.

Não tenho como provar aqui, mas tenho uma forte desconfiança de que os mesmos que acham lindo ações como a do Instituto Alana, defendem a educação sexual nas escolas e são contra o Escola Sem Partido.

No fundo, a questão não está na “influência sobre as crianças”, mas QUAL é esta influência. O Instituto Alana está preocupado com a influência da publicidade. Não quer que as crianças se tornem “consumistas”. Ora, a publicidade é o coração do capitalismo, e o consumo, o seu motor. Ao lutar contra a publicidade infantil, no fundo o Instituto Alana coloca-se contra a influência do capitalismo sobre as crianças. Claro, se alguém perguntar, eles dirão que não são contra o capitalismo, mas apenas contra o consumismo, o que quer que isso signifique. Ter vontade de ir ao McDonalds torna-se um pecado mortal nessa nova religião, e devemos proteger nossas crianças contra isso.

Já a “educação contra o preconceito” e a “conscientização política” vão transformar o mundo em um lugar melhor. Assim, o Instituto Alana e outras tribos correlatas acham normal a educação sexual e o debate político nas escolas. Neste caso, a influência sobre as crianças é “do bem”.

Notaram como, nessa história toda, os pais não entraram em momento algum? Talvez fosse interessante perguntar aos pais, responsáveis últimos pela educação de seus filhos, o que acham disso tudo.

A renovação do Congresso

Não Andreazza. A mensagem dos eleitores foi a de que essas velhas lideranças já não servem mais. E dá para entender, não é mesmo?

Não existe agrupamento humano sem líderes. Novas lideranças emergirão. Melhores? Piores? Diferentes. É isso o que o eleitor mostrou que quer.

Não consigo pensar em política mais rebaixada do que a que tivemos nos últimos anos. Que venha o novo.

Virada improvável

Levantamento da primeira pesquisa DataFolha do 2o turno nas eleições presidenciais passadas e os resultados finais:

1989

Pesquisa: Collor 55 x Lula 45

Resultado: Collor 53 x Lula 47

2002

Pesquisa: Lula 64 x Serra 36

Resultado: Lula 61 x Serra 39

2006

Pesquisa: Lula 54 x Alckmin 46

Resultado: Lula 61 x Alckmin 39

2010

Pesquisa: Dilma 54 x Serra 46

Resultado: Dilma 56 x Serra 44

2014

Pesquisa: Aécio 51 x Dilma 49

Resultado: Dilma 52 x Aécio 48

2018

Pesquisa: Bolsonaro 58 x 42 Haddad

A única virada em relação à primeira pesquisa ocorreu em 2014, mas a diferença entre a pesquisa e o resultado foi de apenas 3 pts.

A maior diferença entre a pesquisa e o resultado foi de 7 pts, em 2006, quando Lula abriu larga vantagem sobre Alckmin.

A diferença a ser tirada por Haddad é de 8 pts. Tudo é possível, mas é muito improvável.

A utilidade da autonomia do BC

Imagine se Temer começasse a fazer comentários sobre a política monetária. Seria um Deus nos acuda! Mesmo Dilma, apesar de sua merecida fama de intervencionista, sempre teve muito cuidado com suas declarações em relação à atuação do Copom.

Mas Trump pode falar o que quiser. Pode falar porque o BC americano tem autonomia formal em relação ao governante de plantão. Seus diretores têm mandatos fixos, e só saem se quiserem. Além disso, o Fed tem algo que nenhuma legislação supre: credibilidade de mais de 100 anos de atuação independente.

Aqui, mesmo Dilma não fazendo declarações bombásticas como as de Trump, sempre ficou a desconfiança de que Tombini era apenas o executor da política monetária decidida no Palácio do Planalto. Nada mais natural, em um país onde o presidente da república, segundo a tradição certa vez verbalizada por Costa e Silva, acha-se o guardião último da moeda.

Claro que Trump não é um cidadão qualquer, e deveria cuidar melhor do que fala. Mesmo porque, pode estar dando a entender que vai usar de seu poder para contrapor a política restritiva do Fed, através de incentivos fiscais, o que seria um desastre.

Mas a sua fala é um bom exemplo de quão útil pode ser a autonomia formal do Banco Central em um país como o Brasil. Ainda mais com a perspectiva da eleição de um Bolsonaro, que tem toda a pinta de que vai se achar o guardião último da moeda, e que, assim como Trump, não tem papas na língua.

Uma longa campanha

58 x 44.

A diferença de 16 pontos do 1o turno se manteve.

Em votos totais, Bolsonaro tem 49%. Portanto, praticamente todos os votos hoje indecisos e nulos precisariam vir para Haddad.

Mas será uma campanha longa. Essa diferença vai se estreitar.

Não há dúvida sobre em quem não votar

Major Olímpio apoia França.

Skaf apoia França.

Os interesses corporativos do funcionalismo público e da indústria se unem em torno do candidato do PSB, partido que declarou apoio ao PT nacionalmente.

Alguma dúvida em quem não votar?

Em tempo: Doria não é do PSDB. Doria tomou de assalto o PSDB. Doria é o PSDB que gostaríamos de ter desde o início.