Estavam reclamando que o Bolsonaro ainda não tinha entrado em campo para defender a reforma da Previdência.
Pois bem, a pedidos, hoje o presidente conversou com jornalistas a respeito.
Jogou às feras as mudanças no BPC e a idade mínima da mulher. E isso porque a CCJ nem foi instalada ainda, os debates no Parlamento ainda estão nas preliminares.
Talvez seja o caso de repensar se Bolsonaro precisa mesmo entrar no debate.
O presidente da Caixa não está recebendo os parlamentares. Ele diz que tem mais o que fazer. Seu mandato, quando foi contratado, foi o de sanear o banco, não o de atender demandas parlamentares.
Vamos observar um pouco mais de perto a coisa.
Por que os parlamentares querem tanto falar com o presidente da Caixa? Que tipo de poder ele possui, que atrai tanta gente?
A resposta não é difícil: dinheiro. O presidente da Caixa tem um poder discricionário sobre o que o banco faz com o seu capital. Existe ali uma espécie de “orçamento paralelo”, em que o congressista consegue dinheiro sem precisar passar pelo desgastante processo parlamentar. O que o presidente da Caixa, Paulo Guedes e o próprio Bolsonaro ainda não entenderam (ou fingem não ter entendido), é que a própria existência da Caixa (e do Banco do Brasil) não faz sentido se não for para servir como um orçamento paralelo. Qual o sentido do Tesouro ser acionista de um banco que se pauta pelas mesmas regras de um competidor privado?
Aqueles ingênuos que são contra a privatização dos “bancos oficiais” porque pensam que é possível fazê-los rentáveis através de uma administração austera (como é o caso hoje), deveriam dar ouvidos às queixas dos parlamentares. É questão de tempo para que o bem-intencionado presidente da Caixa abra as portas de seu gabinete. Essa é a lógica da existência da Caixa.
Não há solução de compromisso: ou se coloca a privatização corajosamente na mesa, ou a Caixa vai ser saneada para voltar a ser exatamente o que era: uma forma de driblar o orçamento da União.
Dirigentes sindicais do passado mostram um dos motivos pelos quais a Ford chegou onde chegou.
Ao invés de tratar do interesse direto dos trabalhadores, Vicentinho criticou a reforma da Previdência e Luís Marinho criticou seu adversário político, João Doria. A lembrança do Lula Livre não podia ficar de fora.
Os sindicatos serviram como braços de um partido e deixaram os interesses dos trabalhadores em 2o plano. Apoiaram um partido que foi o principal responsável pelo buraco em que se meteu a economia brasileira, onde o fechamento da fábrica da Ford é apenas uma das inúmeras consequências. E agora, aparecem de cara limpa, posando de “defensores dos interesses dos trabalhadores”. E tem gente que ainda cai nessa.
A necessidade de reformar a Previdência é tão auto evidente, que até vozes da esquerda reconhecem, como mostra este artigo:
Se Bolsonaro não for capaz de aprovar uma reforma decente, garimpando votos inclusive na esquerda que não é bucéfala, seu governo termina antes de começar.
“A Eletrobras pode ser altamente rentável, desde que seja blindada dos políticos”.
Assim começa o artigo, no Valor de hoje, de dois professores que defendem a permanência desse elefante branco nas costas do povo brasileiro.
O incrível é que o artigo começa falando justamente do uso político das distribuidoras, que oneraram o Tesouro durante décadas.
Existe uma fantasia da burocracia estatal, de que pode haver empresas estatais rentáveis, desde que “livres da influência política”. Não percebem que é uma contradição em termos. Não existe razão de existir de uma empresa estatal se não for para cumprir políticas públicas. E políticas públicas não conversam com lucro que remunera o capital.
Dizer que a Eletrobrás, “agora sim”, é rentável, é apenas uma bobagem. É só uma questão de tempo para que os “políticos” tomem conta da estatal novamente, e criem novos rombos. É da natureza de qualquer empresa estatal.
Além disso, é notória a falta de capital para novos investimentos. Para que a Eletrobrás pudesse continuar a investir, seria necessário capitaliza-la. Levanta a mão aí quem quer ser sócio do governo na Eletrobrás, fornecendo o capital para novos empreendimentos.
Os serviços prestados pela iniciativa privada estão longe, muito longe, da perfeição. Mas é melhor ter algum serviço do que nenhum. E este é o risco de deixar os investimentos na mão do Estado. Parafraseando Churchill, a iniciativa privada é a pior forma de prestar serviços à população, com exceção de todas as outras.
Esse é parte do manifesto da Associação dos Magistrados e da Associação dos Procuradores.
Algumas observações:
1. Quem está se jogando contra a população são os próprios funcionários públicos, que se negam a dar a sua parcela de contribuição para o ajuste das contas públicas. A proposta do governo, ao contrário, é uma chance dos funcionários públicos se reconciliarem com a população. Chance esta que está sendo jogada fora com posturas como a que deu origem a este manifesto.
2. A alíquota de 22%, a rigor, não vai atingir ninguém, pois se trata de alíquotas progressivas, como no imposto de renda. A alíquota efetiva para quem ganha R$ 39 mil (que é o teto teórico do funcionalismo) será de 16,8%. Uma diferença de 5,8% sobre a alíquota atual. Cabe destacar que, para quem ganha o teto do INSS (R$ 5,8 mil) a alíquota será de 11,7%.
3. Uma diferença de 5,8% para quem ganha R$ 39 mil significa um acréscimo de R$ 2,3 mil na contribuição. Trata-se de uma diferença considerável, mas daí a dizer que haverá um “redução da renda alimentar”, sugerindo que os magistrados e procuradores passarão fome, vai uma distância considerável.
4. “Os verdadeiros ricos são os que recebem dividendos”. Digamos que uma viúva tenha herdado R$ 1 milhão em ações de seu marido. Com um dividend yield de 10% (o que é puxado), ela receberia R$100 mil reais por ano, ou R$8,3 mil/mês, uma fração do salário dos magistrados e procuradores. São estes os “verdadeiros ricos”?
5. Se o governo passar a taxar os dividendos, os magistrados e procuradores topam aumentar a alíquota do INSS?
6. Ainda sobre os “verdadeiros ricos”: quem ganha acima de R$30 mil/mês está firmemente entre os 1% mais ricos do Brasil. Precisamos parar de achar que rico é somente o empresário que leva para casa milhões por ano.
Os magistrados e procuradores querem continuar confortavelmente sentados na 1a classe do Titanic, enquanto o populacho nas galés sofre para tirar a água do casco do navio.
Nos últimos jogos do Santos que assisti no estádio, presenciei uma coisa muito triste: durante o hino nacional, a torcida organizada continuava gritando o nome do time, ignorando aquele momento solene.
Quando eu estava no Fundamental, em uma escola estadual na década de 70, havia hasteamento da bandeira semanalmente e todo dia tocava o hino nacional antes das aulas. Era uma grande honra ser o aluno escolhido para hastear a bandeira, e se fazia questão de treinar o hino em sala de aula, para que todos o soubessem de cor.
Não entendo os motivos por trás da atitude da torcida organizada do Santos, nem sei se isso está acontecendo com outras torcidas, mas aquilo me fere profundamente. Trata-se de uma geração para quem a noção de Nação não existe. E sem essa noção, nos transformamos em um amontoado de tribos que convivem forçadamente, sem ligar para o bem comum. A atitude da torcida organizada explica muito do Brasil de hoje.
No entanto, o governo Bolsonaro conseguiu transformar o que, de outro modo, seria uma iniciativa bem-vinda (a volta do hino às escolas) em uma patacoada politico-eleitoral. Que história é essa de “Brasil dos novos tempos”? E o que está fazendo o slogan da campanha de Bolsonaro em uma carta aos alunos, forçosamente lida pelos diretores? É estar muito alienado, é viver muito dentro de uma bolha, para achar que uma iniciativa desse tipo fosse passar em branco.
Bolsonaro e seus ministros mais, digamos, “ideológicos”, fariam bem em se dedicar a implementar o programa de governo para o qual foram eleitos (no qual se inclui fomentar um maior respeito pelos símbolos pátrios), e deixassem de lado essa bobajada de “aurora dos novos tempos”. Quando Lula e os petistas falavam do “nunca antes na história desse país”, achávamos ridículo. Bolsonaro está cometendo o mesmo erro.
Os deputados estaduais eleitos de São Paulo assumem o cargo no dia 15/03, inacreditáveis 75 dias depois da posse do governador. Resultado: plenário vazio e uma perda de tempo lamentável.
Faria bem Janaína Paschoal e os deputados que dizem representar a “nova política” definir como nova data de posse o dia 01/02, como ocorre na Câmara Federal. Estariam cortando 45 dias de seus próprios mandatos pelo bem de São Paulo. Vamos ver.