Feudos

O que vai a seguir é um trecho da reportagem de sexta-feira, no Valor, que descreve um suposto “desalinhamento” entre o secretário de privatizações, Salim Mattar, e o presidente do BB, Rubem Novaes.

A reportagem, recheada de citações de “fontes” não identificadas, faz parte claramente do lobby dos funcionários de carreira para evitar perderem os seus feudos.

O trecho abaixo contém o núcleo da argumentação: não se pode passar para a iniciativa privada as partes lucrativas do banco, importantes para a sua rentabilidade.

Esse diagnóstico parte de uma premissa equivocada: a de que o Estado deve ter o papel de empresário, ou seja, deve colocar o dinheiro arrecadado dos impostos em atividades arriscadas, com vistas a aumentar a sua rentabilidade. Não! Mil vezes não! O Estado serve para prover coordenação social e serviços que, de outra forma, não seriam prestados pela iniciativa privada. Todos eles “não lucrativos”, por definição. Não me parece que a atividade bancária seja um deles. A não ser que se queira um banco “não-lucrativo”, o que contradiz a afirmação de que não se pode privatizar porque o banco “é lucrativo”. Ora, se é para ter a mesma lucratividade de um banco privado, por que raios precisa ser estatal?

O Estado não precisa de bancos para fazer política social. Subsídios podem ser concedidos via orçamento público, diretamente nas mãos dos beneficiários de empréstimos concedidos por bancos privados. Existem apenas três motivos para a existência de bancos públicos: conceder benefícios por fora do orçamento público (o que inclui as pedaladas da Dilma), servir de barganha política ao oferecer inúmeros cargos de confiança e proteger uma casta de funcionários públicos concursados indemissiveis.

Dizer que o Banco do Brasil não pode ser privatizado porque “é rentável” é só uma desculpa para manter o feudo intocado.

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