Os 100 mil do Ibovespa

Não querendo jogar água no chopp de ninguém…

As comemorações dos 100 mil pontos do Ibovespa foram generalizadas. Até Bolsonaro entrou na onda!

Mas tem um troço chato chamado inflação. O valor nominal das coisas não quer dizer muito em um país com inflação alta. E o Brasil ainda é um país com inflação acima da média, apesar de ter caído nos últimos tempos. Olhar somente o valor nominal dá a falsa impressão de que se está rico, quando, na verdade, aquele dinheiro já não vale o que valia no passado. O que importa é o que você consegue comprar com o dinheiro, não o que está escrito na nota.

Fiz um gráfico ajustando o Ibovespa pelo IGP-DI, índice de inflação calculado pela FGV. Por que o IGP-DI? Porque é o único índice de inflação mais antigo que o Ibovespa. O índice da bolsa paulista começou a ser calculado em dezembro de 1967 e o IGP-DI em 1944. Assim, é possível corrigir o valor da bolsa desde o início. O resultado está aí abaixo.

O pico histórico da bolsa, corrigido pela inflação, foi em maio/2008: 132 mil pontos. Naquele mês, a S&P elevava o rating do Brasil para “grau de investimento”. Entrávamos no clube dos países sérios. A crise do subprime derrubou a bolsa para quase 60 mil pontos (já corrigido pela inflação), mas recuperamos rapidamente para 122 mil pontos em março/2010. A partir daí, foi só ladeira abaixo, até o impeachment. Desde então, a bolsa mais do que dobrou de valor, até atingir os 100 mil pontos de ontem.

A má notícia é que esses mesmos 100 mil pontos já tinham sido atingidos em abril/2007. Ou seja, quem aplicou dinheiro na bolsa há 12 anos, teve como rendimento apenas a inflação do período. Estamos hoje ainda 30% abaixo do pico histórico. Isso hoje. Porque, a cada ano, a inflação vai tornando esse pico mais distante.

Podemos fazer outras contas. Por exemplo, quem aplicou na bolsa no início do Plano Real, quando o índice estava em 40 mil pontos, teve um rendimento 3,7% ao ano além da inflação. Parece baixo para o nível de risco da bolsa e o nível das taxas de juros.

Tenho uma parte do meu dinheiro em bolsa, para minha aposentadoria. O segredo de investir em bolsa é investir um pouco todo mês, e esquecer o dinheiro lá. Todas essas contas acima consideram apenas um grande investimento em uma determinada data, esperando que seja a tacada da vida. Não é assim que funciona. Ao comprar bolsa todo mês, você vai comprar quando estiver em 130 mil e quando estiver em 40 mil. Sem stress.

Vender a alma

Eu realmente gostaria de entender essa frase do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Se alguém tem uma boa explicação, agradeço.

De que forma um país “vende a sua alma” em uma relação de comércio? Isso aqui está parecendo as diatribes dos petistas contra os EUA (lembra da diplomacia “altiva” do Celso Amorim?). Uma bobagem, que agora só troca de alvo.

“Os chineses podem comprar coisas do Brasil, mas não comprar O Brasil”. Esta é outra frase, cunhada pelo próprio presidente, que a rigor não significa porcaria nenhuma.

Parece-me que Bolsonaro se referia a terras e infraestrutura. Como se o risco fosse dos brasileiros e não dos chineses. Não, os chineses não vão pegar as terras e as usinas hidroelétricas, colocar debaixo do braço e ir embora no dia seguinte, deixando os brasileiros no escuro. Na verdade, quem corre risco são os chineses, em terras onde o que está escrito em contrato não vale a tinta gasta, e o histórico de desapropriações forçadas é longo.

Faria bem o governo Bolsonaro ter uma abordagem pragmática em relação ao comércio exterior e ao fluxo internacional de capitais. Como dizia Deng Xiao Ping, o premiê chinês que revolucionou aquele país no final da década de 70 e permitiu que a China se tornasse a 2a maior potência do mundo, “não importa a cor do gato, desde que cace os ratos”.

Consertando o capitalismo

Entrevista com Muhammad Yunus, o “banqueiro dos pobres”. Fez um negócio na Índia de micro-crédito, sem garantias. Não sei da saúde financeira da empresa, mas suspeito que viva de doações da parte da economia que “dá lucro”.

Aliás, esse é o projeto de Yunus: dois tipos de empresas, aquelas que “dão lucro” e aquelas que têm “preocupação social”. É a velha filantropia, com roupagem revolucionária.

Yunus defende que a máquina capitalista precisa ser concertada, pois é geradora de desigualdades. Propõe em seu lugar “empresas sociais”, que não distribuiriam lucros. Fica a dúvida de quem financiaria essas empresas, se as empresas que “dão lucro” desaparecessem.

As críticas ao capitalismo são fáceis. Suas mazelas estão aí para quem tem olhos para ver. Mas ainda não inventaram uma forma de coordenar a produção de bilhões de itens produzidos ao redor do mundo inteiro de modo a que cheguem às bilhões de pessoas que deles necessitam, gerando mais riqueza do que poderiam sequer imaginar nossos ancestrais cinco ou seis gerações atrás. Um favelado hoje vive mais e melhor do que um nobre da idade média. Isso é fato.

Aliás, essa coisa de “máquina” é bem típico de pessoas com mente totalitária, em que um “planejador central” sabe o que é melhor para todos, e projeta a “máquina” que vai “resolver os problemas”. O capitalismo tem essa vantagem: nasce da livre iniciativa de pessoas, e se adapta ao que as pessoas querem, através do capital de risco, do livre comércio e de um sistema de preços livres.

Desculpem-me se vou ser repetitivo, mas adoro parafrasear este pensamento de Churchill (ele se referia à democracia): o capitalismo é o pior sistema econômico, com exceção de todos os outros.

Quem lacra, não lucra

A Netflix deu fim à série “One Day At a Time” (muito prazer). Segundo o crítico do NYT, uma série “inteligente, divertida, com representatividade de minorias”. Só tinha um problema: os telespectadores parecem não concordar com o crítico do NYT, e deixaram a série com traço de audiência.

O crítico do NYT não se conforma com a forma com que a Netflix acabou com a série: eximindo-se de culpa. Afinal, TV é um negócio e precisa dar lucro, reconhece o crítico. Mas melhor teria sido, segundo o crítico, a Netflix bancar uma série deficitária como um investimento “de longo prazo” no relacionamento com seus clientes.

Não ocorre ao crítico que o “culpado” pela descontinuação da série não foi a Netflix, de fato. Foi, sim, a falta de pessoas dispostas a assistir a tal série. Também não lhe ocorre que, investindo em séries que ninguém vê, a Netflix colocaria em risco as séries que são vistas. Isso sim, poderia colocar em risco o relacionamento de longo prazo com seus clientes, ao ameaçar a própria existência da empresa.

Séries “lacradoras” podem agradar os críticos e uma “legião” de meia dúzia de fãs bem-pensantes, mas não sustentam um business de massa. As pessoas chegam em casa e querem se divertir. Só isso.

Ex-presidenta

R$ 52,6 mil por mês. Esse foi o gasto de Dilma Roussef em sua função de “ex-presidente da República”. O que faz um “ex-presidente da República”, além de encher o saco nas redes sociais e falar mal do Brasil no exterior? Precisa inventar bastante coisa pra gastar mais de R$ 50 mil por mês. Ah, ok, houve as despesas com a campanha eleitoral, em que a ex concluiu a façanha de chegar em 4o lugar na disputa pelo Senado.

Lula só não está em segundo lugar na lista porque foi preso em abril. Portanto, Lula gastou algo como R$ 40 mil/mês.

Entende-se agora o que significa um Estado grande e forte na cabeça dos petistas.

Qual o seu gênero?

Baixei um aplicativo que promete me indicar filmes com alta probabilidade de me agradar. Chama-se Alfred.

Estou fazendo o cadastro, e me deparo com a pergunta sobre gênero. As possibilidades estão aí embaixo.

Foi a primeira vez que me deparei com uma lista completa de gêneros. Quer dizer, completa não, porque tem ainda a opção “outro”.

Não consegui identificar a diferença entre “Trans Homem” e “Homem Transexual”, ou entre “Gênero Variante” e “Gênero Fluido”. Mas certamente deve haver uma definição muito clara, que não deixa margem a dúvidas na hora de cravar a alternativa. Ou deixa, e isso faz parte do jogo.

Também não consegui alcançar o que viriam a significar “Neutrois”, “Genderqueer” ou “Gênero Não-Conformista”. Mas é que eu sou um puta ignorante nessas coisas, reconheço.

Qual o objetivo de uma lista dessas? A pergunta sobre gênero em um aplicativo desse tipo só pode ter o objetivo de tentar adequar as sugestões de filme com o gênero. Então, é necessário que haja alguma significância estatística: x% dos homens gostam de filmes assim e assim, y% das mulheres gostam de filmes assim e assim, etc. Pergunto: qual a chance de gêneros como “duplo-espírito” ou “neutrois” ter alguma relevância estatística?

Então, o objetivo só pode ser “lacrar”. Colocar como alternativa “outro” (o que já se tornou comum) já não é suficiente. Precisa ter uma lista de tudo, de modo a mostrar que o aplicativo está “antenado” com a modernidade.

Eu, como sou um brucutu pré-diluviano, desinstalei o aplicativo.

Bolsonarismo radical

Durante a campanha eleitoral, fiz muitas amizades bolsonaristas aqui no FB. Apesar de eu mesmo não ser um eleitor de Bolsonaro, o que nos unia era a consciência de que o PT era a pior desgraça que havia acontecido ao Brasil nas últimas duas décadas, causada principalmente pela pusilanimidade do PSDB. Muitas vezes concordamos, muitas vezes discordamos, mas sempre de maneira civilizada.

Até que um dia apareceu um sujeito que parecia pensar estar em um ringue de MMA. Depois de alguns comentários violentos em alguns posts, avisou-me que iria me citar lá na página dele, e me “desafiava” a ir “debater” lá.

De fato, fui citado em um post cheio de ofensas pessoais, pinceladas aqui e ali com argumentos. Procurei educadamente responder aos argumentos, relevando as ofensas, mas sua tréplica ad hominem me convenceu de que eu estava perdendo meu tempo. Simplesmente bloqueei o sujeito e vida que segue.

Foi o único caso durante toda a campanha eleitoral, o que me diz que o número de bolsonaristas radicais não é grande. Mas faz barulho e é infenso a argumentos. O que importa é a luta política, no que são idênticos aos petistas radicais.

Bolsonaro não é Jesus Cristo e Olavo de Carvalho não é o chefe dos apóstolos. São seres humanos falíveis e sujeitos a críticas. A desculpa de que uma crítica a Bolsonaro fortalece o PT ou os “bandidos” não é válida. O que fortalecerá o PT será justamente a falta de autocritica dos bolsonaristas, a mesma autocritica que faltou ao PT e que afastou a classe média moderada do partido e deu espaço para o surgimento de um Bolsonaro.

Esse é um aviso de um observador da cena política brasileira: se os discípulos de Olavo de Carvalho continuarem nessa toada, o governo Bolsonaro se isolará em uma ilha com poucos fanáticos da causa, e os amigos lhe faltarão na hora que mais precisar. E essa hora sempre chega.

Ecologia no quentinho

O adesivo na testa desses jovens é provavelmente feito de algum derivado do petróleo.

A tinta nas mãos desses jovens provavelmente é fabricada em algum processo industrial poluente. E a caneta que continha essa tinta é de plástico.

As roupas usadas por esses jovens na certa foram fabricadas em alguma fábrica poluente da China ou Vietnã.

Depois da manifestação, muitos desses jovens foram para casa nos carros movidos a petróleo de seus pais.

E tomaram um banho quentinho, com água aquecida com gás ou com eletricidade gerada por usinas termoelétricas movidas a petróleo.

Depois do banho, foram postar as fotos deste grande dia no Instagram, em seus iPhones feitos de plástico e com baterias que ainda estarão na Terra muito depois do desaparecimento da raça humana.

As indústrias poluentes somente sobrevivem porque há compradores para seus produtos.

Eu só vou acreditar na sinceridade desse tipo de movimento quando seus protagonistas forem morar no mato, sem qualquer benesse da civilização tecnológica.