O sistema de capitalização para a previdência privada tem sido atacado por ser o sistema adotado no “Chile de Pinochet” pelos neoliberais “Chicago Boys”. A acusação é que seria um sistema “desumano”, que estaria levando ao aumento de suicídios entre idosos naquele país.
Como sempre atrás de uma estatística existe uma intenção torta, fui atrás dessa história.
Tudo o que existe na Internet é um relatório periódico produzido pelo Ministério da Saúde do Chile chamado de Estudo Estatísticas Vitais. Segundo este relatório, as maiores taxas de suicídio entre os chilenos encontram-se entre os maiores de 80 anos, 17,7 para cada 100 mil habitantes, seguido pelos idosos entre 70 e 79 anos, com 15,4 suicídios para cada 100 mil habitantes. A taxa média do país é de 10,2. Assim, restaria provado que o sistema previdenciário idealizado pelos neoliberais e adotado por Pinochet penaliza os mais idosos, levando-os ao suicídio.
Bem, em primeiro lugar, a relação de causalidade está longe de ser provada somente por estes dados. Muitos são os fatores que podem levar ao suicídio, e a questão econômica normalmente não é a principal. Tanto é assim que países ricos apresentam altas taxas de suicídio. Enquanto no Chile a taxa é de 10,2 suicídios por 100 mil habitantes, a taxa no Brasil é de 6,5, nos EUA é de 15,3, na Bélgica é de 20,7 e no Japão é de 18,5 suicídios por 100 mil habitantes (fonte: World Health Organization – ONU). Mas há países mais ricos e mais pobres com mais ou menos suicídios, mostrando uma relação fraca entre esses dois fenômenos. Causalidade, então, só para quem tem má fé.
Se a relação riqueza/suicídios é fraca, o mesmo não se pode dizer sobre a relação idade/suicídio. No mundo inteiro, os suicídios são mais comuns entre os mais velhos. Assim, no Brasil, a taxa de suicídios entre os idosos acima de 70 anos de idade é de 8,9 a cada 100 mil habitantes (fonte: Ministério da Saúde), bem acima, portanto, dos 6,5 da média. Portanto, apontar o índice de suicídios de idosos acima da média no Chile é apenas constatar um fenômeno global. Ligar este fenômeno ao tipo de sistema previdenciário é, para dizer o mínimo, uma grande besteira.
Pode-se discutir se um sistema previdenciário é melhor do que outro. Mas seria bom que, para isso, se usassem argumentos honestos.