Se o motorista “se distrai” e passa por um pardal acima da velocidade permitida, não há outra conclusão possível: o sujeito estava dirigindo acima da velocidade permitida e, o que é pior, estava distraído.
Muitos fazem isso: dirigem a uma velocidade que acham “razoável” e, quando avistam um radar (ou são avisados pelo Waze), diminuem a velocidade. Mas, de vez em quando, “se distraem” e, pá!, são multados.
A discussão, parece-me, está desfocada.
Bolsonaro deveria ter proposto a abolição pura e simples da velocidade máxima nas vias. Porque eliminar os radares significa, na prática, eliminar a velocidade máxima. A definição de uma velocidade segura ficaria a cargo, então, de cada motorista. Cada um dirigiria a uma velocidade que achasse “razoável”.
Claro, colocar a discussão nesses termos não é nada simpático.
O ponto é que a discussão está se dando sobre a “injustiça” dos radares, mas o radar é apenas uma consequência necessária da definição de uma velocidade máxima.
Estabelecer uma velocidade máxima sem radar é inócuo: aqueles que já respeitam a velocidade máxima continuarão respeitando; aqueles que só respeitam por causa do radar, passarão a não respeitar. Seria como eliminar a polícia: para os honestos, tanto faz. Para os desonestos, é uma carta de alforria.
Bolsonaro deveria admitir que é contra uma velocidade máxima nas vias. Colocaria o debate nos seus devidos termos.