A discussão dos “pardais” nos devidos termos

Se o motorista “se distrai” e passa por um pardal acima da velocidade permitida, não há outra conclusão possível: o sujeito estava dirigindo acima da velocidade permitida e, o que é pior, estava distraído.

Muitos fazem isso: dirigem a uma velocidade que acham “razoável” e, quando avistam um radar (ou são avisados pelo Waze), diminuem a velocidade. Mas, de vez em quando, “se distraem” e, pá!, são multados.

A discussão, parece-me, está desfocada.

Bolsonaro deveria ter proposto a abolição pura e simples da velocidade máxima nas vias. Porque eliminar os radares significa, na prática, eliminar a velocidade máxima. A definição de uma velocidade segura ficaria a cargo, então, de cada motorista. Cada um dirigiria a uma velocidade que achasse “razoável”.

Claro, colocar a discussão nesses termos não é nada simpático.

O ponto é que a discussão está se dando sobre a “injustiça” dos radares, mas o radar é apenas uma consequência necessária da definição de uma velocidade máxima.

Estabelecer uma velocidade máxima sem radar é inócuo: aqueles que já respeitam a velocidade máxima continuarão respeitando; aqueles que só respeitam por causa do radar, passarão a não respeitar. Seria como eliminar a polícia: para os honestos, tanto faz. Para os desonestos, é uma carta de alforria.

Bolsonaro deveria admitir que é contra uma velocidade máxima nas vias. Colocaria o debate nos seus devidos termos.

Cadastro positivo: uma boa notícia

O cadastro positivo é excelente notícia, daquelas que mudam estruturalmente a economia. O custo do crédito para bons pagadores deve diminuir ao longo do tempo, com o sistema separando o joio do trigo. E, não menos importante, rompendo o monopólio dos grandes bancos sobre o histórico de crédito de seus clientes, o que lhes fazia ter uma enorme vantagem competitiva.

Essa lei foi primeiramente editada por Dilma Rousseff em 2011, mas com uma falha grave: era um sistema opt-in, ou seja, o consumidor precisaria optar por fazer parte. Obviamente, pouquíssimos se mexeram na cadeira.

O governo Temer aperfeiçoou a lei, tornando-a opt-out. Ou seja, quem não quiser fazer parte, deverá se mover. Mas, ao não fazer parte, provavelmente terá dificuldade, dentro de pouco tempo, em obter crédito na praça.

E coube a Bolsonaro finalmente sancionar a lei.

Este é um exemplo acabado de como aperfeiçoamentos institucionais podem ser patrocinados por governos de diferentes cores, se todos olharem para o bem comum.

Fake news or not fake news: that’s the question

São mais de R$ 8 milhões/ano gastos em altíssimos salários para apadrinhados de políticos, em um órgão que produz virtualmente zero para a população de São Paulo.

Sim, estou furioso, e poderia parar por aqui.

Mas aí me ocorreu: o Estadão, onde a denúncia foi publicada hoje, é um jornal que publica “fake news”. Pelo menos, foi isso que aprendi no episódio da jornalista que queria “destruir” o governo Bolsonaro. Toda aquela história do Queiroz, por exemplo, foi tudo perseguição, pelo que pude ler aqui no FB.

Então, esse caso da Assembleia certamente tem muito de exagero ou má fé do jornal, certeza.

Ou não, dado que se trata da “velha politica”, que só faz coisa ruim.

Estou confuso.

A revolução da classe média

No dia 07/04/1959, a Newsweek publicou matéria sobre Fidel Castro, às vésperas de sua visita aos EUA. Um resumo da matéria foi publicado na 1a página do Estadão do dia seguinte.

A revista apresentava Fidel como um sujeito “honrado”, de “boas intenções”, que havia liderado uma “revolução da classe média”. No entanto, os comunistas, liderados por Che Guevara, já estavam tomando conta da situação.

O resto é História.

Desafio para a Empírucus

Recebi um daqueles e-mails longos da Empiricus. Normalmente eu apago sem ler, mas desta vez, não sei porque, me bateu uma curiosidade.

Tratava-se de um desafio: eu só poderia criticar o Felipe Miranda e a Empiricus se mostrasse uma carteira com rendimento maior que aquela que supostamente a Empiricus roda há mais de 4 anos.

E com “baixo risco”.

Bem, eu também tenho um desafio para o Felipe Miranda e para a Empiricus: abra um fundo de investimento com cota auditada, e implemente essa estratégia. Garanto que, se realmente funcionar, vão ganhar muito mais dinheiro do que vendendo assinatura de newsletter.

#ficadica

A estatística dos suicídios chilenos

O sistema de capitalização para a previdência privada tem sido atacado por ser o sistema adotado no “Chile de Pinochet” pelos neoliberais “Chicago Boys”. A acusação é que seria um sistema “desumano”, que estaria levando ao aumento de suicídios entre idosos naquele país.

Como sempre atrás de uma estatística existe uma intenção torta, fui atrás dessa história.

Tudo o que existe na Internet é um relatório periódico produzido pelo Ministério da Saúde do Chile chamado de Estudo Estatísticas Vitais. Segundo este relatório, as maiores taxas de suicídio entre os chilenos encontram-se entre os maiores de 80 anos, 17,7 para cada 100 mil habitantes, seguido pelos idosos entre 70 e 79 anos, com 15,4 suicídios para cada 100 mil habitantes. A taxa média do país é de 10,2. Assim, restaria provado que o sistema previdenciário idealizado pelos neoliberais e adotado por Pinochet penaliza os mais idosos, levando-os ao suicídio.

Bem, em primeiro lugar, a relação de causalidade está longe de ser provada somente por estes dados. Muitos são os fatores que podem levar ao suicídio, e a questão econômica normalmente não é a principal. Tanto é assim que países ricos apresentam altas taxas de suicídio. Enquanto no Chile a taxa é de 10,2 suicídios por 100 mil habitantes, a taxa no Brasil é de 6,5, nos EUA é de 15,3, na Bélgica é de 20,7 e no Japão é de 18,5 suicídios por 100 mil habitantes (fonte: World Health Organization – ONU). Mas há países mais ricos e mais pobres com mais ou menos suicídios, mostrando uma relação fraca entre esses dois fenômenos. Causalidade, então, só para quem tem má fé.

Se a relação riqueza/suicídios é fraca, o mesmo não se pode dizer sobre a relação idade/suicídio. No mundo inteiro, os suicídios são mais comuns entre os mais velhos. Assim, no Brasil, a taxa de suicídios entre os idosos acima de 70 anos de idade é de 8,9 a cada 100 mil habitantes (fonte: Ministério da Saúde), bem acima, portanto, dos 6,5 da média. Portanto, apontar o índice de suicídios de idosos acima da média no Chile é apenas constatar um fenômeno global. Ligar este fenômeno ao tipo de sistema previdenciário é, para dizer o mínimo, uma grande besteira.

Pode-se discutir se um sistema previdenciário é melhor do que outro. Mas seria bom que, para isso, se usassem argumentos honestos.

Deu ruim

Quando você ouvir alguém do PT vociferar contra a reforma da Previdência, lembre-se que eles defendem esse “modelo econômico” que deu super certo na Venezuela. O Chile é que deu ruim.

A boa imprensa

Esta manchete me fez lembrar que Cuba é o único país do mundo onde a imprensa é 100% “amiga” do governo. Ok, Coreia do Norte também, e Venezuela está se juntando ao grupo.

Lá não tem “fake news”, tudo o que o governo faz é retratado de maneira fidedigna, para que o povo fique “bem informado”.

A julgar pelo que os petistas diziam na época dos governos do PT e pelo que dizem hoje os bolsonaristas, imprensa boa é o Granma.