A seguir, vou transcrever o manifesto que Juscelino Kubitschek fez à Nação no dia 31/03/1964. Guardadas as devidas proporções, JK era o FHC da época: um democrata de esquerda, ex-presidente da República.
Para contextualizar, JK se refere à insubordinação dos marinheiros, apoiados por Jango. Com seu manifesto, JK iguala legalidade com hierarquia, colocando-se firmemente no campo daqueles que não viam outra saída a não ser depor Jango. A palavra “legalidade” é importante no contexto, pois Brizola usava esta palavra para defender a continuidade do governo, com tudo o que isto significava.
JK era um golpista? Julguem vocês mesmos.
“Na hora grave que vive a Federação brasileira, é meu dever e de todos os patriotas, dirigir apelo de paz ao governo e à Nação.
O divórcio que hoje separa brasileiros não poderá persistir sem risco de sangue generoso.
Apelo de paz que é imperativo que ela ressurja em todos os corações, inquietos e ameaçados, por ser sensíveis aos perigos colocando a frente dos inimigos de qualquer ordem e de qualquer paz.
Portanto o nosso apelo de paz é um apelo para que se restabeleçam em sua pureza total a disciplina e a hierarquia.
Tenho autoridade pelo meu passado de legalista, fiel a todas as regras da prática de Democracia representativa, e desvinculado por isso de qualquer suspeição de simpatias e tendências golpistas e reacionárias, político progressista tolerante, aberto às exigências da ascensão das massas populares, para dizer em voz alta e tranquila onde está a legalidade una e indivisível.
Neste momento, tenho a responsabilidade histórica de apontar onde está a legalidade, que cumpre defender com coragem e sem ódios.
É o que fazemos agora, na condição de ex-chefe de Estado e senador da República.
A legalidade está onde estão a disciplina e a hierarquia.
Não há legalidade sem Forças Armadas, íntegras e respeitadas em seus fundamentos.
A legalidade exige, pois que primeiro, se restabeleçam a confiança e paz nos quartéis, nos navios e nos aviões.
A casa brasileira estaria irremediavelmente dividida se as Forças Armadas se dividissem em lealdades distintas e antagônicas, geradoras de legalidades múltiplas e também antagônicas.
Salvemos a paz do Brasil, salvando a única legalidade possível.
Conclamamos todos os homens de boa vontade. Ainda é tempo de salvar a paz e a legalidade, restabelecendo a disciplina e a hierarquia por amor à Pátria, aos brasileiros e a Deus.”