O minhocão está sendo acusado de ter “degradado” o centro de São Paulo.
Quem passeia pela praça da Sé, largo de São Bento, Largo do Arouche, ou em qualquer outro ponto do centro da cidade verá regiões vibrantes, onde dá gosto passear. Por que? Porque essas regiões não foram “degradadas” pelo minhocão.
Estou sendo irônico, claro.
Estive em Tóquio uma meia dúzia de vezes, a trabalho. Tóquio é uma cidade muito populosa situada em um espaço muito apertado. Portanto, as vias de tráfego aéreo (vias como o minhocão) são muito comuns. Assim como são muito comuns os pontilhões por onde passam trens. Lá, a existência dessas estruturas não “degradou” a cidade. É muito agradável passear por Tóquio, mesmo próximo dessas estruturas.
Essa discussão me faz lembrar a polêmica sobre a lei “cidade limpa”. Segundo o então prefeito Gilberto Kassab, o motivo da cidade de São Paulo ser tão feia era a proliferação de outdoors e outros tipos de comunicação visual. Limpando tudo isso, a cidade ficaria muito mais bonita. Resultado: limpamos as ruas de toda a publicidade, e descobrimos uma cidade horrorosa por baixo. Não custa lembrar que Tóquio e Nova York são famosas por seus grandes painéis publicitários de neon. Continuam sendo cidades agradáveis.
Trabalho na Vila Olímpia, novíssimo centro financeiro de São Paulo. Quem anda pelo bairro vê fios elétricos no chão, calçadas quebradas, lixo na rua, um emaranhado de fios nos postes e, de vez em quando, cheiro de esgoto. Não precisa de um minhocão para degradar a paisagem.
Há algum tempo, uma reportagem do Estadão mostrava o estado lastimável da Praça Victor Civita, desde quando sua manutenção foi entregue para a prefeitura: pichações, banheiros quebrados, mato alto, insegurança. Não, não há um minhocão por perto que tenha degradado esta e várias outras praças municipais de São Paulo.
A degradação da cidade é o resultado da incompetência do poder público combinada com a falta de urbanidade dos seus moradores. A transformação do minhocão em uma praça não vai mudar essa realidade. E vai piorar muito o trânsito.