Luis Eduardo Assis, ex-diretor do BC, escreve artigo com um assunto sobre o qual já havia lido em outros lugares: o estímulo estatal a indústria local anunciado pelo ministro das finanças da Alemanha.
Segundo Assis, deveríamos aprender com a Alemanha. Afinal, eles têm um sucesso incontestável na indústria e, se eles estão planejando suporte estatal, então deve estar certo!
Seria assim se fosse assim.
O próprio artigo aponta que, de 1991 para cá, a representatividade da indústria no PIB da Alemanha caiu levemente, de 24,9% para 21,1%, enquanto no Brasil despencou de 22,1% para 10,5%. O que deveríamos estar investigando, então, é o que a Alemanha fez de diferente do Brasil nesse período, não aquilo que foi anunciado pelo ministro, cujos resultados conheceremos apenas nos próximos anos.
Confesso que não sei o que a Alemanha fez, mas nós sabemos o que fizemos para destruir a nossa indústria nos últimos 30 anos. O próprio autor do artigo descreve: “juros subsidiados, incentivos fiscais e reservas de mercado”, em grande parte aproveitados por “lobbies poderosos que capturaram o Estado”. Perfeito. E o que temos a aprender com o neo-intervencionismo alemão? Na verdade, parece que eles têm mais a aprender conosco nesse quesito.
O Valor traz uma reportagem sobre como a indústria 4.0 tem tido uma implementação muito lenta no Brasil.
O diagnóstico é a falta de mão de obra qualificada. Talvez a intervenção estatal seja por aí, na formação da mão de obra, e não um fundo para evitar a desnacionalização de empresas, que é o que a Alemanha acabou de fazer. Fora resolver o pesadelo tributário, a infraestrutura precária e todos os outros obstáculos que fazem do industrial brasileiro um herói da sobrevivência.
Há muito o que fazer para chegarmos ao patamar onde hoje se encontra a Alemanha, para daí pensarmos em estímulos diretos à indústria. Os quais, como vimos no caso brasileiro, não servem de nada. O autor do artigo diz que os alemães nos ensinaram a jogar futebol. Não custa lembrar que a seleção alemã foi humilhada na última Copa, sendo eliminada na primeira fase. Arrisco a dizer que, adotando a receita brasileira, a Alemanha arrisca a sua indústria ao mesmo destino.