Lembro da primeira vez que estive no Japão, e me espantei quando soube que TODOS os funcionários do escritório da minha empresa, do presidente à secretaria, vinham para o trabalho de trem e metrô. Foi um choque cultural.
Um dos meus colegas de lá me perguntou como era o escritório no Brasil, se era bem localizado. Eu, todo orgulhoso, disse que sim, estava na esquina da Faria Lima com a JK, um dos pontos mais valorizados de São Paulo. Ao que ele replicou: “que bom, deve ter uma estação de metrô perto então”. Para ele, boa localização era estar perto de uma estação do metrô. Não, não era esse o caso, e nem existe o sonho de que seja nos próximos 20 anos.
Foi um evento determinante na minha vida. A partir de então, comecei a pensar no transporte coletivo como uma alternativa real de transporte, livrando-me, aos poucos, do preconceito que cerca esse modal. Afinal, a “elite” vai de carro, enquanto o “povão” vai de trem/metrô/ônibus. Mudei para perto do metrô, vendi meu carro, e hoje uso intensamente o transporte coletivo.
Pelo visto, não fui o único. As viagens de carro caíram 43% em São Paulo entre os mais endinheirados nos últimos 10 anos. Aos poucos, o transporte coletivo vai deixando de ser “coisa de pobre”.
Infelizmente, no entanto, o que ocorre é o inverso: o transporte coletivo é “coisa de rico”. Em uma cidade como São Paulo, o transporte coletivo é muito eficiente nas regiões centrais, mais ricas, mas é de uma ineficiência atroz nas periferias. Não à toa, as viagens de carro subiram mais de 70% entre as menores faixas de renda na mesma pesquisa. Ainda estamos muito distantes de sermos uma Tóquio em termos de serviço de trens e metrôs para as regiões mais distantes. Aqui, como em varias outras áreas, o poder público está a anos luz das necessidades dos mais pobres.