É pública e notória a má-vontade com Bolsonaro por parte da imprensa mundial. Na verdade, essa má vontade com o Brasil de maneira geral já vem desde o “golpe” que derrubou Dilma Rousseff, versão que “pegou” na maior parte da imprensa global.
Consciente desse problema, o que faz Bolsonaro? Cultiva essa má-vontade com carinho e perseverança. No caso específico do meio-ambiente, cancelou (e depois voltou atrás) evento da ONU sobre o clima em Salvador, colocou em dúvida dados do INPE, mandou as primeiro-ministras da Alemanha e da Noruega cuidarem de suas florestas e baleias respectivamente, colocou a culpa pelas queimadas nas ONGs.
Bolsonaro pode estar absolutamente correto em todos essas questões. Não é este o ponto. O problema é o clima de confronto criado em um embate em que o Brasil não tem a mínima chance de sair-se vencedor. Bolsonaro precisa urgentemente mostrar que tem alguma preocupação com o tema do meio-ambiente, por mais que considere este assunto uma “invenção de ONGs para acabar com a soberania nacional”. Não temos como ganhar essa batalha.
Vou dar um exemplo: quando a primeira-ministra da Noruega afirmou que estava retendo as doações para o Fundo Amazônia em função de mudanças em seu conselho curador, uma reação possível poderia ser: “lamento a decisão da primeira-ministra, este era um recurso muito importante para combater queimadas na Amazônia, que é um tema importante e urgente. No entanto, é preciso que esse dinheiro venha junto com o respeito à soberania nacional. Espero que eles entendam isso e possamos conversar como dois estados soberanos”. Seria uma resposta dura, altiva, mas respeitosa e colocando a preocupação com o meio-ambiente como um tema importante. A reação, no entanto, foi: “Noruega? Aquela que caça baleias? Não precisamos do dinheiro deles.” Adivinha o que aconteceu com a boa-vontade dos interlocutores.
Existe uma nova onda crescente no mundo dos investimentos globais. Chama-se ESG: Environment, Social and Governance. Os grandes investidores institucionais globais estão cada vez mais adotando critérios ESG para fazer seus investimentos em empresas e países. Do jeito que a coisa vai, não me surpreenderia se o Brasil fosse em algum momento classificado como um país não “ESG compliant”, o que faria com que fluxos internacionais de capitais fossem restringidos pelo critério ESG. Seria mais ou menos o equivalente, no mundo dos investimentos, ao que acontece quando produtos agrícolas brasileiros são banidos por problemas ambientais.
Bolsonaro, com suas declarações “espontâneas” e “autênticas” faz muito sucesso junto à sua plateia. Mas, como essa mesma plateia costuma dizer, “quem lacra não lucra”. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.