O teto de gastos foi uma espécie de “Plano Real” das contas públicas. Despretensiosamente, o teto de gastos resolve, a longo prazo, o problema fiscal do Brasil. É como comprar uma roupa justa e ser obrigado a não engordar para continuar cabendo.
Óbvio que, para funcionar, é preciso realizar uma série de reformas. A primeira e mais importante foi a da Previdência. Mas são necessárias outras para que o corpo continue cabendo no figurino.
Mas o Estado brasileiro está viciado em doces e frituras e tudo o mais que engorda. Aquela roupa de dois anos atrás já não serve mais. Ao invés de procurar manter o peso, adivinha, estão agora pensando em maneiras de trocar a roupa por outra maior.
Fábio Gianbiagi, economista que respeito, veio ontem com a proposta de mudar a regra do teto, incluindo ganho real sobre a inflação. Não é uma ideia estapafúrdia, dado que mantém a essência da ideia, que é o teto de gastos. Mas, por onde passa um boi passa uma boiada. Colocar em votação qualquer coisa relacionada ao teto de gastos agora é como oferecer “só uma dose” para um alcoólatra que está tentando largar o vício.
Entendo os argumentos daqueles que defendem que, em um país com as necessidades do Brasil, cortar gastos públicos é penalizar aqueles que mais precisam da assistência estatal. Ocorre que, no país da meia-entrada, tem muita, mas muita gordura para cortar antes de chegar aos gastos do Estado que efetivamente chegam aos mais necessitados. Dá pra emagrecer bastante, e ainda melhorar os serviços públicos. Basta focar os gastos públicos nos mais pobres e resistir ao assalto das corporações, do empresariado e da classe média aos cofres públicos. Fácil, né?