Lógica de Brasília

“O que temos são passagens mais caras, menos voos e aviões sucateados”.

Daí se depreende que, sem a cobrança pela bagagem, os nobres deputados esperam passagens mais baratas, mais voos e aviões tinindo de novos.

A lógica de Brasília é difícil de alcançar.

Mudanças no teto de gastos

O teto de gastos foi uma espécie de “Plano Real” das contas públicas. Despretensiosamente, o teto de gastos resolve, a longo prazo, o problema fiscal do Brasil. É como comprar uma roupa justa e ser obrigado a não engordar para continuar cabendo.

Óbvio que, para funcionar, é preciso realizar uma série de reformas. A primeira e mais importante foi a da Previdência. Mas são necessárias outras para que o corpo continue cabendo no figurino.

Mas o Estado brasileiro está viciado em doces e frituras e tudo o mais que engorda. Aquela roupa de dois anos atrás já não serve mais. Ao invés de procurar manter o peso, adivinha, estão agora pensando em maneiras de trocar a roupa por outra maior.

Fábio Gianbiagi, economista que respeito, veio ontem com a proposta de mudar a regra do teto, incluindo ganho real sobre a inflação. Não é uma ideia estapafúrdia, dado que mantém a essência da ideia, que é o teto de gastos. Mas, por onde passa um boi passa uma boiada. Colocar em votação qualquer coisa relacionada ao teto de gastos agora é como oferecer “só uma dose” para um alcoólatra que está tentando largar o vício.

Entendo os argumentos daqueles que defendem que, em um país com as necessidades do Brasil, cortar gastos públicos é penalizar aqueles que mais precisam da assistência estatal. Ocorre que, no país da meia-entrada, tem muita, mas muita gordura para cortar antes de chegar aos gastos do Estado que efetivamente chegam aos mais necessitados. Dá pra emagrecer bastante, e ainda melhorar os serviços públicos. Basta focar os gastos públicos nos mais pobres e resistir ao assalto das corporações, do empresariado e da classe média aos cofres públicos. Fácil, né?

Quem tem padrinho não morre pagão

O texto a seguir é de Osmar Lannes Jr. A ôtoridade a que ele se refere é a deputada Carla Zambelli. Que saiu às ruas contra “a falta de ética na política”.

Descansem os espíritos timoratos: a lei de abuso de autoridade não vai alcançar a deputada e nem o seu padrinho.

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“Desabafo.

Uma de minhas filhas decidiu, com 14 anos, fazer o ensino médio no Colégio Militar de Brasília. Por não preencher os requisitos previstos para ingresso direto no CMB, a única alternativa que lhe restava seria prestar um concurso. Não um concurso qualquer, mas um duríssimo concurso, em que centenas de candidatos disputariam as pouquíssimas vagas reservadas para essa modalidade de acesso.

Sujeitou-se, por isso, durante um ano inteiro, a uma dura rotina de estudos. De segunda a sexta-feira, tinha aulas, atividades e provas num dos melhores colégios da cidade. Às 18:00 horas, a mãe a buscava no colégio e a levava a um curso preparatório para o concurso. O jantar dela se dava no carro, durante o trajeto. Tinha aula no cursinho das 18:30 às 22:30 horas. Chegava em casa, toda noite, depois das 23:00 horas. No dia seguinte, às 7:00 horas, já estava pronta para o colégio. Fins de semana eram dedicados a mais estudo e deveres. Com 14 anos de idade.

Ao final de um ano inteiro de esforço incomum e uma assombrosa dedicação, foi aprovada no concurso do Colégio Militar, conquistando uma de apenas DEZ VAGAS, contra mais de MIL CANDIDATOS.

Enquanto isso, em abjeta contradição com o ethos de trabalho, dedicação e meritocracia que constitui a base da instituição militar, o filho de uma personalidade pública é agraciado com uma das vagas no mesmo Colégio Militar de Brasília. Sem concurso. E sem direito legal ou normativo ao ingresso no Colégio sem concurso.

Mais uma bofetada na face dos brasileiros que, tolamente, acreditam que as regras valem para todos. Que, teimosamente, optam pelo trabalho e pelo esforço próprio. E que, ingenuamente, acreditaram em promessas de novos tempos.

Lamento MUITO que o Exército Brasileiro tenha coonestado essa gritante violação aos mais basilares princípios da própria Instituição.

No fundo, somos todos OTÁRIOS. Aliás… todos, não: quase todos.

RIP, Brasil.”

Efeito surpresa

Ontem foi lançada pela segunda vez (a primeira parece que não deu muito certo) a Frente Democrática Brasileira, para garantir “Direitos Já”. A coisa se deu no Tuca 😴

“Num efeito surpresa”, Chomsky apareceu por lá.

Agora sim, fomos surpreendidos.

A conta chegou

Nas discussões sobre a reforma da Previdência, sempre havia um parlamentar do Nordeste para lembrar que a previdência era uma “política de distribuição de renda”, e que havia cidades que viviam do que recebiam seus aposentados. Lembro de reportagens falando sobre isso.

Cai como uma bomba sobre essa narrativa, portanto, a notícia de que um prefeito do Nordeste decretou falência do município por não conseguir pagar sua dívida justamente com o INSS!

Não consigo pensar em exemplo melhor para demonstrar que o Estado não cria riqueza, apenas distribui. O dinheiro que entra no bolso dos aposentados de Bento sai do caixa da prefeitura de Bento. Se não há criação de riqueza, essa transferência de riqueza acaba se exaurindo no pagamento da máquina. No caso, 9 vereadores que ganham, cada um, R$ 12,9 mil! Com uma renda de mais de 12 salários mínimos, esses vereadores estão firmemente colocados entre os 1% mais ricos do Nordeste.

Evidentemente, a decretação da falência é apenas um show de pirotecnia do prefeito. O que ele certamente quer é chamar a atenção e conseguir mais dinheiro para manter a máquina funcionando. Fundir seu município com outros no mesmo estado de penúria e mandar para casa os vereadores e a si próprio, nem pensar! Afinal, é preciso distribuir renda.

A farra acabou

Nos idos da década de 80, a esposa de um amigo meu trabalhava no Banespa. Os pais dela eram cobertos pelo plano de saúde da empresa, a Cabesp. E não era qualquer cobertura não! Dava direito até ao Sírio!

Bem, o resto é história. O banco quebrou e foi privatizado. Foi por causa do plano de saúde dos pais da esposa do meu amigo? Assim como a queda de um avião, uma falência não tem um motivo único. O plano de saúde nababesco do Banespa era apenas mais um item em uma longa série de benesses e desmandos que acabaram por inviabilizar a empresa.

Estatais são assim: criadas para “servir o povo”, acabam por servir os políticos e os seus funcionários. Enquanto papai Estado tem dinheiro para manter a farra, vai se levando. Quando papai Estado quebra também, não resta outra alternativa a não ser privatizar ou simplesmente fechar a empresa.

Os Correios são somente mais um exemplo dessa crônica de uma morte anunciada. Eu dizia para esse meu amigo: aproveite enquanto é tempo, essa farra um dia vai acabar. E acabou.

Linha vermelha

Todos nós temos uma linha vermelha. É aquela que, se ultrapassada, torna qualquer coisa intolerável. Esta “linha vermelha” pode parecer uma bobagem para os outros, mas para a pessoa que não tolera, é a gota d’água. O cara pode estar pintado de ouro, não serve mais. Pode ser Jesus na Terra, o mais virtuoso dos homens, mas aquele ponto específico era inegociável.

Lembro que, durante a campanha, Alckmin ultrapassou uma linha vermelha para mim. Foi a defesa (entrelinhas) da volta do imposto sindical, em meio às negociações para compor com o Centrão. Aquilo foi intolerável. Perdeu alguma possibilidade de voto meu ali.

Bem, eu tenho outra linha vermelha. Chama-se CPMF.

Ciclofaixas e eleições

Ontem senti falta da ciclofaixa do domingo, mas pensei: deve ser por causa da chuva, né?

Nada disso: foi incompetência da prefeitura mesmo, que não conseguiu repor o patrocinador que desistiu do contrato.

Não sei se foi um problema do contrato, que não previa aviso prévio, ou da prefeitura, que dormiu no ponto. Pouco importa. O culpado será sempre o prefeito.

Bruno Covas tem tentado se destacar com pautas da esquerda bem-cheirosa. A falta da ciclofaixa atinge em cheio justamente esse público, digamos, mais sensível à causa. O atual prefeito corre o risco de acabar o mandato falando sozinho.

Esperto é o Doria, que já se movimenta em direção ao seu plano B: Joice Hasselmann. E mais esperto ainda é o Bolsonaro, que já avisou que Joice não é a sua candidata.

As eleições para a prefeitura de São Paulo serão, como sempre, interessantes.

What a surprise!

As empregadas domésticas “conquistaram” uma série de direitos que antes lhes eram negados.

Daí, o número de empregadas domésticas sem registro explodiu.

Por essa ninguém esperava.