Jeffrey Sachs, renomado economista americano e diretor de um departamento de sustentabilidade da ONU, concede longa entrevista hoje no Valor. São muitos as pérolas que poderiam ser destacadas, mas acho que o trecho abaixo resume bem a bolha onde esse pessoal vive.
Segundo Sachs, é questão de pouco tempo para que “as pessoas” se perguntem de onde está vindo o alimento que comem, e rejeitem soja que tenha vindo de áreas desmatadas da Amazônia.
Não vou nem entrar no mérito do que se considera “Amazônia” no critério da ONU. Deve ser tudo que estiver acima da Barra da Tijuca. A questão é outra: assumir que a imensa maioria da população global, que não tem onde cair morta, vai olhar para a embalagem do produto e verificar se é “desmatamento free”.
Nos mercados descoladas da Vila Madalena ou do Leblon, é comum encontrarmos produtos “orgânicos”, cultivados sem (ave-maria cruz-credo) agrotóxicos. Obviamente, muito mais caros do que os produtos “comuns”. Ora, se as pessoas, por pura limitação econômica, não se recusam a ingerir comida “envenenada”, que dirá sobre a preservação das árvores da Amazônia.
Esse pessoal vive na bolha dos 0,1% mais ricos da população, onde a comida é farta e pode ser escolhida com critérios “corretos”. No mundo real, a Índia está comemorando o fim da defecação a céu aberto, conforme notinha também reproduzida aqui.
A China precisa alimentar mais de 1 bilhão de pessoas (e o Brasil mais de 200 milhões) do jeito que der. Quando todos os habitantes do planeta puderem consumir duas mil calorias por dia, daí talvez possamos começar uma discussão sobe “conscientização”. Aliás, os plantadores de soja conseguem fornecer proteínas para esse mundaréu de gente com um impacto ambiental bastante limitado, dado o tamanho do desafio.
Em outro ponto da entrevista, Sachs afirma que quem está contra as ações para conter as mudanças climáticas só está pensando no dinheiro. Pode ser. Mas eu diria que o grande problema dessas ações é combinar o jogo antes com aqueles que NÃO TEM dinheiro. Esses é que, no final do dia, teriam que pagar, com suas próprias vidas, pelas políticas ambientalistas.