Os “especialistas”, quando consultados, insistem na ideia de que a violência não é necessária no combate à criminalidade, bastaria o uso de “inteligência”. Por inteligência entende-se aprimorar a capacidade de investigação, o que supostamente diminuiria a necessidade de confrontos com mortes, ao focar a ação nos bandidos, deixando inocentes de fora.
Pois bem, o governo de São Paulo está investindo em equipamentos de monitoramento, justamente para aumentar a “inteligência” no combate à criminalidade. Mas os “especialistas” alertam que esse tipo de coisa aumenta o isco de “esteorotipação” e da criação de “zonas de exclusão”, o que quer que isso signifique. Ou seja, para esses “especialistas”, a polícia deve agir com inteligência, mas com uma venda nos olhos. Isso aí não é inteligência, é o Neo cego lutando contra Matrix, só funciona em filme.
O autor da reportagem diz que o governo está comprando esse equipamento “sob o argumento” de melhorar o combate à criminalidade. Ao substituir a proposição “para” pela locução “sob o argumento”, o repórter faz a suposição de que o governo, na verdade, tem outras intenções. Pelo tom da reportagem, as verdadeiras intenções do governo são “criar zonas de exclusão” ao estereotipar a população pobre e bisbilhotar os cidadãos. Aliás, o título da reportagem faz menção aos “paulistas” de maneira genérica, não à bandidagem.
De fato, há um trade off insolúvel entre combate à criminalidade e privacidade. Mas, com as devidas salvaguardas legais (e os responsáveis pelo projeto as descrevem de maneira satisfatória, em minha opinião), se este for o preço a pagar para diminuir a criminalidade, podem me bisbilhotar à vontade, eu não tenho nada a esconder. Minha resposta aqui aos “especialistas” é a mesma que dou aos advogados criminalistas que alegam defender meus “direitos de cidadão” quando, na verdade, estão defendendo o direito dos bandidos de não serem presos: me incluam fora dessa.