“Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.
Para mim, essa frase de Millôr Fernandes é a melhor síntese do papel da imprensa em uma sociedade democrática.
Muitos dos comentários ao meu post sobre a Globo referem-se a uma espécie de “dois pesos e duas medidas” no tratamento que a emissora estaria dando ao caso do porteiro do condomínio. Afinal, por que o foco em Bolsonaro? Onde está o noticiário sobre o depoimento de Marcos Valério incriminando Lula no caso Celso Daniel? Onde está a repercussão da delação de Pallocci? Isso demonstraria a má vontade da emissora com o governo.
Então. É necessário compreender como funciona a editoria de um jornal. São inúmeras as notícias que chegam diariamente, e há uma seleção daquilo que será noticiado, e com qual ênfase. Qual o critério?
O critério é a notícia. E, de preferência, a notícia que vende jornal. A experiência diz que notícias que se referem a quem está exercendo o poder naquele momento são mais relevantes e, portanto, vendem mais jornal. Simples assim.
O PT está fora do poder há mais de 3 anos. Por mais que seja ainda um partido importante, suas ações têm, hoje, muito menos relevância do que tinham há 3 anos. Eles não decidem mais nada. Quem tem a caneta bic, hoje, é Jair Bolsonaro.
Essa discussão me lembra quando os petistas reclamavam que a Globo só focava no PT e deixava as falcatruas do PSDB em 2o plano. “E o mensalão mineiro? E o Aécio?”, gritavam. O PSDB já estava fora do poder há 3 anos quando se deu o mensalão e há 12 anos quando o Petrolão veio à tona. Era irrelevante o que fazia ou deixava de fazer o PSDB. O PT era o poder, o foco era no partido que exercia o poder.
A imprensa não tem a obrigação de “balancear ideologias”. Tantos minutos dedicados à direita, tantos minutos dedicados à esquerda. A cobertura não é justa nesse sentido. O critério da cobertura se dá pela relevância da notícia. E notícias são mais relevantes quanto mais se aproximam do poder. É assim em qualquer democracia.