Trabalho com investimentos, mais especificamente com investimentos de fundos de pensão. No meu ramo, o planejamento para o futuro é a razão mesma de ser da atividade. As pessoas poupam uma parte dos seus recursos para poderem usufrui-los em um teórico futuro. Um futuro que pode não chegar, como vimos na trágica morte de Gugu Liberato.
Vivemos como se fôssemos eternos. Ninguém levanta pela manhã achando que aquele será o último dia. Mas um dia será. Estamos sempre planejando o futuro, como se o futuro fosse algo líquido e certo.
Poupar dinheiro para o futuro é apenas uma pequena faceta desse planejamento. Deixamos de fazer coisas hoje porque as faremos no futuro em melhores condições.
Obviamente o nosso dia tem 24 horas, e é impossível fazer tudo o que queremos fazer. As coisas ficam para o dia seguinte, para a semana seguinte, para o mês seguinte, para o ano seguinte, para as calendas.
Estamos próximos do ano novo. É sempre uma época de resoluções, que mal lembraremos no final do ano seguinte. Somos os reis do planejamento. Que normalmente é o outro nome que damos para a procrastinação.
Longe de mim criticar o planejamento, as promessas, o guardar dinheiro para o futuro. Quem não planeja, quem não promete, quem não guarda, vive sem compromissos. E um homem que não se compromete não realiza nada.
Mas é preciso também viver o dia de hoje. Cada dia tem uma graça a ser descoberta. Viver o dia sonhando com a noite, viver os dias da semana sonhando com o fim de semana, viver os dias do ano sonhando com as férias, viver os dias da vida sonhando com a aposentadoria, tudo isso é viver pela metade.
O equilíbrio entre viver o presente e planejar o futuro é uma arte. A morte de uma pessoa jovem sempre me lembra que o futuro pode não chegar. É um despertador para viver intensamente o momento presente.