Rosângela Bittar, nova colunista do Estadão, defende a tese de que não há polarização na política brasileira. Para provar a sua tese, Rosângela afirma que há pelo menos três “anti-Lulas” na praça, o que indicaria um quadro mais multifacetado. A tese é discutível, mas o que me chamou a atenção foi a classificação que a experiente colunista faz dos “anti-Lula”: Bolsonaro seria “extrema-direita”, Doria seria “direita” e Ciro Gomes seria “centro”!
Ok, classificar Bolsonaro como “extrema-direita” é uma necessidade atávica da imprensa brasileira, o que puxa todos os seus adversários para a órbita da direita. Mas classificar Ciro como “centro” é só a demonstração de como essa classificação é capenga. A classificação mais óbvia seria Bolsonaro à direita, Doria como “centro” e Ciro como “esquerda”. Mas aí teríamos que assumir que Lula é “extrema-esquerda”, o que obviamente não confere com a narrativa.
Imagine o inverso: o “anti-Bolsonaro” da extrema-esquerda seria Lula, da esquerda seria Ciro e do centro seria Doria. É absolutamente simétrico com a classificação anterior, mas seria um Deus-nos-acuda.
Essa classificação entre “direita” e “esquerda” é sempre sujeita a muita discussão. Mas tem coisas que são indiscutíveis. Uma delas é afirmar que Ciro Gomes é uma alternativa de centro. Simplesmente não dá.