O Estadão pública hoje editorial sobre a COP-25. Não havia me atentado ao fato da “igualdade” ter sido colocada como uma meta, no mesmo nível da preservação e do crescimento econômico. Assim, temos uma trindade de objetivos: preservação, crescimento e igualdade.
O editorialista afirma que não se trata de um objetivo impossível de ser alcançado, mas não esclarece de onde vem o seu otimismo. Parece mais um wishful thinking.
Muito pelo contrário: as energias limpas são mais caras e, portanto, tendem a abrir um fosso ainda maior entre ricos e pobres. Basta pensar nos alimentos orgânicos: se, do dia para a noite, os alimentos não orgânicos fossem proibidos, adivinha quem iria morrer de fome. Claro, sempre se fala em uma longa transição e em subsídios para as energias limpas. Bem, longa transição não orna com a urgência que a Greta quer, e os subsídios precisam ser combinados com aqueles que irão pagá-los, inclusive os mais pobres. Ou alguém acha que é só rico que paga imposto?
Já era difícil conciliar preservação com crescimento, imagine agora tendo também que aumentar a “igualdade”. Não é à toa que virou um grande impasse. A dura realidade é que são objetivos contraditórios e qualquer solução sempre ficará aquém do desejado.
A usina de Belo Monte é um belo exemplo dessa contradição: construída a fio d’água para evitar alagamento de terras indígenas e a extinção da biodiversidade local, Belo Monte só funciona durante pouco mais da metade do ano. Para fazer frente à demanda, o operador pediu permissão para construir uma usina termoelétrica, altamente poluidora. Claro, sempre podemos deixar desligado nosso ar-condicionado no verão, mas parece que o pessoal não gosta muito dessa alternativa, que verdadeiramente nivelaria ricos e pobres. Por baixo.