Segundo matéria do Valor, o governador petista da Bahia e Jaques Wagner (que dispensa credenciais) anunciaram apoio à candidatura, para a prefeitura de Salvador, de uma outsider, que nem filiada ao partido é. O diretório municipal entrou em ebulição. A pré-candidata é mulher e negra, credenciais importantes nos dias que correm. Mas tem um passivo intransponível, segundo os dirigentes locais: é major da PM. Apesar de comandar a Ronda Maria da Penha, que combate a violência contra a mulher, a major não conseguiria se livrar da “imagem negativa” da PM junto à população mais pobre, e teria dificuldade de obter apoio dos “movimentos sociais”.
Corte rápido para uma notinha hoje no Estadão (abaixo), dando conta de que pesquisas estão captando a força do apoio de Bolsonaro no Nordeste, e que líderes de esquerda estariam preocupados com essa tendência.
Rui Costa, Jaques Wagner e, obviamente, Lula, sabem para onde sopram os ventos. Uma candidata PM é claramente uma tentativa de neutralizar o avanço de Bolsonaro em seu território. Aparentemente, o povo pobre não tem assim tantas críticas à atuação da PM como supõem os movimentos sociais em suas bolhas. Pelo menos, é isso o que pensa quem entende de política dentro do partido.
Eugênio Bucci repercute o Índice de Democracia, publicado anualmente pela The Economist. E ele está preocupado. Muito preocupado.
Segundo o jornalista, a nossa democracia vai de mal a pior, e esse índice seria mais uma evidência disso. Por que? Bucci elenca três motivos, a saber: 1) o índice caiu de 6,97 em 2018 para 6,86 em 2019; 2) a nossa democracia é classificada como “falha” pela revista e 3) o item “funcionamento do governo” foi o ponto crítico desta nota ruim, pois recebeu nota 5,36. Principalmente esse terceiro ponto deu margem a que o preocupado jornalista apontasse todos os nazistas debaixo das camas desse governo, conclamando os democratas do país a nos salvar dessa peste.
Os três fatos elencados são verdadeiros, mas a sua relação específica com o governo Bolsonaro é, para dizer o mínimo, forçada. Vejamos.
Em primeiro lugar, é verdade que o índice caiu de 6,97 em 2018 para 6,86 em 2019. Mas o mesmo índice era 6,86 em 2017. Durante o governo Temer, portanto. Então, fica difícil relacionar essa queda especificamente ao governo Bolsonaro.
Em segundo lugar, a classificação da democracia como “falha” vem desde o início da publicação do índice, em 2006. Todos os países que recebem nota entre 6,00 e 7,99 recebem essa classificação. O Brasil nunca teve classificação maior que 7,99. Portanto, “falha” não é uma característica da democracia bolsonarista, mas da democracia brasileira.
Mas é o terceiro ponto que merece maior atenção: este item, “funcionamento do governo” recebeu nota realmente baixa, 5,36. Mas o Brasil recebe esta mesma nota para este quesito desde 2017. Nem mais, nem menos. Portanto, o problema não é o governo Bolsonaro. Aliás, este quesito não está sozinho puxando a nota do país para baixo: “cultura política” recebeu nota 5,0 e “participação política” recebeu nota 6,11, sendo também responsáveis pela nota ruim do Brasil.
Então, o que Bucci está fazendo é instrumentalizar uma ferramenta de análise em favor de sua tese. Danem-se os números, o que importa é demonizar quem eu não gosto.
O pior de tudo é que realmente a democracia brasileira perdeu qualidade nos últimos anos, de acordo com o índice da The Economist. Até 2008, nossa nota era 7,38, passando a ser 7,12 entre 2010 e 2013 e voltando a 7,38 em 2014. A partir daí, foi só ladeira abaixo. E o item que deteriorou este índice a partir de 2015 foi realmente a “qualidade do governo”. No entanto, ao concentrar as críticas nas idiossincrasias de Bolsonaro, o articulista perde a chance de fazer um diagnóstico mais abrangente.
Para entender porque a “qualidade do governo” piorou, é necessário saber no que consiste esse quesito. São 14 perguntas feitas pela The Economist. Vou listá-las aqui para que fique clara a natureza desse quesito (respostas positivas aumentam a nota):
1) As políticas do governo são determinadas pelos representantes eleitos.
2) O parlamento é o corpo político supremo, com uma clara supremacia sobre outros ramos do governo.
3) Há um sistema de checks e balances efetivo.
4) O governo está livre de influência indevida de militares
5) Instituições estrangeiras não determinam as políticas nacionais.
6) Grupos econômicos e religiosos não tem poder paralelo ao governo.
7) Há formas de cobrar o governo entre as eleições.
8 )A autoridade do governo se estende sobre todo o território nacional.
9) O público tem acesso a informações do governo
10) A corrupção não é um grande problema
11) Os servidores públicos implementam as políticas de governo
12) Existe percepção por parte do povo de que se tem livre escolha e controle sobre suas vidas
13) A confiança popular no governo é alta
14) A confiança popular nos partidos políticos é alta
Olhando o conjunto desses itens, parece óbvio que houve uma deterioração da percepção da funcionalidade do governo a partir do evento do Petrolão. Não por coincidência, a nota desse quesito despenca a partir de 2015. Quer dizer, o governo do PT não era um primor de democracia para depois dar lugar a governos autoritários. Ocorreu o justo contrário: os governos do PT plantaram a deterioração posterior, a exemplo do que aconteceu na economia.
Bolsonaro é consequência, não causa da deterioração da democracia brasileira. E não é combatendo os sintomas que se cura uma doença.
Nos idos de 2013, na era da Petrobras grande de Dilma Rousseff e Graça Foster, a empresa adquiriu da Vale, por R$234 milhões, uma fábrica de fertilizantes em Araucária-PR. O negócio foi tão bom, que a empresa tentou vender a fábrica e não conseguiu encontrar comprador. Decidiu então “hiberná-la” (eufemismo para fechá-la), demitindo seus quase 400 empregados.
Os petroleiros, então, decidiram iniciar greve em “solidariedade”. Nota: além de todos os direitos trabalhistas, cada trabalhador demitido terá um bônus entre 50 e 100 mil, além de plano médico por dois anos.
O Petrolão foi pinto perto dos prejuízos causados pela barbeiragem da administração petista.
Acabo de receber lembrete de aniversário do Facebook de um amigo que já faleceu.
Quando a civilização humana tiver chegado ao seu inevitável fim e a Terra for visitada por alienígenas em busca de civilizações passadas, os lembretes de aniversário do Facebook serão o único testemunho de nossa existência.
O PT continua em sua busca por um candidato que carregue o peso da sigla na disputa pela prefeitura de São Paulo. Na falta de Haddad, Lula defende uma “novidade”. Hoje, reportagem do Estadão traz a lista de potenciais nomes novos.
Ao lado de figurinhas carimbadas, como Juca Kfouri e Mário Sérgio Cortella, chama a atenção o nome do advogado Marco Aurélio de Carvalho, ninguém mais, ninguém menos, que o coordenador do grupo Prerrogativas. Sim, aquele grupo de WhatsApp que defende as prerrogativas dos corruptos de terem um julgamento ad aeternum, chamando isso de Estado Democrático de Direito. Por que não estou surpreso?
Schopenhauer foi um filósofo cético alemão do século XIX. Uma de suas obras traduzidas no Brasil é um livrinho chamado “Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão”. Ali, o filósofo descreve 38 estratagemas para vencer qualquer debate de maneira fraudulenta.
Lembrei-me de Schopenhauer ao ler duas chamadas de primeira página do Valor de hoje. Na primeira, o CEO da Magazine Luiza diz que “a iniciativa privada não é a solução de todos os problemas”.
Na segunda, um “especialista em desigualdade” afirma ter medo que as políticas neoliberais do governo aumentem a dita-cuja.
Vários estratagemas de Schopenhauer estão presentes. O primeiro e mais óbvio é a “ampliação indevida”, que consiste colocar na boca do adversário uma generalização que ele não fez, para daí refutar toda a tese. Não vi nenhum liberal dizendo, por exemplo, que cada um deve cuidar de sua segurança, como afirma Trajano. Pelo contrário, o Estado deveria sair de atividades empresariais para dedicar-se justamente a campos onde deve ter o monopólio, como a segurança pública. Ao ampliar o escopo falsamente, Trajano frauda a discussão.
Outro estratagema é o “salto indutivo”. A partir de uma premissa particular aceita, assume-se o geral como verdade. Trajano também usa esse estratagema, ao dizer que privatizar a educação é ruim porque ele “não quer ter universidade corporativa”. A premissa é verdadeira, não cabe a uma empresa de um ramo qualquer substituir o papel das universidades, mas daí a deduzir que somente o Estado pode fornecer ensino de qualidade constitui um salto indutivo. Seria como o dono de uma universidade ou escola particular dizer que não quer vender eletrodomésticos em seu estabelecimento, deduzindo daí que só o Estado tem essa capacidade.
Já o nosso “especialista em desigualdade” lança mão da “manipulação semântica” e do “rótulo odioso” como estratagemas. Neste caso, atribui-se ao termo um conjunto de significados que nada tem a ver com o conceito original, mas que prova a tese do argumentador. Assim, o próprio uso do termo serve para ganhar o debate. Isso funciona ainda melhor se o termo for “odioso”. É o caso da palavra “neoliberal”, demonizada por três décadas de doutrinação petista. O neoliberalismo é justamente a mitigação do liberalismo laissez faire, em que se admite que o Estado tem um papel importante na redução da desigualdade das condições iniciais dos agentes econômicos. Assim, as transferências de renda e a educação têm um papel central no neoliberalismo, o justo oposto do que o “especialista em desigualdade” quis dizer ao usar o termo.
Por fim, resta fazer um comentário sobre o fato de um jornal como o Valor Econômico, o maior jornal de finanças do país, estampar em sua capa duas chamadas contra o “liberalismo”. Como se a agenda liberal não estivesse sendo implementada (e mesmo assim muito mal e mal) por absoluta falta de outra alternativa, diante de um Estado que perdeu toda a sua capacidade de exercer minimamente suas funções depois de 30 anos de “políticas distributivas”. O Valor, assim como todos os “especialistas” que execram o liberalismo deste governo, usam o estratagema “uso de premissa falsa” para vencer o debate: a falsa premissa é assumir que a escolha pelo liberalismo é ideológica, e não por necessidade. Sendo ideológica, a coisa fica no “debate das ideias”, enquanto aquilo que não deu certo no passado continua não dando certo no presente e, pelo andar da carruagem, continuará não dando certo no futuro. Como já disse Paulo Guedes mais de uma vez, tentamos políticas social-democratas por 30 anos e não saímos muito do lugar em termos de enriquecimento e distribuição de renda; será que não podemos dar uma pequena chance para o liberalismo?
Agora, imagine o preço que a Venezuela vai conseguir pela sua sucata. Sabendo-se, inclusive, que a chance de uma reestatização hostil mais à frente não é desprezível.
A parte mais interessante, no entanto, é a tela azul no sistema da esquerda. Quero ver alguém defendendo a Petrobrás estatal depois que a PDVSA for vendida.
O trecho abaixo é de um artigo sobre o Fórum Econômico de Davos, com seus muitos discursos e promessas de igualdade, inclusão e consciência ambiental.
Segundo o CEO da BlackRock, um titã do setor financeiro, as novas gerações têm muito mais “compromisso social, ético e ambiental” e, em 10 anos, estarão no poder. Ufa! Então, acabaram-se os nossos problemas, como dizia a propaganda das Indústrias Tabajara. Em 10 anos, esses meninos e meninas estarão ditando as regras, substituindo os atuais dirigentes gananciosos e antiéticos, que só olham para os lucros dos acionistas.
Em 10 anos, já vejo Greta dirigindo uma grande empresa, e finalmente mandando parar as máquinas poluidoras. Afinal, tudo é uma questão de compromisso social, ética e consciência ambiental.
Em 10 anos, vejo esses jovens despreocupados com os balanços das empresas. Na verdade, balanço é algo que fará parte de um passado ganancioso e antiético, onde os dirigentes e acionistas só se preocupavam com os números. Não haverá mais, portanto, divulgação de balanços.
Quando observo os jovens de hoje, vejo como muito plausível esse futuro mais ético e consciente. Afinal, os jovens hoje já abrem mão dos confortos proporcionados pela civilização do petróleo. Quando chegarem ao poder, será fácil “desligar a máquina”, pois já estarão acostumados a viver na sociedade pré revolução industrial. Estou falando, claro, da juventude dos países ricos. A juventude dos países pobres já vive na idade da pedra, essa não sentirá muita diferença.
Enfim, sinto-me muito mais aliviado, sabendo que em 10 anos essa juventude vai mostrar ao mundo o seu valor. Viveremos, aí sim, em um mundo com mais compromisso social, ética e consciência ambiental. Mal posso esperar.
O governo Trump quer que o Brasil seja mais “agressivo” para conter o fluxo imigratório para os EUA.
No mundo, existem somente dois países que controlam de maneira “agressiva” a saída de seus cidadãos de suas fronteiras: Cuba e Coreia do Norte. Será isto que o governo dos EUA está propondo ao Brasil?
Oh! Surpresa das surpresas! Cresceu o apoio do brasileiro ao sistema democrático depois da eleição de Bolsonaro!
Quem lê as “análises” dos “especialistas” chegará à conclusão de que estamos à beira da implantação de um regime totalitário. Mas, vejam só: com Bolsonaro, cresceu o apoio popular à democracia. Como se explica? Simples.
As pessoas, de maneira geral, querem resolver os seus problemas. O regime politico que tornará isso possível pouco importa. Na medida em que as condições de vida pioraram e um esquema gigantesco de corrupção veio à tona, o sentimento geral foi de impotência, diante de uma máquina que tinha como único objetivo alimentar-se a si mesma. Neste contexto, a eleição de Bolsonaro foi vista por uma parcela da população como uma solução possível (um outsider) proporcionada pelo sistema democrático. Assim, a democracia demonstrou que pode encontrar solução para os problemas do povo, sem precisar lançar mão de alternativas autoritárias. Portanto, ganhou apoio.
Bolsonaro tem, portanto, uma grande responsabilidade: continuar demonstrando que a democracia é o pior sistema de governo, com exceção de todos os outros, como disse Churchill. Estará à altura do desafio? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
Nota curiosa: a mesma pesquisa mede a credibilidade das instituições. O Facebook aparece como a segunda instituição menos confiável, só perdendo para os partidos políticos. Nada menos que 81% dos pesquisados dizem não confiar na rede social. Esse número é de 56% quando se trata dos meios de comunicação como um todo. Ou seja, por mais que se queira dizer que o futuro está nas redes sociais, a credibilidade da imprensa editorial ainda não encontrou substituta. As pessoas sabem que o papel (no caso, o computador) aceita tudo, e que comparar rede social com jornal é o mesmo que comparar Wikipédia com a Enciclopédia Britânica. Por isso, a responsabilidade da grande imprensa na sustentação da democracia também é imensa.