Em novembro de 1937, por ocasião da Festa da Bandeira, ocorreu um evento inusitado: a queima das bandeiras estaduais, em uma solenidade oficial presidida pelo então ditador Getúlio Vargas. As bandeiras estaduais haviam sido extintas pela Constituição recém-aprovada, e foram substituídas na solenidade pela bandeira nacional. A ideia era fixar a “unidade nacional” em contraposição à caótica política dos Estados que vigia até então. Conquanto a centralização do poder fosse muito útil a um ditador, também o foi para os presidentes dos períodos democráticos posteriores. Tudo depende de Brasília, Brasília manda no Brasil.
Lembrei disso quando li a notícia de que a nova placa Mercosul passará a ser obrigatória em todo território nacional a partir do dia 31. Não vou aqui discutir a letra no meio dos números, ou a cor da letra que torna difícil sua leitura. Meu ponto é outro.
Essa placa me traz uma profunda tristeza. Quando viajo pelo Brasil, uma das coisas mais interessantes é observar as placas de outros Estados e cidades nos restaurantes de estrada. Puxa, esse veio de Macapá, viajou muito! Nossa, meu vizinho de São Paulo aqui, no Mato Grosso. Também gosto de ver placas de outros lugares aqui na minha cidade, turistas que vieram de carro para cá. Você até pega mais leve no trânsito com forasteiros, afinal, não têm obrigação de conhecer todos os caminhos…
Agora não. Com a nova placa seremos todos Brasil. Ora, eu já sei que somos todos Brasil, não preciso de uma placa para informar isso. O nome “Brasil” na placa é de uma inutilidade atroz, em um país continental onde 99,9% dos motoristas dirigem dentro de suas fronteiras. Perdemos o gostinho do regional em nome de uma “unidade nacional” que até tem o seu sentido, mas não em uma placa de automóvel. A centralização em Brasília ganha mais um componente. Essa nova placa é a queima simbólica das bandeiras dos Estados.