Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, é mais um intelectual a perorar pela união dos “brasileiros de bem” (ele não usa essa expressão, que foi usurpada pelos bolsonaristas, mas o sentido é o mesmo) em “defesa da democracia”. Recortei vários trechos da coluna, porque são uma amostra da miopia dos intelectuais, que ainda não entenderam o que aconteceu, ainda que muito tenham estudado.
Em nenhum momento o colunista cita o Petrolão ou a maior recessão da história do Brasil entre as causas desse estado de coisas. Na verdade, segundo Melo, chegamos onde chegamos por conta de uma “polarização” entre PT e PSDB. Se tivessem se unido (e esse é ainda o sonho de uma noite de verão dos intelectuais de maneira geral e de Melo em particular, como fica claro no final da coluna), não teríamos deixado a democracia brasileira “em perigo”.
Melo acusa este governo de “aparelhar” o Estado para o seu projeto de poder, sem mencionar que se trata apenas de uma reação ao aparelhamento selvagem perpetrado pelo PT.
O colunista também se exaspera contra o mercado financeiro, que teria o dever de refletir os “riscos para a democracia” de um governo autoritário, mas não, faz festa e a bolsa bate recorde atrás de recorde. Diz o colunista que não há resultados econômicos duradouros sem democracia e que o mercado está sendo míope. China e Cingapura, que são tudo menos democracias, devem ser exceções, não é mesmo? De qualquer forma, a “democracia” nos garantiu a maior recessão da história.
E aqui chego ao ponto central do meu post: o povo está se lixando se temos democracia ou autoritarismo. O povo quer comida na mesa e que as coisas funcionem. Os que enchem a boca para pronunciar a palavra “democracia” produziram um sistema de castas protegidas, o maior esquema de corrupção da história e a maior recessão da história. Estamos catando os cacos de tudo isso.
Já disse aqui várias vezes: Bolsonaro não é a doença, é o sintoma. A democracia brasileira está doente não porque Bolsonaro ou seus auxiliares fizeram ou disseram isso ou aquilo. Bolsonaro ganhou a eleição porque a democracia brasileira já estava doente há muitos anos.
Essa história de “entendimento nacional” entre as “forças democráticas” é um papo bonito. Só precisa conferir se o povo pensa da mesma forma.