Em seu artigo semanal, Guzzo toca em um ponto que discuti ad nauseam durante as eleições: a ridícula estratégia de Alckmin durante a campanha. Em uma eleição quase plebiscitária, onde se estava decidindo se o PT deveria ou não voltar ao poder, Alckmin atacava Bolsonaro usando justamente as bandeiras do PT, chamando-o de homofóbico e misógino, ao invés de tentar se colocar como “O” candidato anti-PT. E não adiantava (como não adiantou) dizer que seria o único capaz de bater o PT no 2o turno. Afinal, de que servia ter um candidato como Alckmin no 2o turno, se ele não era um “antipetista de verdade”?
(Só um parênteses: pesava também contra Alckmin o fato de ter uma base de partidos do chamado “centrão” a apoiá-lo, em uma eleição “anti-sistema”. Então, mesmo que tivesse se travestido de “o anti-petista”, acho que não chegaria ao 2o turno. Mas, provavelmente, teria mais do que os 5% de votos que teve. Fecha parênteses).
Não é à toa que Bolsonaro elegeu Witzel e, num segundo plano, Doria, como seus inimigos mortais. As suas diatribes contra os governadores têm, na verdade, esses dois como alvos. Ao contrário de Alckmin, Witzel e Doria, principalmente o primeiro, têm irrefutáveis credenciais anti-petistas. Em uma eleição, disputariam o mesmo eleitor. Huck, por outro lado, representa essa elite de consciência pesada (o que Guzzo chama de “banqueiro de esquerda”) que não vai a lugar algum, como Alckmin não foi.
Mas (e esse mas é importante) ainda estamos a pouco menos de 3 anos das eleições. É uma eternidade. Teremos que ver se o sentimento anti-petista será o principal fator de decisão do eleitor em 2022. Se não for mais, os termos da eleição mudam. Por isso, o Supremo (ao revogar a prisão após condenação em 2a instância), o Papa, a prefeita de Paris e júri do Oscar vêm prestando um grande serviço ao bolsonarismo, ao manter a chama do anti-petismo acesa. Só falta, como cereja do bolo, o Supremo liberar a candidatura do não-proprietário do triplex. Desconfio de que este seja o sonho secreto de Bolsonaro.